Nas últimas décadas está ocorrendo uma mudança na pirâmide etária, através do progressivo envelhecimento populacional. Esse envelhecimento se apresenta como um fator de risco para várias doenças, como o câncer e as doenças crônico-degenerativas.
Segundo a definição da Organização Mundial de Saúde – OMS, revista em 2002, “Cuidado Paliativo é uma abordagem que promove a qualidade de vida de pacientes e seus familiares, que enfrentam doenças que ameacem a continuidade da vida, através da prevenção e alívio do sofrimento. Requer a identificação precoce, avaliação e tratamento da dor e outros problemas de natureza física, psicossocial e espiritual”.
Nesse contexto, buscando permitir uma assistência harmônica para o paciente e sua família, os cuidados paliativos devem ser implementados por uma equipe multidisciplinar, que deve buscar inserir e envolver os cuidadores e os familiares do paciente. Desse modo, os profissionais envolvidos na assistência devem estabelecer um vínculo e uma relação entre equipe, família e comunidade (SOUZA, et al 2015).
A equipe multidisciplinar deve promover o alívio da dor e outros sintomas desagradáveis, afirmar a vida e considerar a morte como um processo normal, mas não acelerar e nem adiar a morte. É necessário integrar os aspectos psicológicos e espirituais no cuidado ao paciente, oferecer um sistema de suporte que possibilite o paciente viver tão ativamente quanto possível, além de auxiliar os familiares durante a doença do paciente e dar apoio para enfrentar o luto. Sendo assim, a equipe deve iniciar esse protocolo de cuidados o mais precocemente, para proporcionar uma melhor qualidade de vida e influenciar positivamente o curso da doença (CARVALHO; PARSONS, 2012).
Papel do Dentista na equipe de Cuidados Paliativos
Como o profissional de Odontologia pode contribuir na promoção de qualidade de vida aos pacientes em Cuidados Paliativos? É simples encontrar essa resposta. Imagine que o paciente se encontra abalado pelos efeitos que a própria doença e os medicamentos causam em seu organismo, como negar o bem estar bucal e o prazer de sorrir?
O dentista possui um papel muito importante na equipe multidisciplinar, uma vez que a cavidade bucal pode sediar inúmeros processos patológicos e apresentar diferentes efeitos colaterais decorrentes dos tratamentos medicamentosos destinados ao manejo da doença central (OLIVA; MIRANDA, 2015). Essas doenças podem comprometer a cavidade bucal de maneira direta ou indireta e afetar a nutrição e a comunicação, dessa forma devem ser corretamente diagnosticadas e tratadas para proporcionar conforto ao paciente.
O agravamento da doença que afeta o paciente pode levar a redução da capacidade funcional que irá impossibilitar a autolimpeza e noções dos problemas bucais. Nesse sentido, a abordagem odontológica visa a manutenção da saúde bucal, prevenindo o periodonto, os dentes, restaurações, implantes e próteses. Além de instituir ações de educação em saúde junto aos cuidadores e familiares e realizar a intervenção no alívio da dor quando as complicações já estiverem instaladas (OLIVA; MIRANDA, 2015).
Os pacientes devem ser questionados e avaliados regularmente quanto às condições de sua saúde bucal. Uma vez que muitos não relatam espontaneamente os seus problemas e desconfortos por acreditarem que são normais da doença que os acomete sistematicamente ou por estarem fisicamente ou mentalmente inaptos a cuidar da própria saúde (CARVALHO; PARSONS, 2012).
Principais acometimentos da cavidade bucal:
Os pacientes em Cuidados Paliativos apresentam graves restrições funcionais e comprometimento das funções orais, sendo ainda mais frequente quando a própria doença já atinge a cavidade oral, como o câncer de cabeça e pescoço.
Os sinais e sintomas que o paciente apresenta devem ser devidamente assistidos e tratados. Os problemas orais mais frentes são as feridas abertas, infecções oportunistas, disfagia, xerostomia, dor, sangramento, trismo, desnutrição e desidratação. O profissional deve ficar atendo a necessidade do tratamento e como realiza-lo, uma vez que a sua ausência ou mesmo a realização de maneira inadequada pode levar a uma piora na saúde e na qualidade de vida do paciente (CARVALHO; PARSONS, 2012).
Protocolo de cuidados:
Depois da avaliação das condições em que se encontra a cavidade bucal do paciente, deve ser realizado cuidados que previnem ou tratem os problemas encontrados ou que podem vir a afetar a boca (CARVALHO; PARSONS, 2012).
Um dos principais protocolos é a orientação de higiene oral, instruindo o cuidador ou o próprio paciente a maneira correta de realizar a escovação mecânica e, se necessário, indicar complementação medicamentosa. Deve-se realizar a limpeza de próteses e feridas intra e extraorais, associado a aplicação de antissépticos locais, além do controle da dor nessas feridas com o uso de soluções e pomadas anestésicas. Se infecções oportunistas, como a candidíase estiverem presentes é necessário tratar com antifúngicos. Nos casos de xerostomia pode ser aplicado hidratante oral e/ou usar saliva artificial. Se estiverem presentes focos infecciosos e traumatismos na mucosa, realizar o tratamento adequado e remover qualquer agente causador de trauma e irritação. Além disso, fazer orientação da dieta, instruindo evitar-se alimentos cítricos, condimentados e quentes.
Conclusão:
Com base nessas informações podemos entender acerca da importância do Dentista nos cuidados aos pacientes com doenças que ameaçam a continuidade da vida, através do alívio do sofrimento e promoção da qualidade de vida, baseando-se na saúde bucal. Assim, com o trabalho da equipe multidisciplinar em saúde o paciente, seus familiares e cuidadores terão uma assistência adequada, baseada nas particularidades de cada caso.
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REFERÊNCIAS:
CARVALHO, Ricardo Tavares de; PARSONS, Henrique Afonseca. Manual de cuidados paliativos ANCP. In: Manual de cuidados paliativos ANCP. 2012. p. 590-590.
OLIVA, Almir; MIRANDA, Alexandre Franco. Cuidados Paliativos e odontogeriatria: Breve comunicação. Revista Longeviver, n. 44, 2015.
SOUZA, Hieda Ludugério de et al. Cuidados paliativos na atenção primária à saúde: considerações éticas. Rev. Bioét., Brasília, v. 23, n. 2, p. 349-359, Aug. 2015.