Ritmos circadianos se referem a todos os comportamentos do organismo que dependem de horários específicos para acontecer. Consideramos os comportamentos que ocorrem desde o despertar de manhã, passando pela necessidade de alimentação, os desejos sexuais, dormir, sonhar. Para a ocorrência de todos esses comportamentos, há uma rede intrincada de funcionamento de hormônios e neurotransmissores, orquestrados pelo sistema nervoso central, chegando aos órgãos.
A regularidade dos ritmos circadianos é importante para um bom funcionamento do organismo como um todo. A ruptura nesse sistema pode levar a problemas fisiológicos, bem como mentais que dependem de uma regularidade para a manutenção de uma homeostase orgânica.
Utilizamos gatilhos externos, chamados zeitgebers, importantes na preparação do organismo para exercer determinados comportamentos. Há atividades que são promovidas para serem realizadas durante o dia, com a iluminação do sol. Há comportamentos que devem ser realizados à noite, na escuridão.
Ritmo Circadiano e a Doença de Alzheimer
Uma das patologias que pode estar relacionada a essa desregulação dos ritmos circadianos é a doença de Alzheimer. A doença de Alzheimer (DA) tem uma relação com distúrbios do sono. Há uma prevalência entre 25%1-3 a 60%3,4 de pacientes com DA que apresentam comportamentos como insônia, agitação no início da noite e sonolência excessiva durante o dia. As maiores alterações estão relacionadas à maior severidade da doença1,3,5. Como consequência, há uma alteração das capacidades cognitivas, sendo que a atenção e a memória são os primeiros comportamentos percebidos pela família, quando procura por ajuda profissional.
Segundo alguns estudos6-9, há acúmulo da proteína beta amilóide (Aβ) que se agrega em placas amilóides e da proteína tau que se agrega em emaranhados neurofibrilares no cérebro. Deane et al.10, considera que, além de um aumento na produção de Aβ, há também uma redução na degradação dessa proteína. Um fator importante para a manutenção do clearance de Aβ é uma melhor adequação do sono, quando há um aumento do espaço intersticial cortical acima de 60%11.
A regularidade de atividade física pode estar relacionada à melhora da regulação do sono ao facilitar a disponibilidade de hormônios e neurotransmissores relacionados ao ritmo circadiano e, portanto, deve ser utilizada como intervenção precoce no tratamento da doença de Alzheimer, com o objetivo de adequar o ciclo sono vigília e reduzir os efeitos nocivos dessa patologia.
Referências:
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