A percepção de muitas mulheres sobre o trabalho de parto é que este seja um momento que envolve ansiedade, medo e sofrimento. Os saberes e a sensibilidade dos profissionais envolvidos neste contexto influenciam significativamente para que o processo deixe de ser visto como traumático e passe a ser visto com alegria e satisfação.
Você deve estar se perguntando, se de fato isso é possível; e eu tenho uma ótima notícia: SIM, é possível! Vamos entender juntos por que a humanização do parto é importante e qual o papel do enfermeiro obstétrico nessa prática? Então, #seguealeitura.
Vamos voltar um pouco no tempo para recordar que nos primórdios as parteiras ou curandeiras eram quem exerciam a atividade de partejar, muitas vezes por serem mulheres de confiança das parturientes, da família ou da comunidade. Habituadas com as manobras externas para facilitar o parto, além de oferecerem apoio psicológico e humanitário neste processo.
O tempo passou e com ele muitas alterações ocorreram na saúde da mulher no período gestacional. A partir desse fato a década de 40 foi marcada pela institucionalização do parto; o programa de prevenção através de acompanhamentos à gestante, como o pré-natal, ocorreu na década de 60. E na década de 80 as mudanças foram direcionadas para redução da mortalidade materna.
Essas alterações colaboraram para muitos avanços e melhorias, mas também para alguns “retrocessos”. Para entender melhor, vamos fazer um breve resumo sobre as vias de parto e suas considerações:
Parto Natural
Ocorre espontaneamente, onde a mulher responde à evolução da parturição o mais próximo da normalidade. Neste parto a saída do bebê ocorre pelo canal vaginal, sem qualquer intervenção cirúrgica. Trata-se da via de parto mais indicada, desde que não exista contraindicação devido a condições específicas da mãe e /ou bebê.
Parto Cesáreo
Também chamado de cesariana, é um procedimento cirúrgico para retirar o bebê quando o parto vaginal não é possível ou seguro. Vale ressaltar que como todo procedimento cirúrgico, esta modalidade não está isenta de riscos.
É preciso salientar que 84% dos partos ocorridos na rede privada são cesáreos, enquanto na rede pública correspondem a 40%. São inúmeros os fatores que levam a esse fato, podemos destacar “a demora no nascimento, em sua maioria na modalidade normal; o que faz com que muitos profissionais induzam as mães a optar pelo parto cesáreo” (BRASIL, 2015). Outro aspecto importante é que o parto cesáreo vem assumindo características de comércio, sendo muito lucrativo para as instituições de saúde, porém em sua maioria, bem custoso para a parturiente.
Enfermagem na obstetrícia, como aconteceu?!
O sentido da assistência humanizada passou a ser ressaltado quando nesse contexto, ficou destacado em um documento escrito pela Organização Mundial de Saúde, em 1996, citado por Brasil (2001), que o enfermeiro obstétrico assume papel fundamental na assistência humanizada ao parto, sendo confirmado por estudos científicos internacionais a respeito da diminuição no número de intervenções como a episiotomia e o parto instrumental.
Essa informação nos faz refletir acerca da melhoria da qualidade do parto, o qual proporciona uma maior sensação de controle dessa experiência pelas mulheres, encorajando- as e favorecendo em sua autonomia e protagonismo neste encantador processo de gerar a vida.
Diante disso, muitos foram os avanços e melhorias, com isso em 01 de junho de 2000, foi instituído pelo Ministério da Saúde, o Programa de Humanização do Pré-Natal e Nascimento do Ministério da Saúde (PHPN) o qual oficializou-se a prática dos partos de baixo risco serem assessorados pelas enfermeiras obstetras. (Que orgulho dessa Enfermagem, fala sério!!)
Por que a humanização do parto é importante?
Porque envolve um conjunto de conhecimentos, práticas e atitudes que buscam valorizar e respeitar as opiniões, cultura, crenças e valores da mulher, visando resgatar o lado fisiológico do nascer, tornando a parturiente a principal protagonista do partejar.
Vale lembrar que a assistência humanizada consiste na atenção voltada para a mulher e família, ao tempo que a humanização do parto visa promover a parturiente um atendimento de forma atenciosa, humana, digna e respeitosa. Visando a promoção do parto e do nascimento saudáveis, além da prevenção da morbimortalidade materna e perinatal.
Contribuições do enfermeiro na humanização do parto
O enfermeiro atuante nesta área deve ser especialista em obstetrícia, assumindo as condutas indicadas para a execução do parto sem distocias. Vale ressaltar que o enfermeiro apresenta os conhecimentos técnicos necessários para a adequada condução do trabalho de parto e todo processo de assistência, promoção e prevenção da saúde neste contexto. Dentre as principais contribuições, destacam-se:
- Promover uma assistência integral;
- Assegurar a parturiente os direitos sobre o próprio corpo, possibilitando-a optar pelo local do parto, como na banheira, chuveiro, na cama, entre outras;
- Promover um ambiente acolhedor;
- Respeitar e atender a parturiente nas dimensões espiritual, psicológica e biológica;
- Possibilitar o parto mais fisiológico, através da diminuição de intervenções desnecessárias;
- Inserção de práticas que reduzem o desconforto emocional e físico.
É importante lembrar que uma série de medidas que promovem o relaxamento aumentam a confiança e satisfação da mulher e, consequentemente, impactam sobre a dor. O parto humanizado prioriza a adoção de medidas para a redução da dor, como:
- Realização de massagens;
- Banhos de chuveiro e banheira de hidromassagem;
- Músicas;
- Entre outras.
É imprescindível que os profissionais envolvidos neste contexto conheçam a importância da humanização do trabalho de parto, bem como seu papel individual dentro da equipe, além de conhecer e respeitar os direitos das parturientes, para que possam oferecer à mulher condições adequadas e dignas para o nascimento de seu filho.
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Referências
BRASIL. Violência obstétrica: parirás com dor. 2012. Disponível em: < http://www.senado.gov.br/comissoes/documentos/SSCEPI/DOC%20VCM%20367.pdf> Acesso em: 02 abril. 2021.
COREN – Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo. Parto natural. 2010. Disponível em: < http://inter.coren-sp.gov.br/sites/default/files/parto_natural.pdf>. Acesso em: 01 abril. 2021.
DAVIM, Rejane Marie Barbosa; TORRES, Gilson de Vasconcelos; DANTAS, Janmilli da Costa. Representação de parturientes acerca da dor de parto. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 10, 2008. Disponível em: https://revistas.ufg.br/fen/index . Acesso em: 01 abril. 2021.
PEREIRA, Raquel da Rocha; FRANCO, Selma Cristina; BALDIN, Nelma. A dor e o protagonismo da mulher na parturição. Rev Bras Anestesiol., v. 61, 2011. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/rba/v61n3/v61n3a14.pdf> Acesso em: 02 abril. 2021.
