Importância da promoção a saúde bucal para pessoas com deficiência

São consideradas com deficiência severa visual, auditiva e motora as pessoas que declararam ter grande dificuldade ou que não conseguem ver, ouvir ou se locomover de modo algum, e para aquelas que declararam ter deficiência mental ou intelectual. Os resultados do Censo Demográfico 2010 apontaram 45.606.049 milhões de pessoas que declararam ter pelo menos uma das deficiências investigadas, correspondendo a 23,9% da população brasileira (IBGE, 2010).

As pessoas com deficiência apresentam necessidades de cuidado em saúde bucal e enfrentam dificuldades para encontrar os serviços apropriados às suas demandas como barreiras arquitetônicas, limitações financeiras, medo, ignorância ou negligência em relação à saúde bucal e, principalmente, carência de profissionais qualificados e interessados em tratar tais pacientes (CARDOSO et al., 2011).

Estudos que analisam o perfil de saúde bucal de pessoas com deficiência indicam elevados índices de cárie, edentulismo, traumatismo e de doença periodontal decorrente de uma higiene bucal precária, além das características bucais próprias de cada síndrome (NUNES et al., 2017).

Diante disso, contatou-se uma deficiência em ações promocionais na área de odontologia com essas pessoas. Assim, é vislumbrada a possibilidade de incluí-los socialmente na área da saúde bucal, através de uma ação crítico-inclusiva, por meio de projeto de extensão, realizado na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE)- Recife.

Nesta perspectiva, foi criado um roteiro instrutivo para os pacientes assistidos pela APAE e seus acompanhantes, onde de forma lúdica e dinâmica mostramos a importância dos cuidados bucais e a forma correta de realizá-los, buscando sempre responder a dúvidas existentes. Tendo, como objetivo final, aproximar o indivíduo das temáticas de higiene e incluí-lo socialmente, com vista a reduzir seus danos bucais.

DISCUSSÃO

O projeto surpreendeu, pois, por meio desse, foi possível observar que, a maioria dos pais, responsáveis e até mesmo dos pacientes, tinham ciência que a higienização bucal é importante. Entretanto, com a dificuldade que enfrentavam diariamente e pela falta de conhecimento adequado, acabavam deixando em segundo plano a saúde bucal.

Além disso, a alimentação dos pacientes era composta em grande parte por carboidratos e comidas com bastante açúcar, como balas, refrigerantes e chocolate, pois segundo os pais e acompanhantes esses alimentos “acalmam os ânimos” dos pacientes.

Apesar de dores e infecções bucais terem o potencial de agravar a condição sistêmica do paciente com deficiência, infelizmente a saúde bucal ainda é vista com baixa prioridade quando comparada aos demais cuidados médicos dedicados a estes indivíduos (FREIRE, 2011).

Segundo o Ministério da Saúde (2019) uma boa higiene bucal é um componente fundamental para um bom prognóstico do tratamento, sendo que sua correta realização pela pessoa com deficiência requer motivação e aprendizado. Uma das possibilidades para esse aprendizado é o desenvolvimento de atividades de escovação dental supervisionada (EDS).

A atividade de EDS objetiva a prevenção da lesão de cárie dentária e da gengivite. Tal escovação deve ser adequada à motricidade. As orientações sobre a higiene bucal, cuja finalidade é a busca da autonomia, devem ser repassadas à pessoa com deficiência e, quando possível, ao acompanhante, cuidador ou responsável. Recomenda-se a remoção do biofilme dentário e a aplicação tópica de flúor (ATF) (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2019).

Objetivando essas recomendações, o projeto contou com palestras que foram de fundamental importância para o esclarecimento de dúvidas, demonstração de técnicas de escovação, entrega de escovas e aplicação de flúor nos pacientes. Dessa forma, além da teoria ministrada, os pais e acompanhantes puderam visualizar como realizar a escovação e que fazer dela uma rotina não seria complexo.

A prevenção de doenças bucais, principalmente a cárie dentária e a periodontal, deve ser uma atitude enfática e relevante ao cuidar da pessoa com deficiência. Alterações na coordenação motora, deficiências intelectuais, más formações físicas, entre outras, podem acarretar complicações na manutenção de uma boa saúde bucal e, por isso, ações preventivas tornam-se fundamentais.

Dedeiras de acrílico para a manutenção da boca do usuário aberta para realização da técnica de escovação; abridores de boca adaptados, confeccionados com espátula de madeira e gaze; passa fio e fio dental especial são outros materiais importantes na remoção do biofilme das superfícies dentárias (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2019).

Deve-se também reforçar as orientações sobre o controle dietético, principalmente de açúcares, no que se refere à prevenção de lesões de cárie. É importante orientar que algumas medicações podem causar a diminuição do fluxo salivar, o qual pode culminar também no aparecimento de lesões de cárie dentária, desconforto, devido ao ressecamento, irritação da mucosa bucal, além de doenças periodontais.

Em geral, as pessoas com deficiência precisam de incentivo e apoio para iniciar e dar continuidade ao tratamento odontológico, sendo fundamental a participação dos cuidadores ou responsáveis em todas as fases do tratamento, desde as ações de promoção da saúde e prevenção de doenças até à execução do plano de tratamento, qualquer que seja a complexidade (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2019).

Se a dieta é baixa nos nutrientes necessários ao corpo, a boca poderá ter maior dificuldade ao resistir a infecções oportunistas. Porém uma dieta ruim pode levar a doença periodontal e doença cárie. Alimentos com alto teor de carboidratos, açúcares e amido contribuem grandemente com a produção de ácidos que atacam o esmalte do dentário. Portanto é necessário a orientação de um profissional capacitado para que os responsáveis se conscientizem da importância de uma boa nutrição e a higiene bucal do paciente (Moreira et al., 2019).

A intervenção comportamental por meio de estratégias de exposição do alimento deve ser incluída na rotina alimentar, como dispor os alimentos perto da criança na hora da refeição, mostrar o alimento a criança e estimular que ela toque ou cheire o mesmo. Contudo o estabelecimento de um novo plano alimentar requer esforços da família para que a criança aceite as modificações propostas, com respeito a cultura, as preferências e as condições financeiras que reforço os relatos dos estudos (Moreira et al, 2019).

A Constituição Brasileira de 1988 estabelece, no seu Artigo 196, que o Estado deve não apenas garantir serviços públicos de promoção, proteção e recuperação da saúde, mas adotar políticas econômicas e sociais que melhorem as condições de vida da população, evitando-se, deste modo, o risco de adoecer. Ter acesso à saúde é um direito de todos os cidadãos brasileiros (FREIRE, 2011).

A melhoria da higiene, campanhas de sensibilização sobre prevenção oral, melhor entendimento do papel dos alimentos e especialmente os hidratos de carbono nas doenças orais, a multiplicação de medidas de prevenção personalizadas, são atualmente os melhores métodos ao serviço da saúde oral. É por isso que o dentista tem a capacidade de integrar a prevenção nutricional na prática de sua arte, e é fundamental que o faça (DULIÈRE, 2019).

Nos projetos de extensão voltados para pacientes com necessidades especiais, a melhor tecnologia empregada é a que se volta para as relações interpessoais com acolhimento e vínculo. Atividades como promoção e prevenção em saúde oral, atividades educativas junto aos pais e/ou cuidadores dos pacientes especiais, além de desenvolvimento de técnicas específicas, garantem uma melhoria da qualidade de vida dentre os pacientes (OLIVEIRA et al, 2015).

Ações de educação em saúde devem ser recomendadas aos responsáveis ou cuidadores desde o nascimento da criança, para que esta se torne um adulto com a melhor condição de saúde bucal possível (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2019).

CONCLUSÃO

A carência de atividades promotoras de saúde bucal na área de pacientes com deficiência nos encoraja a buscar formas de incluir essas pessoas no contexto da promoção de saúde. Visto que a importância de condutas preventivas é necessária para todos os indivíduos, mas em especial para estes, devido às dificuldades encontradas para os tratamentos odontológicos eletivos.

A atuação de uma equipe multidisciplinar é essencial no tratamento desses pacientes, uma vez que sua atuação na prevenção e tratamento das doenças da cavidade oral é um grande ganho na vida e bem-estar desses indivíduos.

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REFERÊNCIAS

CENSO, I. B. G. E. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Fornecido em meio eletrônico: [www. ibge. gov. br/home/estatistica/populacao/censo2010]. Acessado em, v. 20, n. 03, p. 2012, 2010.

CARDOSO, Andreia Medeiros Rodrigues et al. O acesso ao cuidado em saúde bucal para crianças com deficiência motora: perspectivas dos cuidadores. Pesquisa Brasileira em Odontopediatria e Clínica Integrada, v. 11, n. 4, p. 593-599, 2011.

DULIÈRE, Anne-Béatrix Marie Sibylle. Alimentação e saúde oral. 2019. Tese de Doutorado.

FREIRE, Ana Lucia Araujo et al. Saúde bucal para pacientes com necessidades especiais: análise da implementação de uma experiência local. 2011. Tese de Doutorado.

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Guia de atenção à saúde bucal da pessoa com deficiência. Secretaria de Atenção Especializada à Saúde e Secretaria de Atenção Primária à Saúde, 1º edição. Brasília, 2019.

MOREIRA, Ernesto Luiz Muniz; MOREIRA, Lucia de Fátima Rodrigues; DONOSO, Miguir Terezinha Vieccelli. A questão do portador de necessidades especiais: uma reflexão. Revista Mineira de Enfermagem, v. 11, n. 4, p. 461-464, 2007.

MOREIRA, Thais Souza et al. Nutrição do paciente TEA relacionado a doença cárie, 2019.

NUNES, Raíssa et al. Prevalência de alterações bucais em pessoas com deficiência na clínica da universidade do extremo sul catarinense. Revista de Odontologia da Universidade Cidade de São Paulo, v. 29, n. 2, p. 118-128, 2017.

OLIVEIRA, Juliana Santos et al. Promoção de saúde bucal e extensão universitária: novas perspectivas para pacientes com necessidades especiais. Revista da ABENO, v. 15, n. 1, p. 63-69, 2015.

ZHOU, N. et al. Oral health status of children and adolescents with intellectual disabilities: a systemat icreview and meta-analysis. Develop mental. Medicine and Child Neurology, Londres, v. 59, n. 10, p. 1019-26, 2017.