O trabalho do nutricionista e a interação em equipe multidisciplinar no âmbito hospitalar | Colunista

Na atualidade, a ciência da nutrição tem sido reconhecida como uma importante área na promoção à saúde e garantia de qualidade de vida para pessoas saudáveis ou convalescentes. Assim, vem apresentando um crescimento importante, com consequente conquista de um espaço no mundo científico. Dentre as diversas áreas de prática profissional do nutricionista, destaca-se a nutrição clínica desenvolvida em diversas entidades, entre elas os hospitais.

O nutricionista clínico tem como competências: prestar assistência nutricional e dietoterápica; promover educação nutricional; prestar auditoria, consultoria e assessoria em  nutrição e dietética; planejar, coordenar, supervisionar e avaliar estudos dietéticos; prescrever suplementos nutricionais; solicitar exames laboratoriais; prestar assistência e treinamento especializado em alimentação e nutrição a coletividades e indivíduos, sadios e enfermos.

O ambiente hospitalar tem como principal objetivo a recuperação da saúde, por meio de uma atenção integral prestada por diferentes profissionais de saúde. 

Nas múltiplas dimensões da área da saúde nenhum profissional de forma isolada tem a capacidade de realizar a totalidade das ações para a recuperação do paciente, por este motivo a união de diferentes profissões se faz necessária neste ambiente.

Cada especialidade possui saberes específicos a sua área de atuação, e no trabalho  em equipe a tomada de decisões deve ser realizada de forma compartilhada, onde cada profissional realiza as suas contribuições para o bom andamento do serviço de saúde.

TRABALHO EM EQUIPE MULTIPROFISSIONAL

             O trabalho em equipe multidisciplinar é uma modalidade de trabalho coletivo realizada por profissionais de diferentes áreas, expertises e qualificações, com formações específicas, mas que se complementam e   interagem entre si, por meio da comunicação efetiva e cooperação para a identificação das necessidades dos pacientes e a integração da assistência prestada.

A implementação desta modalidade de trabalho ocorreu na década de 80 e trouxe como principais benefícios o melhor planejamento de tarefas, com redução da duplicidade de serviços, o estabelecimento de prioridades e menor número de intervenções desnecessárias por ausência de comunicação entre os profissionais.

Todavia, posteriormente, conheceram-se também diversas dificuldades relacionadas a esta forma de trabalho, como a intensa divisão técnica do trabalho, com foco no trabalho individualizado e a compartimentalização do saber na formação acadêmica, com prevalência de saberes específicos, com reprodução de um modelo de cuidado fragmentado, que desfavorece a interação entre estudantes de diferentes profissões, tendo como consequências profissionais, a atuação isolada e a dificuldade para o trabalho em equipe.

Participar de uma equipe que atue de forma integrada é um privilégio, entretanto trabalhar numa equipe sem nenhuma interação é um grande desafio. Entre os vários fatores que dificultam a realização de um trabalho integrado pode-se citar:

◼ Interesses pessoais 
◼ Comunicação ineficiente
◼ Ausência de foco nas necessidades de saúde dos pacientes
◼ Desconhecimento do trabalho dos demais membros da equipe
◼ Desconsideração das experiências e saberes de cada membro da equipe 
◼ Mera passagem de informação que exclui a possibilidade de troca entre os profissionais

Diante deste cenário é importante que gestores e gerentes de instituições de saúde invistam em um modelo de organização dos serviços, que favoreça a conscientização e sensibilização das diversas profissões sobre a necessidade e os benefícios do trabalho integrado. 

A realização de reuniões de equipe com uma frequência determinada, com duração e local definidos, pode ser um dos dispositivos que favoreça essa integração, além da iniciativa dos próprios profissionais em tentar estabelecer um diálogo mais próximo a outras especialidades. 

O NUTRICIONISTA E A INTERAÇÃO EM EQUIPE MULTIPROFISSIONAL

No âmbito hospitalar a equipe multiprofissional geralmente é composta por assistente social, enfermeiro, farmacêutico, fisioterapeuta, fonoaudiólogo, médico, nutricionista e psicólogo. Em alguns serviços o odontólogo e o terapeuta ocupacional também compõem a equipe.

O profissional nutricionista é um dos profissionais responsáveis pelo cuidado nutricional e presta atendimento ao paciente desde o momento de admissão  na unidade hospitalar até a alta hospitalar.Seu trabalho tem como principal objetivo  garantir uma alimentação adequada em nutrientes para  a melhora do estado clínico e nutricional dos pacientes.

No dia a dia de uma unidade hospitalar os profissionais de saúde tem a oportunidade  de discutir de forma individualizada com as diversas especialidades, e em alguns serviços as discussões são realizadas diariamente nas visitas multiprofissionais, com a participação dos membros da equipe. Nestas visitas o quadro clínico e os desfechos de cada paciente são apresentados e os profissionais tem a oportunidade de apresentar suas considerações e sugestões sobre o que foi avaliado no paciente.

Estas oportunidades para discussão são importantes por permitir o alinhamento de  diferentes pontos de vista, com o objetivo de favorecer o processo de recuperação dos pacientes, no entanto nem todos os serviços possuem como rotina a realização destas visitas, e mesmo que não ocorram, os profissionais podem interagir entre si no dia a dia.

Para que fique mais claro a forma como a interação entre os diferentes profissionais pode ocorrer, alguns exemplos de situações que      ocorrem no ambiente hospitalar serão expostas a seguir:

❶ Se um paciente com doença neurológica é admitido numa enfermaria é importante considerar o risco de broncoaspiração, que é inerente ao diagnóstico, sendo mais seguro o nutricionista discutir o caso com o fonoaudiólogo, para que seja realizada uma avaliação por  este profissional para a definição de uma via alimentar segura ou a consistência alimentar mais adequada se a via oral for indicada.

❷ Um paciente na UTI está em uso de nutrição parenteral, por contraindicação ao uso do trato gastrintestinal, e o nutricionista verificou em seu exame laboratorial, um aumento significativo do fósforo. Na visita multiprofissional, o nutricionista expos a necessidade de alteração da composição da nutrição parenteral, e dicutiu com médico e farmacêutico para verificar a possibilidade de retirada do fósforo desta formulação parenteral.

❸ Uma paciente adolescente tem recusado tomar banho, além de não aceitar a maioria das refeições, apesar de todas as adaptações alimentares realizadas. A enfermeira e a nutricionista percebem que a paciente encontra-se chorosa por estar internada. Diante das circunstâncias as profissionais discutem o caso com a mãe da adolescente e o psicólogo, que inicia um trabalho diário com a paciente.

❹ Se um paciente em TNE (Terapia Nutricional Enteral) for reavaliado pela fonoaudiologia e  indicado iniciar a alimentação por via oral, o fonoaudiólogo discute o caso com o nutricionista, e a consistência recomendada é liberada pelo nutricionista, porém se a aceitação alimentar deste paciente se mantiver baixa, o nutricionista deve conversar com o fonoaudiólogo e com o médico e solicitar que a sonda nasoentérica não seja retirada naquele momento, pois a ingestão alimentar ainda é insuficiente para suprir as necessidades do paciente.

❺  Um paciente com doença crônica em TNE está em programação de alta hospitalar, a sua  situação socioeconômica é desfavorável, o custo com insumos e medicamentos será alto e haverá necessidade de uso de algum equipamento específico em domicílio, como por exemplo um CPAP. Será de suma importância que nutricionista, enfermeiro, fisioterapeuta, médico e assistente social discutam o caso. Muitas vezes a UBS (Unidade Básica de Saúde) que acompanha o paciente também deve ser envolvida no caso, para tentar viabilizar meios para suprir as necessidades do paciente em domicílio.

Por meio destes exemplos é possível perceber a importância dos diversos profissionais de saúde e de sua interação no dia a dia de uma enfermaria ou unidade de internação. Todo conhecimento e expertise de cada profissão é importante em cada campo  de atuação, porém a união destes conhecimentos, por meio da interação entre os profissionais qualifica o trabalho prestado.

A integração no trabalho em equipe tem sido apontada como a mais adequada para atingir melhores resultados, partindo do ponto de que quanto mais mentes se unem para atingir um mesmo objetivo, organizando suas tarefas, consequentemente mais soluções satisfatórias tendem a ser desenvolvidas, com consequente aumento da qualidade da atenção à saúde.

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REFERÊNCIAS

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