Introdução
Diversas pesquisas demonstram que uma satisfatória relação terapêutica aumenta a adesão do paciente ao tratamento. Embora a relação entre terapeuta e paciente não seja considerada o mecanismo principal para a mudança, uma boa aliança de trabalho é uma parte importante do tratamento. Ressalta-se que a qualidade da aliança terapêutica independente da abordagem teórica do profissional. Mas para efeitos de entendimento, será descrito mais precisamente o estabelecimento da relação terapêutica na perspectiva da Terapia Cognitivo Comportamental.
Relação terapêutica na Terapia Cognitivo Comportamental
A TCC caracteriza-se por uma aliança de trabalho denominada de empirismo colaborativo, que é voltada para a promoção da mudança cognitiva e comportamental. Uma aliança eficaz entre terapeuta e paciente é uma condição essencial para a implementação dos métodos específicos da TCC. À medida que os terapeutas envolvem os pacientes no processo da TCC, eles precisam demonstrar compreensão, empatia e afeto pessoal adequados e flexibilidade ao reagir às características singulares dos sintomas, das crenças e das influências socioculturais de cada pessoa.
O terapeuta envolve o paciente em um processo colaborativo no qual existe uma responsabilidade compartilhada no que diz respeito ao estabelecimento de metas e agendas, por dar e receber feedback e por colocar em prática os métodos de TCC na vida cotidiana. Juntos, terapeuta e paciente focam pensamentos e comportamentos problemáticos, que são então explorados empiricamente quanto à sua validade ou utilidade.
Assim, é imprescindível no estabelecimento de uma aliança terapêutica bem-sucedida, que o terapeuta apresente algumas características pessoais, habilidades e atitudes essenciais.
Características pessoais do Terapeuta
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Postura empática e compreensiva;
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Aceitação desprovida de julgamento;
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Autenticidade;
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Autoconfiança;
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Flexibilidade na aplicação de técnicas;
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Contato visual;
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Linguagem acessível;
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Postura que denote atenção e ao mesmo tempo descontração;
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Habilidade técnica;
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Capacidade de refletir empaticamente;
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Saber controlar a própria ansiedade;
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Fazer perguntas que facilitarão a descoberta guiada;
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Fornecer base segura para exploração;
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Competência Linguística: Decodificar e usar metáforas, paradoxos;
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Alta taxa de comportamentos gestuais: Assentimento com a cabeça, sorrisos, aproximação do corpo em direção ao cliente.
Habilidades do Terapeuta
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Avaliar e conceitualizar os pacientes com o modelo cognitivo;
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Estabelecer e manter uma relação terapêutica colaborativa;
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Educar o paciente sobre o modelo cognitivo;
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Utilizar programação de atividades e a tarefa gradual;
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Empregar técnica de registro de pensamentos;
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Formular o caso no modelo cognitivo;
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Buscar feedback do paciente;
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Proporcionar feedback e sumários;
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Usar técnicas de prevenção de recaída;
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Estruturar sessões, ou seja, estabelecer agenda, revisar e prescrever as tarefas de casa, trabalhar com problemas chave;
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Reconhecer os pensamentos e sentimentos do próprio terapeuta acionados pela terapia;
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Buscar supervisão e treinamento em terapia cognitivo comportamental.
Atitudes do Terapeuta
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Ser empático;
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Respeitoso;
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Não crítico;
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Colaborativo;
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Sensível às questões socioculturais, econômicas e educacionais do paciente;
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Buscar treinamento de competências para a terapia cognitivo comportamental.
Conclusão
Sabe-se que na Terapia Cognitivo Comportamental são usadas inúmeras técnicas tanto cognitivas quanto comportamentais, mas a interdependência entre os fatores técnicos e de relacionamento entre terapeuta e paciente é que irão incrementar o processo terapêutico na melhor condução possível.
Neste sentido, quando o paciente percebe que se encontra em um ambiente acolhedor e sem julgamentos, este apresenta maior facilidade no processo de mudança.
Diante disto, é percebido o quanto as relações estabelecidas nas primeiras sessões são indispensáveis para prever o bom andamento da terapia e consequentemente a melhora do paciente.
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Referências
RANGÉ, Bernard. Psicoterapias cognitivo comportamentais: um diálogo com a psiquiatria.2. ed. Porto Alegre: Artmed,2011.
WRIGHT, J.; BASCO, M.; THASE, M. Aprendendo a Terapia Cognitivo-Comportamental: um guia ilustrado. Porto Alegre: Artmed, 2008.