Desmitificando O Tratamento Da DTM

Você tem disciplina de Disfunção Temporomandibular (DTM) na faculdade? Você sabe como abordar seu paciente e quais os tratamentos mais utilizados?
Muitos estudantes relatam dificuldades ao se deparar com casos de dtm, e acabam sempre apelando para a famosa “plaquinha”, mas ela é apenas uma das diversas possibilidades de tratamento. Neste texto, vamos abordar o que há de mais eficiente no tratamento não invasivo de dtm, com todos dados baseados em estudos e evidências científicas, a fim de esclarecer as principais dúvidas a cerca do assunto e aprofundar o conhecimento sobre tais tratamentos. Boa leitura e bons estudos!

A disfunção temporomandibular é um termo genérico utilizado para descrever disfunções relacionadas à articulação temporomandibular (ATM), aos músculos mastigatórios e estruturas associadas, a sintomas comuns de dor e funções irregulares ou limitadas da mandíbula.
Traumas, ausência dentária e uso de próteses, estão dentre os seus fatores desencadeantes, além de hábitos parafuncionais, como bruxismo e onicofagia, podendo ser originada por associações entre fatores posturais, estruturais e psicológicos. A frequência e a intensidade das atividades parafuncionais podem ser intensificadas por estresse, nervosismo e ansiedade, gerando uma piora considerável e contribuindo para sua cronificação; Estudos ressaltam que tensões emocionais, ansiedade profundamente estabelecida e agressividade reprimida podem levar ao hábito disfuncional de apertar, ranger e deslizar os dentes, o famoso bruxismo!

Os danos que o bruxismo pode acarretar às articulações temporomandibulares e ao sistema estomatognático como um todo, decorrem da contração muscular por tempo prolongado, que ocorre durante os momentos de atividade parafuncional, e da força aplicada sobre a superfície oclusal, que é em torno de seis vezes maior do que a que ocorre nos movimentos fisiológicos.
Devido à sua etiologia multifatorial, seu tratamento deve ser multidisciplinar, envolvendo, além do cirurgião-dentista, profissionais como fonoaudiólogos, psicólogos, otorrinolaringologistas e fisioterapeutas, sendo fundamental avaliar cada paciente individualmente, a fim de um correto diagnóstico e uma melhor abordagem terapêutica. Diversos tratamentos podem ser empregados na busca de uma redução significativa ou completa da dor, entretanto, as terapias de primeira escolha são as reversíveis e não invasivas. Nesse sentido, vamos abordar em tópicos as técnicas que apresentam maior êxito:

 

  • Acupuntura: A acupuntura se destaca como uma intervenção comumente utilizada para aliviar a dor e desconforto associados à dor miofacial, sendo uma ferramenta importante no manejo da sintomatologia dolorosa da dtm em virtude da sua capacidade de atuar em nível de sistema nervoso central, aumentando o aporte sanguíneo da região e liberando opióides endógenos. A técnica consiste na utilização de agulhas descartáveis muito finas, aplicadas em pontos específicos, estudos revelam que sua aplicação deve ser de no mínimo 30 minutos e são necessárias de 6 a 8 sessões.
     
  • Placas Oclusais (PO) ou Miorrelaxantes: A PO é uma opção conservadora, de baixo custo, com facilidade de uso por parte do paciente, que simula uma oclusão ideal. Seu uso tem como objetivo desprogramar a musculatura mastigatória tensa e promover uma posição condilar mais estável e funcional, tem como resultado a diminuição da sintomatologia dolorosa e melhor desempenho na performance mandibular, melhorando, inclusive, a amplitude e padrão de abertura bucal do paciente.
     
  • Laserterapia: O tratamento com laser de baixa intensidade atua diretamente no bloqueio da transmissão dos estímulos dolorosos por fibras finas, promovendo alívio instantâneo da dor, eliminando a tensão muscular, normalizando o fluxo sanguíneo, e reduzindo a inflamação em decorrência da absorção de exsudatos, e resultando no reestabelecimento a abertura bucal. Se mostra muito eficiente também associado a outros recursos terapêuticos como o uso de PO.

Quando falamos em multidisciplinariedade, imaginamos diversos profissionais trabalhando em conjunto, ou atuando de maneiras diferentes para devolver qualidade de vida ao paciente, mas muitas vezes não entendemos bem o papel de cada um dentro da dtm. Abaixo cito alguns dos profissionais mais envolvidos e um pouco de como funciona a abordagem de cada um:

  • Papel do fonoaudiólogo: O desequilíbrio das estruturas da atm pode acarretar diversos sintomas otológicos, como: otalgia, zumbido, plenitude auricular e vertigem. O fonoaudiólogo tem como objetivo adequar a tonicidade e mobilidade muscular, adaptando as funções estomatognáticas- sucção, mastigação, deglutição, fala e fonação- para que não haja dor muscular tanto em repouso como no movimento e para que ocorra um correto movimento no fechamento e/ou abertura da boca. sem desvios da linha média.
     
  • Papel do psicólogo: Como citado anteriormente, fatores como estresse, ansiedade e depressão podem desencadear hábitos parafuncionais, ou quando já instalados, contribuir para sua piora. A Terapia Cognitivo-Comportamental é o método mais utilizado pela psicologia para tratar a dtm, possuindo diversos estudos com eficácia comprovada, e quando necessário, em conjunto com o cirurgião-dentista, pode-se recomendar uma terapia medicamentosa.
     
  • Papel do otorrinolaringologista: O otorrino atua diversas vezes como a porta de entrada para pacientes com sintomas otológicos, devendo estar capacitado para identificar e, juntamente com outros profissionais, diagnosticar e tratar a disfunção temporomandibular, buscando minimizar seus efeitos.
     
  • Papel do fisioterapeuta: O tratamento fisioterapêutico proporciona o alívio da sintomatologia, buscando reestabelecer a função normal do aparelho mastigatório, a postura do paciente e um alívio das condições sintomatológicas do paciente. A fisioterapia entra com um grupo de ações de suporte com várias técnicas de tratamento, dentre elas a massoterapia, cinesioterapia, termoterapia e eletroterapia.

A dtm é uma área da Odontologia muito extensa, que está em constante expansão, e tem uma enorme importância para a qualidade de vida do paciente, em virtude de ser um problema comum onde muitos cirurgiões-dentistas não sabem como atuar. Espero que essa matéria possa esclarecer algumas dúvidas, possa ajudar em seus estudos, e quem sabe, sirva como um convite para que haja um aprofundamento maior no assunto!

Referências:

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