O conjunto dos dentes decíduos com a musculatura oral formam o equilíbrio necessário para que se exerça as funções de mastigação, fonética, deglutição, estética e manutenção do espaço bucal para a vinda dos dentes permanentes, pois servem de contenção dos antagonistas no plano oclusal. A troca da dentição decídua para a dentição permanente deve ocorrer de forma natural e ordenada para que permaneça o equilíbrio oclusal e que todas as funções permaneçam intactas [1]
Esse equilíbrio representa a saúde bucal e ela engloba um conceito amplo, desde de prevenção da doença cárie, da doença periodontal, patologias e traumas; todas essas situações clinicas podem, se não tratadas podem resultar em serias consequências futuras. A perca precoce dos dentes pode interferir negativamente no crescimento harmônico da face (maxila e mandíbula), na correta erupção e implantação dos demais dentes nas bases. O papel do cirurgião-dentista é a intervenção preventiva dessas doenças através de procedimentos, sejam eles restauradores, cirúrgicos e até ortodônticos [2].
O trauma dentário em crianças é uma situação clínica muito comum encontrada no dia a dia das clínicas odontológicas, ela geralmente aparece na forma de urgência e emergência em odontopediatria tanto no setor público como no privado e existem tipos de traumas que podem ser desde uma pequena fratura do esmalte até a perda definitiva do elemento dentário. [3]
Dentres as classificações de traumatismos dentais encontradas na literatura a que podemos destacar seria a de Andreasen, Andreasen (1994) que hoje é a mesma usada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que contém as seguintes lesões [4]:
1. Lesões dos tecidos duros do dente e da polpa:
– Fratura do esmalte e Fratura do esmalte-dentina: Geralmente ocorre em incisivos centrais superiores em suas faces mesial e incisal. Deve ser realizado radiografias e seu tratamento pode variar com a extensão da fratura,
– Fratura complicada da coroa: Essa se refere a exposição pulpar, onde também se deve realizar radiografias periapicais e seu tratamento depende de dois fatores a cooperação do paciente e o tempo de vida do dente decíduo.
2. Lesões aos tecidos duros do dente, à polpa e ao processo alveolar:
– Fratura da coroa-raiz: Nesse caso pode-se ou não ter envolvimento pulpar, na readiografia periapical deve-se observar uma linha radiolúcida oblíqua que compromete a coroa e a raiz em direção vertical, o tratamento seria a remoção dos fragmentos moveis. Não se deve insistir na remoção dos fragmentos radiculares.
– Fratura da raiz: O dente se encontra com mobilidade, onde o fragmento coronal não está deslocado, a raiz está completa e se o paciente cooperar o tratamento seria uma esplintagem com fio de aço e resina composta pode ser realizada. Deve-se orientar aos pais que o dente ainda permanecerá com mobilidade e que possivelmente terá uma perca coronária, deve-se esperar a substituição pela dentição permanente. Caso exista deslocamento coronário esse deve ser extraído e o fragmento da raiz deve ser deixado para que o organismo possa reabisorver-lo.
– Fratura alveolar: Dentes com mobilidades e deslocados, realizar radiografia e seu tratamente seria o reposicionamento do segmento e esplintagem nos dentes adjacentes por quatro semanas ou até 7 semanas ou extração.
3. Lesões aos tecidos periodontais (de sustentação):
– Concussão: Sensibilidade dental sem mobilidade, as radiografias não possuem alterações e caso o quadro se agrave com a presença de sensibilidade à percussão, aumento da mobilidade e osteíte periapical deve ser realizar um tratamento de canal.
– Subluxação: O dente apresenta mobilidade sem deslocamento, e o sulco gengival pode ou não apresentar sangramento. O tratamento é observação, porém deve-se atentar a higiene bucal para que se possa ter uma recuperação tecidual eficiente.
– Luxação lateral: Existe o deslocamento lateral, na maioria dos casos para palatina, caso o dente ocasione interferência oclusal esse deve-se reposicionado e esplitado.
– Luxação intrusiva: existe um deslocamento no sentido apical, onde esse ápice geralmente é deslocado para vestibular, tendo o ápice visível nas radiografias, caso tenha deslocamento em direção ao dente permanente, nesse caso deve-se realizar a extração.
– Luxação extrusiva: Existe mobilidade e deslocamento para fora do alvéolo, o tratamento é extração ou reposicionamento e esplintagem ( demendento de quanto o dente foi deslocado). A anquilose é um fator preocupante no tratamento.
– Avulsão: Dentes decíduos avulsionados não devem ser reimplantados por risco de infecção, anquilose e trauma aos dentes permanentes
Deve-se lembrar que o trauma no dente decíduo pode afetar o dente sucessor em desenvolvimento, afetando sua morfologia, posição e funcionalidade [5], Dente que sofreram trauma podem apresentar perda do suporte e estrutura dentária, possível sensibilidade, dor ao toque e morte. [3]
A perca precoce dos dentes decíduos pode estar ligada tanto a doença cárie como a traumas. No caso dos dentes anteriores existe uma prevalência por traumatismo, e em segundo lugar, pela doença cárie. Os dentes incisivos são os mais afetados, em sua maioria na faixa etária do 1 e 3 anos de idade, onde existe o processo de aprendizado motor ( andar) [6].
As consequências das perdas precoces decíduas dependem de sete fatores:
Qual foi a idade em que a criança sofreu a perda; Do espaço disponível na arcada dentária; Do padrão de erupção; Do padrão de intercuspidação; Da função muscular, Das características esqueléticas individuais; De como se encontra a região periodontal [7].
Uma das ações terapêuticas necessárias seria o uso de mantedores de espaço. Tendo sua função prevenir as consequências da perda do elemento e trazendo benefícios para a harmônica evolução dento facial (ALENCAR et al, 2007).
Concluímos que o traumatismo dental é uma das principais causas da perca dental dos dentes anteriores, que seu tratamento depende do tipo de trauma, dos tecidos afetados e que sempre necessitará da cooperação do paciente e que seus responsáveis devem também ser orientados devidamente para que o tratamento seja bem sucedido.
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Referências:
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SANTOS, Ana Gabriele da Cruz; MACHADO, Cíntia de Vasconcellos; TELLES, Paloma Dias da Silva e ROCHA, Maria Celina Barreiros Siquara da.Perda precoce de molares decíduos em crianças atendidas na Faculdade de Odontologia da Universidade Federal da Bahia. Odontol. Clín.-Cient. (Online) [online]. 2013, vol.12, n.3, pp. 189-193. ISSN 1677-3888.
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GATTI, Fernanda do Santos; MAAHS, Marcia Angelica Peter e BERTHOLD, Telmo Bandeira.Arco lingual como mantenedor de espaço na perda precoce de dentes decíduos. RFO UPF [online]. 2012, vol.17, n.1, pp. 91-95. ISSN 1413-4012.
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Pesq. Bras. Odontoped. Clin. Integr. João Pessoa, 12(2):263-72, abr./jun.,2012.
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Vasconcellos RJH, Oliveira DM, Nogueira RVB, Maciel AP, Cordeiro MC. Trauma na dentição decídua: enfoque atual. Rev Cir Traumatol Buco-Maxilo-Fac. 2003 Apr-Jun;3(2):17-24.
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J Indian. Soc. Pedod Prev. Dent. Abr.-Jun. 2009; 27 (2): 125-30. Doí: 10.4103 / 0970-4388.55341.
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CARDOSO, R. S. C. B; SIQUEIRA, T. D. A. Perda precoce da dentição decídua: analise da percepção das mães de crianças de 06 á 12 anos da escola Municipal Maria Fernandes, Manaus – AM. Boletim Informativo Unimotrisaúde em Sociogerontologia, BIUS Nº1 Vol.9, 2018.
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KISLING, E.; HOFFDING, J. Premature loss of primary teeth: art III, drifting patterns for different types of teeth loss of adjoining teeth. J Dent Child, Chicago, 1979; 46:34-38.
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ALENCAR, C.R.B.; CAVALCANTI, A.L.; BEZERRA, P.K.M. Perda precoce de dentes decíduos: etiologia, epidemiologia e consequências ortodônticas. UEPG: Ciências Biológicas e da Saúde, Ponta Grossa, v. 13, n. 1/2, p. 29-37, mar./jun. 2007.