Desvendando a hipnose e seus benefícios para a odontologia | Colunista

O uso da hipnose é mais antigo do que se possa imaginar, tendo as primeiras aparições datadas desde 3.500 anos A.C., mas foi em meados de 1843 que apareceram seus primeiros conceitos científicos sobre seu uso terapêutico. Já no século XX, o psiquiatra americano Milton H. Erickson revolucionou os estudos clínicos sobre ela, dividindo-a em duas escolas: hipnose clássica e hipnose Ericksoniana, esta última mais moderna e mais usada.

A hipnoterapia é baseada em um conjunto de técnicas que objetivam ampliar a consciência do indivíduo por meio de concentração focada e relaxamento. De forma simples, é influenciar o foco de atenção do paciente.

 Na hipnose moderna, acredita-se que é tarefa do profissional encontrar o caminho natural de cada pessoa, para que assim o/a paciente possa acessar seus recursos internos (inconscientes) para obter resultados terapêuticos.

Logo, por meio da aplicação correta das técnicas de hipnose, é possível sugerir um retorno do indivíduo a alguma experiência negativa que ainda o incomoda. Isso permite que determinadas situações possam ser enfrentadas de modo que não causem mais sofrimento, por exemplo no atendimento á crianças no consultório odontológico, já que esse público apresenta como principais obstáculos no atendimento o medo e ansiedade.

Já a Programação Neurolinguística (PNL) foi criada por John Grinder e Richard Bandler, e tem raízes na hipnose Ericksoniana. Em resumo, é uma estrutura de comunicação que usa técnicas para compreender e facilitar a mudança de pensamento e comportamento dos pacientes, por meio de uma “reprogramação” de acordo com os resultados que queremos alcançar. 

As duas práticas são muito parecidas, mas a maior diferença reside na abordagem terapêutica de cada uma. A diferença entre hipnose e PNL é que a primeira trata o inconsciente, enquanto a segunda atua no consciente.

A hipnose é reconhecida por conselhos brasileiros da área da saúde, já a PNL não, mas isso não é motivo de desmerecimento de seus resultados e estudos continuam a ser conduzidos na área.  

Hipnose e ciência

Prática que causa controvérsias na área clínica e por vezes difícil de ser aceita por alguns profissionais da saúde, foi comprovada cientificamente na década de 1990 por meio de um experimento que comprovou sua estreita relação com a ciência. 

O pesquisador Henry Szechtman usou um tomógrafo para registrar o comportamento do cérebro humano durante a hipnose, causando propositalmente uma alucinação auditiva ao paciente. Foi observado que o cérebro manteve a mesma atividade cerebral durante a alucinação e a gravação do som de fato, mostrando assim a possibilidade de programação do cérebro para interpretar comandos por meio da hipnose.

Reconhecimento

A Resolução número 82 de 25 de setembro de 2008 do CFO reconhece e regulamenta o uso pelo cirurgião-dentista de práticas integrativas e complementares à saúde bucal. Em relação à hipnose, ela afirma as seguintes atribuições na odontologia:

  • controle de ansiedades, medos e fobias relacionadas aos procedimentos odontológicos e/ou condições psicossomáticas relacionadas à Odontologia;
  • condicionar o paciente para a adoção de hábitos de higiene, adaptação ao tratamento, ao uso de medicamentos, à reeducação alimentar, aos hábitos parafuncionais, dentre outros;
  • tratar e controlar distúrbios neuromusculares e intervir sobre reflexos autonômicos;
  • preparar pacientes para cirurgias;
  • preparar pacientes para serem atendidos por outros profissionais;
  • atuar na adaptação e motivação direcionada ao tratamento odontológico;
  • utilizar anestesia hipnótica em casos pertinentes;
  • utilizar a Hipnose em outros processos/situações relacionados ao campo de atuação do cirurgião-dentista.

Assim, a técnica da hipnose passou a ser útil para prevenção, diagnóstico e tratamento de várias doenças. O CFO determina, ainda, que essa atividade seja exercida exclusivamente por profissionais devidamente formados em instituição reconhecida e sob rigorosos critérios éticos.

Benefícios da hipnose no consultório

E por quê esse conhecimento é importante para a área de odontologia?

Sabendo os meios por quais a hipnose se dá, é possível usá-la para seu benefício, condicionando o paciente aos seus comandos. Com essa descoberta, por exemplo, é possível “anestesiar” um paciente sem fazer uso de fármacos, quando necessário, o que pode auxiliar e facilitar muito o manejo de pacientes com necessidades especiais ou com medo de agulhas.

A hipnose faz parte da área de odontologia integrativa, ao lado de outras práticas também tidas como alternativas como a homeopatia e acupuntura. Essas práticas proporcionam à Odontologia novas ferramentas para exercer um atendimento integral do ser humano, caracterizado pela escuta acolhedora, a contextualização do indivíduo e à integração do universo transdisciplinar. 

Essa abordagem, se aplicada corretamente nos casos com indicação, pode ser um grande diferencial no seu atendimento, se tornando um aliado terapêutico de grande valia na rotina odontológica. Afinal, o cuidado com o paciente e a preocupação em sempre proporcionar a melhor conduta possível deve ser o objetivo principal do cirurgião-dentista, assim como todos os profissionais da saúde. 

Hoje, a hipnose é usada por alguns dentistas para moderar efetivamente o medo de procedimentos odontológicos, reflexo de vômito excessivo, tratamento de condições de dor orofacial e moderação de sangramento, fluxo salivar e controle da dor de procedimento, dentre outros usos possíveis. 

Entretanto, ainda é um campo pouco explorado pelo grupo odontológico. A implementação dessa prática só tem a agregar, e a sua desmitificação é uma barreira que deve ser ultrapassada para que possamos oferecer um tratamento cada vez mais integral e completo ao nosso paciente.

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Referências 

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Por Sanar

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