Apesar da população LGBTQIA+ ter conquistado seu espaço ao longo dos anos, ainda é atual a sua luta contra estigmas, discriminação e preconceitos, além da violência física e verbal. Compreender essa realidade é fundamental para que, cada vez mais, profissionais da saúde mental se posicionem a favor deste público.
Brasil e a LGBTQIA+ fobia
É importante iniciarmos essa discussão apontando dados tristes, porém reais, de que o Brasil é um dos países onde mais se matam pessoas da população LGBTQIA+, principalmente os transgêneros (Mendes & Silva, 2020).
Segundo a ANTRA – Associação Nacional de Travestis e Transexuais o Brasil apresentou no ano de 2020 um aumento consecutivo nos casos de assassinato em relação ao ano de 2019, mesmo no período de pandemia pelo coronavírus.
Um fato importante e que deve ser levado em consideração, se pararmos para pensar que o esperado seria a diminuição destes casos pela necessidade de isolamento social colocado em muitas cidades e estados do país. Porém, quando nos deparamos com este cenário vemos que os fatores sociais se intensificam e resultam diretamente na vida dessas pessoas, principalmente as travestis e mulheres transexuais trabalhadoras sexuais que continuam exercendo seus serviços nas ruas em busca da sobrevivência, uma vez que a maioria não conseguiu ter acesso aos auxílios emergenciais em virtude de suas histórias de vidas.
É interessante destacar que existem poucas informações em relação aos autores desses homicídios contra a população LGBTQIA+ muito em virtude da “ineficiência do sistema penal brasileiro, gerando o não enfrentamento da homofobia” (Mendes & Silva, 2020).
Preconceito, discriminação, estigmas e os efeitos na saúde mental da população LGBTQIA+
A Política Nacional de Saúde Integral da População LGBTQIA+ foi instaurado no âmbito do SUS – Sistema Único de Saúde, através da Portaria n°2.836 de 1° de dezembro de 2011 com o objetivo de promover a saúde integral dessa população “eliminando a discriminação e o preconceito institucional, bem como contribuindo para a redução de desigualdades e a consolidação do SUS como sistema universal, integral e equitativo”.
Infelizmente, ainda vivemos em um país que apesar das conquistas da população LGBTQIA+ a homofobia é presente e faz com que episódios de agressões, seja ela física ou verbal, sejam comuns.
Além das violências salientadas anteriormente, os efeitos do preconceito, discriminação e estigmas sofridos por essa população é um outro grande problema e que pode resultar em traumas profundos.
De acordo com a pesquisa Diagnóstico LGBTQIA+ na pandemia, do coletivo Vote LGBT, a saúde mental é o maior ponto de preocupação destas pessoas, e um dos pontos mais críticos que a população LGBTQIA+ enfrentam é a solidão. Isso visto que, muitas vezes, o ambiente social, familiar e profissional é profundamente hostil com pessoas não héteros.
Com base nisso, percebemos que quando uma pessoa está em uma relação que de alguma forma, a fere, a desrespeita ou a impossibilita de ser ela mesma, essa relação vai acarretar demandas emocionais. Demandas essas, que acumuladas, podem desencadear transtornos mentais. Desta forma, é mais do que necessário o apoio para que as pessoas LGBTQIA+ procurem ajuda profissional para que alcancem sua autonomia.
Psicoeducação e atendimento público e gratuito
Os obstáculos que a população LGBT enfrentam para ter acesso à saúde são diversos, e requer um olhar mais cuidadoso dos formadores de política pública. Para fugir de futuras discriminações, travestis e pessoas trans desistem de procurar os serviços de saúde; e quando procuram, na maioria das vezes são maltratadas e rejeitadas, e grande parte dessa população acabam recorrendo à prostituição como única forma de sobrevivência (Costa, 2015).
A Organização Mundial da Saúde – OMS compreende a necessidade de combater a homofobia no SUS, com a proteção do direito livre à orientação sexual e à identidade de gênero, que não é apenas uma questão de segurança pública, mas sim de saúde mental e precaução a outras vulnerabilidades (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2013).
Segundo o Ministério da Saúde (2013), a luta contra a homofobia é essencial para garantir o acesso aos serviços e a qualidade de atenção, preparando profissionais de saúde em relação às práticas sexuais e sociais dos LGBT, a fim de adotar os devidos cuidados com as necessidades dessa população.
Diante desse cenário, é função dos profissionais da psicologia oferecer o acolhimento necessário para o público LGBTQIA+, retratando como a exposição à violência, preconceito e rejeição pode impactar a sua saúde mental. De acordo com a American Psychological Association (2009) os psicólogos necessitam de treinamento e formação especifica em psicologia do preconceito e saúde mental da população LGBT, com o intuito de desenvolver práticas psicológicas afirmativas, que podem ajudar a reduzir os efeitos do estigma, diminuir o sofrimento, intensificar a resiliência, fortalecer redes de apoio, potencializar a assertividade e melhorar o funcionamento psicológico.
É necessário educar a população de uma forma geral. Através da psicoeducação é possível instruir e incentivar mais pessoas a buscarem terapia para compreender melhor suas emoções. Há profissionais que atendem esse público a preço popular, como também de forma voluntária, como os profissionais do projeto Acolhe LGBT+ uma plataforma online que busca conectar pessoas LGBT+ que necessitam de acolhimento psicológico com profissionais da psicologia de forma gratuita. Além deste, existem outros programas com objetivos similares.
O campo de ação para melhorar a qualidade de vida da população LGBTQIA+ e construir uma sociedade com mais respeito e empatia possui grande demanda e atuação contínua. Portanto, é importante estimular iniciativas como essas e impulsionar cada vez mais discussões sobre saúde mental. Mostrar que a psicologia pode ser acessível a todos, e conscientizar as pessoas LGBTQIA+ a buscarem esse autocuidado, sobretudo com profissionais e instituições envolvidas de forma respeitosa e de qualidade.
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Referências Bibliográficas
American Psychological Association. (2009). Report of the APA Task Force on Gender Identity and Gender Variance. Washington, DC: Author. Acessado em: 06/05/2021. Disponível em: < https://www.apa.org/pi/lgbt/resources/policy/gender-identity-report.pdf>
Assassinatos de pessoas trans voltam a subir em 2020. ANTRA, 2020. Acessado em: 08/04/2021. Disponível em: < https://antrabrasil.org/category/violencia/>
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa. Departamento de Apoio à Gestão Participativa. Política Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais / Ministério da Saúde, Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa, Departamento de Apoio à Gestão Participativa. Brasília: 1ª ed., 1ª reimp. Ministério da Saúde, 2013. 32 p. Acessado em: 08/04/2021. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional_saude_lesbicas_gays.pdf
Costa, A. B. (2015). Vulnerabilidade para HIV em mulheres trans brasileiras: o papel da psicologia e o acesso à saúde. (Tese de Doutorado em Psicologia) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. Acessado em: 06/05/2021. Disponível em: < https://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/140827>
Mendes, WG & Silva, CMFP. Homicídios da População de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais ou Transgêneros (LGBT) no Brasil: Uma Análise Espacial. Cien Saude Colet, 2020/Jan. Acessado em: 08/04/2021. Disponível em: http://www.cienciaesaudecoletiva.com.br/artigos/homicidios-da-populacao-de-lesbicas-gays-bissexuais-travestis-transexuais-ou-transgeneros-lgbt-no-brasil-uma-analise-espacial/17498