O Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) destaca a importância e amplitude de atuação do profissional Médico Veterinário, cujos serviços contribuem diretamente ao desenvolvimento econômico e social do país, pois abrangem muito mais que o tão citado bem estar animal e produção de alimentos.
O médico veterinário tem papel fundamental na sociedade atual, inclusive como profissional de saúde pública, inserindo-se no SUS, em programas de prevenção e controle de zoonoses e doenças infecciosas, gestão e o planejamento em saúde, vigilância epidemiológica, sanitária e ambiental, temas tão bem abordados dentro do conceito mundialmente discutido de Saúde Única (One Health).
São mais de 80 áreas de atuação possíveis a este profissional, porém, anualmente, cerca de 5000 médicos veterinários chegam recém-formados ao mercado de trabalho, oriundos das quase 400 faculdades de Medicina Veterinária existentes no Brasil. Isso significa dizer que o Brasil tem, atualmente, mais da metade do número total de cursos de graduação em Medicina Veterinária do mundo.
Sem dúvida, esses números preocupam, pois evidenciam o viés comercial desse ensino, resultando em muitos profissionais despreparados, sem conhecimento e competência adequados ao exercício de suas funções. O ensino dispensado à formação desses profissionais precisa ser amplo, porém específico sob diversos aspectos, abrangente buscando a integração entre as muitas áreas, mas detalhista para formar indivíduos com senso crítico e conscientes do seu papel perante a sociedade.
Se você ainda é graduando, provavelmente já questionou a aplicabilidade de certas disciplinas e seus métodos de avaliação, se já concluiu a graduação, com certeza saberia elencar algumas “deficiências” do seu curso ou de determinados professores…
No entanto, devemos considerar que 5 anos nunca serão suficientes para aprendermos tudo sobre as diversas áreas e tantas espécies que integram nossa profissão.
Num cenário ideal, as habilidades e conhecimentos transmitidos durante a graduação deveriam abordar todos os aspectos da profissão, as necessidades atuais da sociedade e as perspectivas futuras de médio e longo prazo. Embora isso represente enormes desafios às instituições e consequentemente, aos seus coordenadores e corpos docentes, constitui-se também em relevantes oportunidades de trabalho num segmento ainda pouco procurado pelos médicos veterinários: a docência.
Serei médico veterinário ou professor?
Há muitos profissionais buscando oportunidades, portanto, nessa transição da graduação para o mercado de trabalho, faz-se necessário buscar continuamente o conhecimento que nos faltar, seja em cursos de especialização ou treinamento ou em programas de pós-graduação, que aliados a nossas experiências adquiridas, serão responsáveis pelo conjunto da nossa capacitação profissional.
De qualquer modo, sempre faltará algo, sempre existirão situações que seriam melhores diferentes, que ficaram aquém das nossas expectativas, e porque não usarmos essa consciência para construir uma Medicina Veterinária melhor?
Várias instituições de ensino reconhecem a necessidade de ouvir estudantes e egressos para otimizar seus cursos e metodologias aplicadas, se tivesse essa oportunidade, o que faria para ensinar de um modo que fosse mais simples de aprender? Ou quais conteúdos gostaria de ajustar para complementar o que faltou? E de que forma poderíamos complementar esse ensino, metodologias ativas, monitorias, cursos de extensão, organização de simpósios ou grupos de estudo?
Provavelmente, você não cogitou ser professor quando escolheu a Medicina Veterinária, a grande maioria dos docentes que conheço iniciaram a graduação interessados em pequenos ou em grandes animais, muitos se formaram e foram trabalhar nas áreas de interesse e em algum momento, surgiu uma oportunidade que eles abraçaram e nela se encontraram!
Nem sempre será necessário optar, é possível conciliar a docência e outra área de atuação como a clínica médica, cirúrgica ou especialidades e você jamais será menos Médico Veterinário se porventura escolher a área acadêmica, afinal estará trabalhando na formação de seus futuros colegas de profissão!
Possibilidades e responsabilidades da atuação acadêmica
São muitas as atribuições possíveis ao médico veterinário que trilhe os caminhos da docência, dentre elas:
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Administração e coordenação acadêmica;
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Preparação de aulas, palestras e cursos;
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Consultorias;
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Pesquisa científica;
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Projetos de extensão universitária.
O docente pode participar diretamente da coordenação do curso de graduação, auxiliar na organização, ementa e elaboração de atividades, propondo à instituição melhorias e otimizações que agreguem mais qualidade ao curso de graduação.
Ao exercer a arte do ensino visando formar médicos veterinários conscientes de seu papel na sociedade e capacitados a desempenhar suas funções, o docente desenvolve inúmeras atividades didáticas, que se iniciam pelo próprio estudo e atualização frequentes, seja para a preparação dos conteúdos ou metodologias de avaliação. Conteúdos adicionais e complementares na forma de eventos como cursos de extensão, simpósios e congressos, também fazem parte do arsenal elaborado pelos docentes para facilitar o aprendizado e agregar mais conhecimento aos seus alunos.
Munidos da arte do ensino e de seu próprio exemplo, os docentes tem a capacidade de despertar o interesse dos alunos para a pesquisa científica, sendo esse um passo fundamental durante a graduação para que os alunos, de fato, conheçam o mundo acadêmico.
Professores que ensinam com brilho nos olhos, orgulhosos do conhecimento que estão transmitindo, motivam e inspiram seus alunos, e assim contribuem diretamente para as mudanças tão necessárias à Medicina Veterinária atual.
Orientar iniciações científicas e trabalhos acadêmicos, da revisão de literatura à pesquisa experimental, dos grupos de estudo e pesquisa aos treinamentos práticos em laboratórios, permitindo que os alunos vivenciem tais experiências e desenvolvam suas próprias habilidades.
A docência possibilita ao médico veterinário atuar simultaneamente em centros de pesquisa de saúde, coordenando pesquisas com animais, desenvolvendo vacinas e medicamentos de uso humano e veterinário.
As áreas de atuação do docente são quase tão amplas quanto a própria medicina veterinária, em instituições públicas e particulares, não se limitando apenas aos cursos de graduação veterinária, pois é possível ministrar conteúdos a alunos de outros cursos da área da saúde e ciências biológicas.
Docência, do interesse à especialização
A graduação em Medicina Veterinária costuma ser o primeiro passo rumo ao sucesso profissional, sendo na verdade um extenso, porém rápido, caminho de 5 anos que deveríamos trilhar com foco na viagem e não na chegada…Ou seja, viva sua graduação intensamente, dedique-se, experimente, busque oportunidades e aproveite-as, aprenda com tudo que chegar a você!
A formação de um docente pode e deve sim, se iniciar na graduação, inclusive várias universidades já oferecem um Programa de Iniciação à Docência (PID), que possibilita aos alunos de graduação experiências com atividades em disciplinas que talvez venham a lecionar no futuro. O programa pode incluir atividades de monitoria, treinamentos práticos, atividades pedagógicas por acompanhamento e auxílio aos professores em suas rotinas; enriquecendo a formação do estudante com vivências práticas da futura profissão.
Ainda que não existam programas similares na sua graduação, construa seu próprio caminho e crie oportunidades, converse com seus professores, demonstre interesse, pergunte por projetos de iniciação científica ou extensão, opções de estágio dentro e fora da universidade e em diferentes setores, não se limite à uma área apenas.
Tais iniciativas trarão oportunidades que devem ser abraçadas e quem sabe, tornem-se opções de carreira que nem haviam sido cogitadas, além do networking, pois professores também podem te recomendar mais adiante e sua formação acadêmica se beneficiará da experiência compartilhada pelos docentes que te orientarem nos projetos.
Atualização frequente é palavra de ordem na Medicina Veterinária, uma vez concluída a graduação, aproveite as oportunidades de trabalho, mas continue estudando, busque o que lhe faltou em cursos ou especializações.
As pós-graduações se dividem em lato sensu e stricto sensu, expressões do latim que significam respectivamente, sentido amplo e sentido estrito, ou seja, basicamente a primeira amplia os conhecimentos obtidos na graduação e a segunda foca na área acadêmica tradicional, pesquisa e produção científica.
O mestrado stricto sensu objetiva formar mestres e doutores capacitados de acordo com as áreas do conhecimento, através do estudo de técnicas ou processos que atendam as demandas do mercado de trabalho. Essa pós graduação visa complementar a formação acadêmica e pedagógica, buscando novas estratégias e técnicas de ensino-aprendizagem que, aliados à experiência prática, tornarão possíveis os necessários processos de mudanças frente às necessidades sociais atuais.
Enfim, a docência já foi referida como a arte das artes, pois não é possível aprender, sem que existam aqueles com o dom de ensinar, por isso, capacidade de adaptação, gestão de pessoas, organização, bom trabalho em equipe e disponibilidade para aprender continuamente, são características essenciais aos profissionais que almejam a área acadêmica.
“Seja um estudante enquanto você tiver algo a aprender, ou seja, por toda a vida.”
Henry L. Doherty
Referências
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