Nos tempos atuais, acompanhamos uma positiva expansão da Psicologia. Apesar disso, a identidade profissional do psicólogo é, muitas vezes, resumida exclusivamente à sua atuação clínica individual. Podemos relacionar isto à popularização dessa área específica de atuação, principalmente por ser uma das primeiras à se desenvolver e disseminar, e com o fato de que a Psicologia é uma ciência muito nova se comparada à outras – foi só no final do século XIX que ela deixou de ser um ramo da Filosofia!
É na graduação que muitos de nós descobrem a pluralidade do fazer psicológico. E é um campo tão vasto que dificilmente os 5 anos dão conta de explicar tudo, deixando-nos com certas dúvidas em determinadas áreas e práticas. E, uma das áreas não tão faladas na graduação, mas que vêm se popularizando ultimamente, é a Residência. Aqui, discutiremos um pouco mais sobre ela no contexto da Saúde da Família. E, o principal, o que faz o psicólogo?
Para começo de conversa, o que é Residência?
Existem dois tipos de residência: a uniprofissional e a multiprofissional. Mas, considerando a área da Saúde da Família, vamos nos atentar à segunda. Desde sua instituição, em 2005, a Residência Multiprofissional vem se destacando como uma atrativa opção de pós-graduação Lato Sensu. Os pontos positivos se dão devido ao acompanhamento de preceptores e tutores oferecido, o trabalho em equipes com profissionais diversificados, além da ênfase prática no chamado “ensino em serviço” – que configura 80% da carga horária total do programa!
Além disso, possui uma duração mínima de 2 anos, carga horária semanal de 60 horas e dispõe de uma bolsa-auxílio mensal de R$ 3.330,43. Nada mal, não é? Outro ponto interessante são as habilidades que o residente tem chance de desenvolver durante o programa, principalmente pela constante troca de conhecimentos com a equipe. Esta que pode contar com profissionais de áreas como: Enfermagem, Educação Física, Farmácia, Fisioterapia, Nutrição, Odontologia, Serviço Social e, claro, Psicologia. E, na Saúde da Família, o residente ainda trabalha junto às equipes de Estratégia de Saúde da Família (ESF).
Um pouco sobre a Saúde da Família
Em linhas gerais, esta se encontra no primeiro nível de atenção do Sistema Único de Saúde (SUS) e pode ser considerada uma estratégia de importância vital para o funcionamento, organização e promoção da atenção básica – vale lembrar que a Atenção Básica é a principal porta de entrada do SUS. Na prática, uma equipe de saúde da família é formada por: médico, enfermeiro, auxiliar de enfermagem e agentes comunitários de saúde e/ou de endemias. Para completar, a equipe pode contar também com cirurgião-dentista e auxiliar de consultório dentário ou técnico de higiene dental.
Essa equipe, acompanha uma quantia, estipulada por lei específica, de famílias que residem em um território delimitado. Com essa população, são realizadas ações que visam a promoção da saúde, assim como a prevenção, recuperação e reabilitação de doenças e agravos. Em suma, essa atenção busca, principalmente, prevenir o acometimento de doenças e possíveis agravantes, assim como acompanhar e manter estável quadros de saúde pré-existentes.
Mas, afinal, o que faz o psicólogo?
Os integrantes de uma equipe de Residência Multiprofissional em Saúde da Família devem atuar conjuntamente na assistência aos usuários do serviço, junto às equipes de ESF e do Núcleo Ampliado de Saúde da Família (NASF)*. Para isto, o primeiro passo é realizar um diagnóstico territorial para conhecer a comunidade, a realidade dos usuários e das equipes de ESF. Além de identificar as demandas e os recursos disponíveis, assim como os elementos constituintes da Rede de Atenção à Saúde (RAS) local. Só assim é possível planejar e aplicar as intervenções necessárias. Considerando a atuação do psicólogo, também é necessário um levantamento acerca do funcionamento dos serviços de saúde mental, como os Centros de Apoio Psicossociais (CAPs).
As atribuições do psicólogo com a população atendida configuram em:
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consulta – sendo um primeiro contato do psicólogo com o usuário, seja para triagem ou atendimento de situações de urgência e emergência que possam surgir;
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terapia – embora o foco da residência seja o trabalho em equipe voltado à comunidade como um coletivo, pode ser necessário que o psicólogo realize atendimentos individuais e/ou familiares, além de atendimentos com a finalidade de psicodiagnóstico (processo com tempo determinado que se utiliza de testes e técnicas psicológicas para uma possível classificação de caso, previsão de seu curso e elaboração de propostas interventivas);
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psicoterapia grupal – mediado pelo psicólogo, pode ter fins terapêuticos, nesse caso visando a melhoria de determinadas patologias identificadas na comunidade, e fins educativos, tanto para que a população conheça o funcionamento dos serviços, quanto visando sua participação social na formulação de políticas públicas em defesa do direito à saúde;
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oficinas terapêuticas – encontros também mediados pelo psicólogo com finalidade terapêutica e de promoção de saúde que se utilizam de métodos lúdicos, artísticos e de troca de experiências visando socialização e, principalmente, a expressão dos participantes; e,
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visita domiciliar – podendo ser realizada em conjunto com outros profissionais, seja para orientação, triagem e atendimento terapêutico, principalmente quando o usuário está impossibilitado de comparecer na unidade de saúde mais próxima.
No contexto do NASF os residentes multiprofissionais podem desempenhar com as equipes de ESF um papel de “apoio matricial” – ou matriciamento. Um apoiador matricial atua em uma determinada área de conhecimento diferente daquele dos profissionais da equipe de ESF, com isso pode acrescentar conhecimentos e contribuir com intervenções que podem aumentar a capacidade de resolução de problemas de saúde enfrentados por esta equipe.
Para isto, a equipe de residentes atuariam com atendimentos e intervenções conjuntas com a equipe de ESF e na realização de reuniões de troca de saberes entre equipes. A depender das demandas trazidas por estes, também podem ser realizadas oficinas que, por exemplo, visem um melhor entrosamento entre os integrantes da equipe ou, mesmo, terem uma finalidade motivacional.
Em conclusão, fica muito claro que a atuação do psicólogo vai muito além da clínica individual. E nesta modalidade de Residência, assim como em outras, diversas habilidades e competências são cobradas dos profissionais. Se você ficou interessado, dê uma olhada em outros artigos do Portal Sanar Saúde, com várias dicas de como se preparar para os processos seletivos de residências.
* O NASF, embora seja tema importante nos processos seletivos para residência, passou por alterações legislativas que, basicamente, acabam com sua obrigatoriedade, tornando livre os gestores municipais de formarem equipes multidisciplinares de saúde como julgarem melhor. Em linhas gerais, há uma perda de parâmetros para a formação de equipes, onde qualquer modelo pode ser adotado, assim como nenhum. O que pode resultar na inexistência do serviço, ou numa precarização tanto no atendimento ao usuário quanto no que diz respeito à jornada de trabalho dos profissionais.
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REFÊRENCIAS:
CEZAR, Pâmela Kurtz; RODRIGUES, Patrícia Matte; ARPINI, Dorian Mônica. A Psicologia na Estratégia de Saúde da Família: Vivências da Residência Multiprofissional. Psicol. cienc. prof., Brasília, v. 35, n. 1, p. 211-224, Mar. 2015.
CLEMENTE, Anselmo et al. Residência multiprofissional em saúde da família e a formação de psicólogos para a atuação na atenção básica. Saúde soc., São Paulo, v. 17, n. 1, p. 176-184, Mar. 2008.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Portaria nº 2.436, de 21 de setembro de 2017. Aprova a Política Nacional de Atenção Básica, estabelecendo a revisão de diretrizes para a organização da Atenção Básica, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). Diário Oficial da União 2017; 22 set.
RESIDÊNCIA Multiprofissional. Portal Mec. [s.d.]. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/residencias-em-saude/residencia-multiprofissional. Acesso em: 02 abr. 2021.
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SAÚDE da família perde modelo do NASF. Radis. 01 mar. 2020. Disponível em: https://radis.ensp.fiocruz.br/index.php/home/noticias/saude-da-familia-perde-modelo-do-nasf. Acesso em: 02 abr. 2021.