1. Conceituando a pandemia do Coronavírus:
Em 2019, na cidade chinesa Wuhan, foi identificado uma síndrome respiratória decorrente do novo coronavírus, denominada COVID-19 (3). A rápida propagação e falta de conhecimento sobre o vírus levou a Organização Mundial de Saúde (OMS) a declarar, a partir de março de 2020, como pandemia (3).
Dados de julho de 2020, mostram uma taxa de infecção de 3,8% na população brasileira, considerando 133 cidades do país, e de 1% a taxa de mortalidade. Também vale ressaltar que devido a subnotificação, a prevalência pode chegar até o quádruplo desses valores (9).
Dentre as medidas preventivas, também estabelecidas, neste mesmo período, pela OMS, enquadram-se o isolamento social – deve ser realizado por pessoas com suspeita ou confirmação da infecção. Com isso, se tratando da saúde mental, os quadros de solidão, depressão e ansiedade aumentaram (8).
2. Consequências do isolamento social e quarentena relacionados à saúde:
O cenário mundial se transformou em: redução da atividade física – devido ao fechamento das academias e atividades similares -, aumento do tempo sentado – devido ao trabalho remoto -, segundo estudo, em 50% da população (independente de idade e sexo) (10).
Ainda, houve aumento do número de usuários e de pedidos em plataformas de delivery, respectivamente, de 155% e 975%, em relação ao ano anterior; Principalmente nas regiões Norte e Nordeste, comidas industrializadas e processadas foram as mais pedidas (11).
E como isso implica nos hábitos alimentares?
Um dos sintomas da ansiedade é o aumento do apetite, principalmente relacionada ao consumo de alimentos fontes de gordura, sal e açúcar refinados – classe de alimentos que despertam prazer a curto prazo. Este processo é uma consequência da desregulação do eixo hipotálamo-pituitária-adrenal (HPA) (6).
A prática de atividade física aumenta o gasto energético e a liberação de dopamina e endorfina gerada contribui para a atenuação dos sintomas de depressão e ansiedade, portanto, facilita escolhas alimentares mais benéficas (5).
Por último, e não menos importante, relatos de pacientes em consultório revelam que a adaptação à rotina de trabalho remoto e precisar dar maior atenção aos filhos
trazem sentimentos como cansaço, estresse e tensão, com redução de horas dormidas e sensação de sono reparador. O resultado destas situações é menor tempo e vontade de preparo de alimentos, o foco é sempre praticidade e busca momentânea por sensação de prazer e relaxamento (7).
3. Como o nutricionista deve agir, em consultório, com o público atual?
O perfil encontrado nos consultórios, em sua maioria, são pacientes acima do peso, sedentários, frustrados e desmotivados. A consulta deve buscar acolher o paciente, ouvir suas queixas e dificuldades para conseguir definir a conduta.
Os aspectos a serem observados na definição da conduta nutricional não diferem do habitual:
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Psicológico do paciente
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Hábitos alimentares
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Praticante de atividade física
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Presença de disbiose
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Patologias – pregresso e atual
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Qualidade do sono
O foco principal deve ser reverter o ganho de peso, mas atenção à restrição alimentar severa que pode gerar um quadro rebote de compulsão alimentar, principalmente quando vinda de carboidratos, por: alteração nas vias oxidativas, mudanças drásticas na disponibilidade de glicose e neurotransmissores cerebrais que acarreta em variações dos hormônios relacionados à sensação de fome e saciedade (leptina e insulina) (1). Por isso, se pergunte: low carb é realmente a melhor estratégia? Já há comprovação científica que visando a perda de peso, não há diferença significativa entre as estratégias de redução de carboidrato e redução de gordura, o que comanda, primeiramente, é o déficit calórico (2).
O que a literatura traz, é o que aplico em consultório: focar em nutrientes que vão garantir saciedade e recuperação e/ou melhora do ritmo intestinal, como as fibras (13) e proteínas, substituição de carboidratos simples por complexos, estímulo ao gosto amargo (para reduzir vontade de doce), consumo hídrico adequado (ajuda a desinchar e não há tanta confusão entre desidratação e fome), rotina de sono, déficit calóricos moderados, negociação com alimentos mais prazerosos e menos nutritivos (não restringe, mas controla frequência e quantidade) e metas (voltar a atividade física, reduzir pedidos delivery, entre outros), mas acima de tudo, o déficit calórico deve ser mantido (14).
Além disso, por se tratar de uma infecção viral, o foco deve estar em alimentos fontes de vitaminas associadas a imunidade: vitamina A, vitamina C, vitamina D, ferro e zinco (12).
Suplementos podem ser benéficos, mas antes deles, tenham certeza de que o básico está sendo feito de forma constante e eficiente. Para isso, busque incentivar o seu paciente, explique o seu plano de ação, o motivo para fazê-lo e mostrar as consequências que os hábitos não saudáveis podem trazer a longo prazo.
REFERÊNCIA
1. BERNARDI, Fabiana; CICHELERO, Cristiane; VITOLO, Márcia Regina. Comportamento de restrição alimentar e obesidade. Rev. Nutr., Campinas , v. 18, n. 1, p. 85-93, Fev. 2005 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-52732005000100008&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 18 Abril 2021 http://dx.doi.org/10.1590/S1415-52732005000100008.
2. Brazilian archives of endocrinology and metabolism. São Paulo. v. 53, n. 5, jul. 2009, p. 673-687. Acesso em: 18 Abril. 2021. https://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/40068 .
3. Centers for Disease Control and Prevention. (2020a). Social distancing, quarantine, and isolation: keep your distance to slow the spread. Março 2020. http://www.cdc.gov/coronavirus/2019-ncov/prevent-getting-sick/social-distancing.html.
4. Centers for Disease Control and Prevention. (2020b). Severe outcomes among patients with Coronavirus Disease 2019 (COVID-19): United States, February 12-March 16, 2020. Morbidity and Mortality Weekly Report, v. 69(12), p. 343-346. Março 2020. https://doi.org/10.15585/mmwr.mm6912e2.
5. Jiménez-Pavón, D., Carbonell-Baeza, A., & Lavie, C. J. (2020). Physical exercise as therapyto fight against the mental and physical consequences of COVID-19 quarantine: Special focus in older people. Prog Cardiovasc Dis. v. 63(3), p. 386. doi: 10.1016/j.pcad.2020.03.009.
6. JURUENA, Mario F; CLEARE, Anthony J.; PARIANTE, Carmine M.. O eixo hipotálamo-pituitária-adrenal, a função dos receptores de glicocorticóides e sua importância na depressão. Revista Brasileira de Psiquiatria, Londres, v. 3, n. 26, p. 189-201, mar. 2004. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/rbp/v26n3/a09v26n3. Acesso em: 18 abr. 2021.
7. KAUFMAN, Arthur. Alimento e emoção. ComCiência [online]. 2013, n.145, pp. 0-0. ISSN 1519-7654.
8. Owen et al, 2010 – Owen, N., Sparling, P. B., Healy, G. N., Dunstan, D. W., Matthews, C. E.(2010). Sedentary behavior: Emerging evidence for a new health risk. Mayo Clin Proc., v. 85(12), p. 1138–1141.
9. TINNA OLIVEIRA (Brasil). Conselho Nacional de Secretários de Saúde. Concluída a maior pesquisa brasileira sobre a COVID-19. 2020. Disponível em: https://www.conass.org.br/concluida-a-maior-pesquisa-brasileira-sobre-a-covid-19/. Acesso em: 05 maio 2021.
10. BOTERO, João Paulo et al. Impacto da permanência em casa e do isolamento social, em função da COVID-19, sobre o nível de atividade física e o comportamento sedentário em adultos brasileiros. Einstein (São Paulo), São Paulo, v. 19, eAE6156, Março 2021. Acesso em: 05 Maio 2021. <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-45082021000100900&lng=en&nrm=iso>
11. JORNAL DA USP (São Paulo). Delivery transformou tendência em necessidade e continua em crescimento. 2021. Acesso em: 05 maio 2021.
https://jornal.usp.br/atualidades/delivery-transformou-tendencia-em-necessidade-e-continua-em-crescimento/.
12. DUTRA, Annieli de Fatima de Fatima de Oliveira; DIAS, Ana Débora Cordeiro; ARAðJO, Débora Gomes de Sousa; SILVA, Edvânia Medeiros da; SILVA, Ian Marlon Farias e; GOMES, Lívia Morgana de Freitas. A IMPORTÂNCIA DA ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL E ESTADO NUTRICIONAL ADEQUADO FRENTE A PANDEMIA DE COVID-19 / THE IMPORTANCE OF HEALTHY EATING AND ADEQUATE NUTRITIONAL STATUS IN THE FACE OF THE COVID-19 PANDEMIC. Brazilian Journal Of Development, [S.L.], v. 6, n. 9, p. 66464-66473, 2020. Brazilian Journal of Development. http://dx.doi.org/10.34117/bjdv6n9-181.
13. BERNAUD, Fernanda Sarmento Rolla; RODRIGUES, Ticiana C.. Fibra alimentar: ingestão adequada e efeitos sobre a saúde do metabolismo. Arq Bras Endocrinol Metab, São Paulo , v. 57, n. 6, p. 397-405, Agosto. 2013 . Acesso em: 05 Maio 2021. <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0004-27302013000600001&lng=en&nrm=iso>
14. ALMEIDA, Jussara C. de. Revisão sistemática de dietas de emagrecimento: papel dos componentes dietéticos. Arq Bras Endocrinol Metab. Porto Alegre, p. 673-687. jun. 2009. Disponível em: Revisão sistemática de dietas de emagrecimento: papel dos componentes dietéticos. Acesso em: 05 maio 2021.