O impacto da COVID-19 nas estruturas e funções dos diversos sistemas corporais vem sendo amplamente estudado e discutido, pois as disfunções causadas pelo Novo Coronavírus refletem diretamente no desempenho em Atividades de Vida Diária (AVD), comprometendo a independência funcional, além de restringir a participação social do indivíduo.
Sendo assim, torna-se extremamente essencial o papel do fisioterapeuta em realizar uma avaliação direcionada e dar o diagnóstico cinético-funcional, para que a prescrição do protocolo de reabilitação seja adequada ao estado do paciente, de forma que alcance o objetivo esperado e que não ocorra sobrecarga excessiva ao indivíduo.
Dentre as principais as manifestações clínicas da COVID-19 incluem febre, tosse, congestão nasal, fadiga e outros sinais de infecções do trato respiratório superior, incluindo dispneia e sintomas torácicos graves correspondentes a pneumonia, levando à disfunção respiratória, física e psicológica dos pacientes.
O comprometimento pulmonar é a principal causa de hospitalização, além disso, as complicações cardíacas e tromboembólicas são observadas em aproximadamente 30% dos pacientes hospitalizados, com um risco aumentado de miocardite aguda, lesão do miocárdio e insuficiência cardíaca, o que pode comprometer a capacidade funcional a longo prazo. Além disso, o envolvimento musculoesquelético pode resultar em longos períodos de hospitalização e imobilidade e pode incluir fadiga, fraqueza muscular e polineuropatia.
Um estudo publicado pela Nature Medicine em março de 2021 forneceu uma revisão abrangente da literatura atual sobre o novo Coronavírus, sua fisiopatologia e sequelas específicas do órgão, e definiu a COVID-19 pós-agudo como sintomas persistentes e/ou complicações tardias ou de longo prazo da infecção por SARS-CoV-2 além de 4 semanas do início dos sintomas (Fig. 1). Com base na literatura recente, ele é dividido em duas categorias:
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COVID-19 Sintomático Subagudo ou Contínuo: Inclui sintomas e anormalidades presentes de 4 a 12 semanas além do COVID-19 agudo;
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Pós-COVID-19 ou Síndrome Crônica: Inclui sintomas e anormalidades persistentes ou presentes além de 12 semanas do início da COVID-19 aguda e não atribuíveis a diagnósticos alternativos.
Figura 1: Fases da COVID-19.
Fonte: Adaptado de Nalbandian et al. (2021). O COVID-19 agudo geralmente dura até 4 semanas a partir do início dos sintomas, além das quais o SARS-CoV-2 competente para replicação não foi isolado. COVID-19 pós-agudo é definido como sintomas persistentes e / ou complicações tardias ou de longo prazo além de 4 semanas do início dos sintomas.
Diante do exposto, torna-se evidente que em cada fase da doença, a Fisioterapia pode contribuir com objetivos e terapêuticas diferentes, otimizando a recuperação funcional do indivíduo.
REABILITAÇÃO NA COVID-19 AGUDO
Os pacientes que requerem hospitalização e monitoramento são definidos como pacientes sintomáticos com ou se aproximando de dificuldade respiratória com frequência respiratória>30 vezes/minutos, saturação de oxigênio em repouso <93% ou PaO2/FiO2 <300 mmHg.
A definição de reabilitação pulmonar, conforme a American Thoracic Society (ATS) e a European Respiratory Society (ERS), é uma intervenção abrangente baseada em uma avaliação completa do paciente seguida por terapias personalizadas que incluem, mas não estão limitadas a treinamento físico, educação e mudança de comportamento, projetadas para melhorar a condição física de pessoas com doenças respiratórias.
Na reabilitação pulmonar durante o tratamento agudo da COVID-19, a intensidade inicial do exercício deve ser graduada e abordada com cautela e monitoramento, resultando em efeitos essenciais na qualidade de vida relacionada à saúde e na capacidade de exercício.
A mobilização precoce é um componente essencial da reabilitação pulmonar, incluindo a mobilidade no leito até a deambulação do paciente. A intervenção de reabilitação deve ter como alvo SpO2> 90% com titulação de oxigênio suplementar para manter a saturação alvo.
Os exercícios respiratórios, as técnicas de desobstrução das vias aéreas podem reduzir significativamente a necessidade de suporte ventilatório, dias de ventilação mecânica e hospitalização. Além disso, o treinamento muscular inspiratório e expiratório pode ser implementado nesses pacientes, começando com a espirometria de incentivo e progredindo para dispositivos de treinamento muscular inspiratório, se disponíveis.
Assim, o papel do fisioterapeuta torna-se essencial em um contexto onde um grande número de pacientes necessitou de internação na Unidade de Terapia Intensiva, e, em vários casos, o uso de ventilação mecânica invasiva.
Os principais objetivos da reabilitação fisioterapêutica nesse contexto são:
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Otimizar a ventilação e oxigenação;
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Reduzir o trabalho respiratório;
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Diminuir a dependência do ventilador e melhorar a função pulmonar residual;
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Reduzir de complicações e sequelas da COVID-19.
REABILITAÇÃO NA COVID-19 PÓS-AGUDO
Dado o padrão sistêmico da COVID-19, muitos são os fatores que podem influenciar a capacidade funcional do paciente após a infecção aguda e a identificação desses fatores pode contribuir para o desenvolvimento de estratégias específicas de reabilitação.
O mesmo estudo publicado pela Nature Medicine em março de 2021 demonstrou em sobreviventes com alta hospitalar com COVID-19, que o comprometimento da capacidade de difusão é a anormalidade mais comum da função pulmonar, seguido por defeitos ventilatórios restritivos, ambos associados à gravidade da doença.
Logo, mesmo após a alta hospitalar, se o paciente queixa de falta de ar e fadiga além da perda de massa muscular e fraqueza, ele precisa iniciar um trabalho de reabilitação o mais rápido possível. Tempo é um fator primordial na recuperação da qualidade de vida, pois o conjunto dessas manifestações contribui significativamente para o declínio funcional.
Nesse sentido, um dos objetivos mais essenciais dos fisioterapeutas é promover aos pacientes a recuperação da capacidade de realizar as atividades de vida diária sem limitações, desenvolvendo programas de reabilitação específicos mediante a gravidade em que foi instalada a doença e dos objetivos individuais.
A Fisioterapia, portanto, também desempenha um papel fundamental no período pós-agudo da COVID-19.
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