Diferenças e semelhanças entre psicanálise e psicoterapia psicanalítica | Colunista

A princípio, o leitor pode fazer uma leitura dinâmica do título e não notar que de fato existem diferenças e também semelhanças nessas duas modalidades de atuação. Mas, vamos lá então perceber as sutilezas dessas duas possibilidades de intervenção.

A psicanálise, segundo o próprio Freud (1922), pode ser definida como um procedimento para a investigação de processos psíquicos, ou um método de tratamento de distúrbios neuróticos, ou ainda como uma série de conhecimentos acerca da psicologia. 

A teoria de Freud foi formulada por ele de forma empírica através das suas experiências com os pacientes que atendia e teve um impacto na teoria e prática da psicologia. Entretanto o tratamento psicanalítico traz em si divergências em relação à psicologia mesmo quando esta segue orientação psicanalítica. Pode-se notar contrastes entre as duas práticas desde a formação, já que o psicanalista não necessariamente tem graduação em psicologia.

A psicologia pode se ancorar em diversas abordagens para sustentar o processo psicoterápico, como a cognitivo-comportamental, fenomenológica e inclusive a psicanálise. O psicanalista segue exclusivamente a teoria psicanalítica, orientação que considera a presença da ação do inconsciente.

Na psicanálise, Freud propõe um certo cerimonial que concerne a posição na qual o tratamento é realizado, ele diz que é necessário acolher o paciente no divã, onde este possa deitar confortavelmente e o analista posiciona-se atrás dele, fora das vistas do analisando. Para Freud, essa disposição é remanescente do método hipnótico a partir de onde a psicanálise se desenvolveu. Também sugere uma maior frequência dos atendimentos seguindo os princípios da neutralidade da abstinência, buscando realizar uma análise interpretativa de reminiscências de conflitos do passado.

A psicoterapia pode seguir uma orientação psicanalítica ou não. No caso da psicoterapia baseada na teoria psicanalítica, ela difere da psicanálise pois acredita num tratamento com menor frequência de atendimentos, usualmente uma vez por semana, dispensa a utilização do divã, possibilitando uma disposição face a face, pode fazer uso de intervenções variadas baseadas em sua interpretação do exposto. 

Ambas se assemelham no que tange ao estabelecimento de uma investigação sobre os mecanismos de defesa e conflitos do inconsciente do paciente. Nos dois casos não se deve orientar o paciente a “preparar” o que irá falar em análise, já que isso indica resistência e evitação de que pensamentos desagradáveis venham à superfície, a associação livre é o cerne da técnica psicanalítica bem como da psicoterapia que segue essa abordagem.

Como cita Silva (2015) são abordagens técnicas que se baseiam em uma mesma fundamentação teórica – a teoria psicanalítica – e nos mesmos princípios técnicos fundamentais – interpretação, transferência, dentre outros – embora possam utilizá-los de forma distintas.

Zimerman (1999) diz que “as semelhanças, diferenças, tangências e superposições entre o que se costuma denominar psicanálise e psicoterapia psicanalítica têm sido muito estudadas e discutidas, principalmente desde a década de 40, permanecendo na atualidade como um assunto controverso e polêmico” (p.31).

Sendo assim, esse debate segue vivo e continua agregando novas reflexões e percebendo novas maneiras de atuar atreladas às necessidades trazidas pela contemporaneidade onde, muitas vezes se aproximam e outras se distanciam. O ponto de entendimento entre ambas segue firme na utilização dos mesmos princípios técnicos fundamentais.

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Referências:

FREUD, Sigmund, Obras completas de Sigmund Freud: Psicologia das Massas e Análise do Eu e Outros Textos (1920-1923) / Sigmund Freud; tradução Paulo César de Souza. — 1a ed. — São Paulo: Companhia das Letras, 2011.

Freud, Sigmund, Obras completas de Sigmund Freud Vol. XII, pp. 163-187 (1913). Sigmund Freud; tradução J. O. A. Abreu, J. Salomão (Org.), Edição standard brasileira de obras completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago,1980.

NASIO, J.D. A Histeria: Teoria Clínica e Psicanalítica / J.D.Nasio; tradução, Vera Ribeiro. – Rio de Janeiro: Zahar, 1991

SILVA, Milena da Rosa; GASPARETTO, Letícia; CAMPEZATTO, Paula von Mengden. Psicanálise e psicoterapia psicanalítica: tangências e superposições. Rev. Psicol. Saúde,  Campo Grande ,  v. 7, n. 1, p. 39-46, jun.  2015 .   Disponível em . acessos em  10  abr.  2021.

Zimerman, D. E. (1999). Fundamentos psicanalíticos: teoria, técnica e clínica. Uma abordagem didática. Porto Alegre: Artmed.