Relação entre medicamento e dieta | Colunista

Vamos falar sobre interação fármaco-nutriente, no que consiste na modificação da resposta farmacológica ou clínica de um medicamento devido à administração prévia ou simultânea com um nutriente ou na alteração da atividade do nutriente devido à administração prévia ou concomitante com medicamento, envolvendo processos farmacocinéticos ou farmacodinâmicos. Os nutrientes podem ser componentes dos alimentos ou de suplementos nutricionais. 

Esse tipo de interação tem despertado interesse em pesquisas na área da nutrição com o objetivo de evitar respostas indesejadas à terapia nutricional e/ou medicamentosa; uma vez que tais interações podem trazer prejuízo para o paciente, elevando seu tempo de internação ou levando a modificações/ajustes do seu aporte terapêutico medicamentoso. Além disso, podem ocorrer transtornos no estado nutricional dos pacientes, sobretudo nos idosos, crianças ou aqueles submetidos a tratamentos crônicos e prolongados.

  • Existem classificações das interações fármacos-nutrientes, que são:

 I: Bioinativação, que se refere à interação entre o medicamento e o nutriente por meio de reações bioquímicas ou físicas;

II: Absorção, que afeta a absorção de medicamentos e nutrientes administrados via oral ou enteral, causando aumento ou diminuição da biodisponibilidade;

III: Ação fisiológica, que inclui a modificação induzida por medicamentos no apetite, digestão, esvaziamento gástrico, biotransformação e clearance renal;

IV: Eliminação, ou seja, durante a excreção.

A presença de alimentos no trato digestivo pode reduzir a absorção dos medicamentos. Isso altera a motilidade gástrica, altera o pH gastrointestinal e fornece substâncias para quelação e adsorção de drogas e nutrientes.

Normalmente, quando o alimento está presente no estômago, os medicamentos são absorvidos mais lentamente; muitas vezes, essas interações podem ser evitadas tomando o medicamento 1 hora antes ou 2 horas após a ingestão. 

A administração de medicamentos com as refeições, segundo aqueles que a recomendam, se faz por três razões fundamentais: 

  1. Possibilidade de aumento da sua absorção; 
  2. Redução do efeito irritante de alguns fármacos sobre a mucosa gastrintestinal; 
  3. Uso como auxiliar no cumprimento da terapia, associando sua ingestão com uma atividade relativamente fixa, como as principais refeições (Gai, 1992; Kirk, 1995).

Analgésicos e anti-inflamatórios, por exemplo, são com frequência administrados com alimentos. O objetivo é diminuir as irritações da mucosa gástrica provocadas, principalmente, pela administração destes medicamentos por tempo prolongado. 

Importante! O retardo na absorção de certos fármacos, quando ingeridos com alimentos, nem sempre indica redução da quantidade absorvida. Mas, provavelmente, poderá ser necessário um período maior para se alcançar sua concentração sanguínea máxima, interferindo na latência do efeito. Entretanto, substâncias que se complexam com nutrientes estão frequentemente indisponíveis para absorção (Gai, 1992)

O sistema renal constitui uma das principais vias de excreção de fármacos, sendo importante no processo de interação. O pH urinário sofre variações conforme a natureza ácida ou alcalina dos alimentos ou de seus metabólitos. Assim, dietas ricas em vegetais, leite e derivados elevam o pH urinário, acarretando um aumento na reabsorção de fármacos básicos, como, por exemplo, as anfetaminas. No entanto, com fármacos de caráter ácido, como barbitúricos, verifica-se elevação da excreção. Por outro lado, ovos, carnes e pães acidificam a urina, tendo como consequência o aumento da excreção renal de anfetaminas e outros fármacos básicos (Trovato et al., 1991; Basile, 1994).

Resumindo:

Este fenômeno de interações, quando não detectado, pode desencadear:

  1. Reações adversas a medicamentos;
  2. Deficiências nutricionais;
  3. Falhas terapêuticas; 
  4. Aumento do tempo de internação; 
  5. Custos em saúde. 

Portanto, o conhecimento sobre interações contribui efetivamente na segurança do seu paciente, nutri! Segue uma tabela com alguns medicamentos que têm efeitos sobre nutrientes:

*A depleção de potássio aumenta a suscetibilidade à arritmia cardíaca induzida pela digoxina.

Matérias relaciondas:

Referências: 

Santiago, Y. D., Pires, B. R. F., Belfort, I. K. P., & Monteiro, S. C. M. (2021). Potenciais interações fármaco-nutriente em pacientes pediátricos de um Hospital Universitário. Saúde e Pesquisa14(1), e7775-e7775.

MOURA, Mirian Ribeiro Leite, & REYES, Felix Guillermo Reyes. (2002). Interação fármaco-nutriente: uma revisão. Revista de Nutrição15(2), 223-238.https://doi.org/10.1590/S1415-52732002000200011

Adrienne Youdim, M. D. (Maio de 2019). Interações fármaco-nutriente. Fonte: Manual MSD Versão para Profissionais de Saúde. Disponível em :<https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-nutricionais/nutri%C3%A7%C3%A3o-considera%C3%A7%C3%B5es-gerais/intera%C3%A7%C3%B5es-f%C3%A1rmaco-nutriente#>. Acesso em: 16 abril 21.

Por Sanar

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