Saúde mental se difere de doença mental, importante haver esta diferenciação como início de análise.
Ao falarmos sobre saúde mental o cenário é mais amplo, pois vai além das doenças, é conseguir lidar com as emoções e variáveis da vida de modo equilibrado, manejando conflitos, transições, oscilações, traumas e experiências variadas.
Com o transcorrer da pandemia, diversos artigos e matérias chamaram a atenção sobre o aumento da dificuldade, em termos globais, da manutenção da saúde mental, o que demonstra a relevância de abordar o papel da Nutrição, como meio de auxílio à população.
De acordo com dados divulgados pela Fiocruz (2020) em pesquisa comparativa entre Brasil e Espanha, no tocante aos sintomas de ansiedade e depressão, resultou que ambas as condições afetam 47,3% dos trabalhadores de serviços essenciais durante a pandemia de Covid-19, no Brasil, sendo que 27,4% do total de entrevistados sofre de ansiedade e depressão conjuntamente.
Além disso, 44,3% têm abusado de bebidas alcoólicas; 42,9% sofreram mudanças nos hábitos de sono; dieta e nutrição também foram fatores abordados.
O vínculo entre a Nutrição e a saúde mental, já em 2015, contou com um consenso científico, através de publicação na revista The Lancet Psychiatry.
Na publicação, é relatado o papel da nutrição como crucial na alta prevalência e incidência de transtornos mentais; ressaltando que a Nutrição não é apenas essencial para às áreas como cardiologia, endocrinologia e gastroenterologia, como igualmente à psiquiatria.
Dentre os biomarcadores associados com a inflamação, de acordo com WU (2006) atuam, por categorias, as citocinas pró-inflamatórias, citocinas anti-inflamatórias, adipocinas, chemocinas, marcadores de inflamação derivados de hepatócitos, marcadores de conseqüência da inflamação e enzimas.
As citocinas pró-inflamatórias de maior relevância são a interleucina-6 (IL-6), o fator de necrose tumoral-a (TNF-a), a interleucina-8 (IL-8), a interleucina-1b (IL-1b) e as CD40 e CD40L.
Fatores como composição corporal, IMC, peso, estatura, dobras cutâneas e perímetro da cintura são utilizados para avaliação estudos com marcadores inflamatórios, além dos bioquímicos.
O Congresso Internacional de Psiquiatria (WCT, 2019) igualmente abordou a possível relação entre o transtorno bipolar (TB) e transtorno depressivo maior (TDM) com biomarcadores inflamatórios.
Pesquisas em torno da temática Psiquiatria Nutricional relatam que a dieta mediterrânea pode significar melhora do quadro inflamatório, bem como ofertar nutrientes para o bom funcionamento cerebral.[mu5] [FR6]
A Federação Nacional das Associações e Entidades de Diabetes, em seu site, reuniu estudos do papel da dieta mediterrânea e a prevenção da depressão e funções cognitivas, na qual alimentos como consumo moderado de peixes, azeite, castanhas, nozes, fruta, verduras e legumes e baixo consumo de carne vermelha, queijos e iogurtes gordurosos na dieta demonstraram redução de risco de distúrbios.
Uma vez que o estado inflamatório é uma das razões de associação entre a saúde mental e a alimentação, é relevante destacar que os estudos realizados pela Nutrinet Brasil, de 2021 nos apresenta.
É de conhecimento geral que alimentos ultraprocessados podem ocasionar inflamação, além de contribuir para o surgimento de doenças, favorecendo o desenvolvimento das DCNTs – doenças crônicas não transmissíveis.
Observa-se a tendência, de novos estudos científicos, nesta direção, associando as doenças mentais e a alimentação – tanto no que se refere ao papel dos nutrientes quanto à inflamação. Dentre os nutrientes, que podem modular os processos inflamatórios considera-se o equilíbrio entre o consumo de ômega 3 e 6, compostos fenólicos, carotenóides, vitamina C e vitamina E, zinco e selênio,por exemplo.
É provável que com novas pesquisas, outros benefícios relevantes possam emergir, demonstrando que pela alimentação saudável e equilibrada, pacientes se beneficiam de sintomas de ordem mental, favorecendo a saúde como um todo.
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Referências Bibliográficas:
SARRIS, Jerome et.al. Nutritional medicine as mainstream in psychiatry. The Lancet Psychiatry, 2015.DOI:https://doi.org/10.1016/S2215-0366(14)00051-0 https://www.thelancet.com/journals/lanpsy/article/PIIS2215-0366(14)00051-0/fulltext
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