Vítimas da quarentena: DTM e bruxismo na pandemia do Covid-19 | Colunista

No final do ano de 2019, na cidade de Wuhan, China, surgiu o COVID-19, o SARS-CoV-2, responsável pela síndrome respiratória aguda grave, com isso, o isolamento social pareceu ser a melhor solução para conter o avanço do vírus e no seu poder de transmissibilidade. Contudo, o impacto da quarentena na esfera psicológica  da população mundial tem sido estudada globalmente e estudos tendem a demonstrar o crescimento no número de casos de Bruxismo e Disfunção Temporomandibular.

A pandemia da COVID-19 pode estar associada ao aumento de sintomas psicológicos como ansiedade e depressão em virtude do período de isolamento social. Esses sintomas possuem associação as disfunções temporomandibulares e bruxismo levando ao surgimento e desenvolvimento de ambas afecções.

O termo disfunção temporomandibular (DTM)  é  reconhecido como um grupo de condições musculoesqueléticas e neuromusculares que envolvem as articulações temporomandibulares (ATMs), os músculos mastigatórios e todos os tecidos associados.

Dentre os sinais e sintomas mais comuns estão:

  • Ruídos articulares;

  • Cefaleias (dores de cabeça);

  • Dores na região pré-auricular;

  • Dores na face e na cervical;

  • Cansaço muscular;

  • Desvio da trajetória da mandíbula durante o movimento;

  • Limitação na abertura de boca e dificuldade em fechar a boca;

  • Sensibilidade  dentária, causando  grande  desconforto  e prejuízo  da qualidade de vida;

  • Dificuldade em morder e mastigar alimentos;

  • Travamento mandibular;

  • Zumbido;

  • Má oclusão 

As DTMs englobam vários subgrupos diferentes entre si e que também devem ser devidamente avaliados. Como condições crônicas dolorosas, exigem diagnóstico dos fatores físicos envolvidos, bem como das condições comportamentais do doente (psicológicas, cognitivas e sociais). Por isso, se faz necessário a intervenção de uma equipe multidisciplinar.

Quadros de depressão e ansiedade são comuns nesta população e devem ser interpretados cuidadosamente na condição geral do paciente, necessitando, muitas vezes, de tratamento especializado.

O tratamento de pacientes com DTM deverá envolver uma equipe multidisciplinar:

  • Médicos 

  • Dentistas e estomatologistas (entre outras especialidades); 

  • Psicólogos para o tratamento e avaliação das questões psicológicas; 

  • Fonoaudiólogos intervindo com  a terapia da fala em pessoas com DTM. Existem casos cujas funções como mastigação, fala, respiração, deglutição e sucção poderão estar na base da DTM ou contribuir para a sua prevalência no tempo;

  • Fisioterapeutas com o objetivo de diminuir a tensão músculoesquelética, promover o relaxamento muscular, reduzir a hiperatividade muscular, melhorar o controlo e função muscular e maximizar a mobilidade articular.

Existe grande  diversidade  nos protocolos de tratamento, sendo  que cada  um  apresenta  algum  tipo de  benefício.  Apesar disso, os protocolos que combinam várias técnicas, como, por exemplo, a terapia com exercícios miofuncionais orofaciais associada  à  laserterapia, ou a associação do uso da placa de oclusão  aos exercícios  miofuncionais orofaciais,  evidenciam melhores resultados do que tratamentos isolados.

Deste modo, o objetivo do tratamento é controlar a dor, recuperar a função do aparelho mastigatório, reeducar o paciente e amenizar cargas adversas que perpetuam o problema. Uma forma de prevenção para esses gatilhos é prestar mais atenção ao hábito de manter os dentes soltos durante o período de vigília.

Outro problema relacionado a DTM é o Bruxismo. O bruxismo está entre os fatores com maior destaque na DTM podendo estar diretamente ligado ao estresse e á ansiedade.

O bruxismo é considerado um dos principais fatores etiológicos de distúrbios na  ATM e na musculatura mastigatória, podendo iniciar ou potencializar quadros de desordens temporomandibulares. É definido  como  um distúrbio de movimento caracterizado pelo  ranger  (excêntrico),  bater  ou  apertar  (cêntrico) dos  dentes  muito  associado  ao sono.

Pode ocorrer com crianças,  jovens e adultos nas diferentes faixas etárias e manifesta–se de duas  formas diferentes: o bruxismo de vigília,  que ocorre durante o dia, e o bruxismo do sono, que acontece durante o período noturno. O ranger dos  dentes é mais comum  no bruxismo do sono, enquanto o apertar dos dentes é  mais  comum no bruxismo de vigília

É reconhecido como problema  clínico  há  décadas,  embora  sua  fisiopatologia ainda  seja  controversa. A  manutenção  desse  hábito  na  vida  adulta  pode  comprometer  a  saúde  bucal. A investigação da qualidade do sono também é outro fator muito importante na avaliação do paciente com bruxismo.

Quando diagnosticada a origem psicológica do bruxismo, o paciente deve ser encaminhado a um profissional  especializado,  sendo  de  fundamental  importância  a  interação  multiprofissional  no  tratamento dessa parafunção, sendo este um dos paradigmas para um tratamento eficaz.

A  conduta  terapêutica  é multidisciplinar e principalmente  sintomática,  baseando-se:

  • na confecção  de  placa  estabilizadora  para  reduzir  a  carga e  a  intensidade  do  bruxismo  sobre as  estruturas  do sistema  estomatognático

  • tratamento  cognitivo  ou comportamental para  redução  do  estresse  psicológico nos casos necessários 

  • farmacológico  como  forma de controle da dor e/ou desconforto causados pelo bruxismo. 

No surto de COVID-19 houve prevalência de sinais e sintomas de DTM que vem aumentando durante o período pandêmico. Fatores psicológicos associados à pandemia podem levar a um risco aumentado de desenvolver, piorar e perpetuar o bruxismo, especialmente o bruxismo da vigília e DTM. A procura de atendimento especializado se faz necessário para melhorar a qualidade de vida das vítimas do isolamento social.

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REFERÊNCIAS 

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