Plantão psicológico: fundamentos básicos e evidências de seus resultados | Colunista

Introdução

O plantão psicológico se mostra cada dia mais importante no desenvolvimento de sua prática. Pesquisas mostram que os benefícios que se obtém ao se disponibilizar este tipo de serviço para a população são grandes mas, mesmo com todas estas evidências, poucos ainda conhecem este serviço.

Desta forma, o objetivo deste artigo é demonstrar, de forma sucinta, os fundamentos básicos do serviço de plantão psicológico e suas evidências como prática no âmbito da saúde mental. 

Desta forma, para que este objetivo seja possível, serão desenvolvidas ao longo deste artigo algumas características de sua prática, de seus fundamentos, as evidências dos resultados deste serviço e, por fim, a importância que este serviço tem na sociedade. 

1. BASES FUNDAMENTAIS DO PLANTÃO PSICOLÓGICO

O plantão psicológico se fundamenta em três pilares ao longo de sua prática, sendo estes: acolher e responder uma demanda emergencial; desenvolver um processo terapêutico que visa lutar contra as crises; e, por fim, agir de forma a tratar e prevenir estas crises emergenciais.

Desta forma, pode-se compreender que o plantão, de forma sucinta, define-se como

[…] um tipo de atendimento psicológico que se completa em si mesmo, realizado em uma ou mais consultas sem duração predeterminada, objetivando receber qualquer pessoa no momento exato (ou quase exato) de sua necessidade para ajudá-la a compreender melhor sua emergência e, se necessário, encaminhá-la a outros serviços. (TASSINARI, 2009, p. 176)

Assim, o plantonista que esteja em serviço deve sempre estar atento às demandas que podem aparecer, isto é, “deve estar disposto ao não planejado, à possibilidade do encontro ser único e, tentar responder à demanda daquele que procura por este serviço naquele momento específico.” (DOESCHER; HENRIQUES, 2012, p. 718)

Outra característica, como já citada, é a de que o plantão visa lutar contra crises. Ao se definir uma crise vivencial, pode-se dizer que esta define-se como “uma vivência de paralisação do processo de vida, invadido por um sentimento de confusão e solidão. O futuro parece vazio e o presente fica paralisado.” (MOFFAT,1986 apud GOMES, 2012, p21). Assim, pode-se afirmar que o plantão é uma luta contra esta paralisação da vida, uma busca da ordem para a possível resolução desta confusão;

É de suma importância compreender que o plantão objetiva, também, a prevenção e, quando possível, um tratamento. Prevenção é quando um problema aparece na vida de um indivíduo, e procura-se desenvolver um processo terapêutico que ajude a evitar o desenvolvimento do problema, com decorrer do tempo, em um transtorno específico. 

Tratamento, quando possível, aplica-se a duas situações, primeiramente quando pode-se desenvolver um processo psicoterapêutico que não demande uma numerosa quantidade de atendimentos; e quando o problema se trata de questões pontuais, das quais podem ser tratadas em um processo mais simples e direto. (STERIAN, 2003) 

2. EVIDÊNCIAS DOS RESULTADOS DO SERVIÇO DE PLANTÃO

O plantão, por ser um serviço há muito praticado ao longo do desenvolvimento dos serviços de saúde mental, demonstra ter resultados muito positivos em diversos âmbitos e através de diversas abordagens.

Muitos estudos demonstraram estes resultados positivos, isto é, em centro de idosos os quais a prática do plantão mostrou ter resultados essenciais na saúde mental de pacientes da terceira idade ao longo de oito meses (RAMOS, et al, 2012);  em escolas e universidades (DO NASCIMENTO BEZERRA, 2014; DO ROSARIO; NETO, 2015), que pôde-se observar uma melhora significativa nos humores de todos aqueles que participaram deste processo, tornando o ambiente mais tranquilo entre as pessoas que ali convivem;  hospitais (PALMIERI; CURY, 2007), sendo este serviço muito bem visto e apreciado por todos os participantes, tendo uma efetividade no trabalho da saúde mental de todos aqueles que procuravam por este serviço.

Na delegacia para mulheres (FARINHA; SOUZA, 2016) que, por ser uma ambiente rodeado de conflitos pelas demandas da profissão, necessita de um serviço de plantão psicológico que esteja pronto para atender aqueles que necessitam e, como mostram os resultados, traz enormes benefícios para os que dele necessitam;  e comunidades (COIN-CARVALHO; OSTRONOFF, 2014) por ser um ambiente carente, mostrou ter ótimos resultados para a população que necessitava de um apoio psicológico.

Além disso, estudos demonstram que pôde-se observar uma melhora significativa no humor dos pacientes que passam por este tipo de serviço (GOMES, 2012). Assim, fazendo com que o serviço de plantão seja muitas vezes ampliado para o máximo de pessoas possíveis, alcançando a satisfação no acolhimento, rapidez e no bem-estar proporcionado. (ORTOLAN; SEI, 2019)

3. A IMPORTÂNCIA DO SERVIÇO DE PLANTÃO PSICOLÓGICO

O plantão, por ser um serviço emergencial, do qual sempre está à disposição do público, é de extrema importância diante dos imprevistos da vida.

O foco do plantão é, como já dito, é estar presente em um momento de emergência, e isto é algo fundamental para os momentos de crises. No decorrer da vida muitos são os fatores estressantes e, muitas vezes, não há possibilidade de esperar para que seja marcado um serviço de psicoterapia, assim, o serviço de plantão se mostra essencial para estes momentos emergências ou de crises.

Outra característica importante a se considerar sobre o serviço de plantão é de que, apesar de não ser um serviço que visa a cura do paciente, é um serviço que desenvolve uma reflexão sobre os assuntos presentes na vida do paciente e, também, ajuda a buscar atitudes concretas para que o paciente, nestes momentos, possa lidar com os problemas presentes e novas crises e de emergências que possam surgir no futuro.

Sendo assim, o plantão pode ser definido como o Pronto Socorro psicológico, lugar onde aqueles que estão passando por emergências, crises, ou mesmo dificuldades das quais buscam ajuda para superar, podem ir a qualquer momento procurar, para que, assim, possa ser atendido e ajudado em suas demandas. Isto é:

Considerando a inexistência de profissionais suficientes, no serviço público, para atender a demanda da população, o atendimento de emergência torna-se não só uma utilidade, como uma necessidade. (GOMES, 2012, p21)

Por fim, o plantão, através dos dados aqui apresentados, mostra-se necessário para os indivíduos em geral, pois é um serviço de maior facilidade em ser encontrado e, também, mais direcionado às demandas específicas que são trazidas. 

Considerações finais

O plantão psicológico é uma prática que há muito foi consolidada como parte intrínseca ao âmbito da saúde mental. Muitos resultados positivos são observados através de sua prática e, principalmente, muito ainda está sendo desenvolvido para que este serviço seja ainda melhor.

Como já dito, o objetivo deste artigo era apresentar e descrever, de forma sucinta, os fundamentos básicos do serviço de plantão, alguns detalhes de sua prática e as evidências que apoiam a sua importância para a saúde mental.

Desta forma, pôde-se compreender que o serviço de plantão tem suma importância no desenvolvimento da saúde mental, isto é, sendo uma prática consolidada em diversos âmbitos profissionais e um serviço emergencial para aqueles que necessitam, a qualquer momento, mostra-se um apoio de pronto socorro, um apoio efetivo e necessário para aqueles que se deparam com algum sofrimento.

Por fim, outros detalhes mais específicos, podem ser ainda trabalhados sobre o serviço de plantão e sobre seus resultados, assim, este artigo, acredita-se, abre portas para aqueles que se interessam neste tipo de serviço e que possam, assim, desenvolver novos estudos sobre esta prática tão rica e necessária.
 

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REFERÊNCIAS 

TASSINARI, M. Plantão psicológico como promoção de saúde. In: BACELLAR, A. A psicologia humanista na prática: reflexões sobre a abordagem centrada na pessoa. Palhoça: Editora da UNISUL, 2009.

DOESCHER, Andréa Marques Leão; HENRIQUES, Wilma Magaldi. Plantão psicológico: Um encontro com o outro na urgência. Psicologia em Estudo, v. 17, n. 4, p. 717-723, 2012.

GOMES, Fernanda Maria Donato. PLANTÃO PSICOLÓGICO–ATENDIMENTOS EM SITUAÇÕES DE CRISE. Vínculo-Revista do NESME, v. 9, n. 2, p. 18-26, 2012.

STERIAN, A. Emergências Psiquiátricas: Uma abordagem psicanalítica. São Paulo: casa do psicólogo, 2003.

RAMOS, Maísa Tordin et al. Plantão psicológico em instituição de longa permanência para idosos: um estudo fenomenológico. 2012.

DO NASCIMENTO BEZERRA, Edson. Plantão psicológico como modalidade de atendimento em psicologia escolar: Limites e possibilidades. Estudos e Pesquisas em Psicologia, v. 14, n. 1, p. 129-143, 2014.

DO ROSARIO, Ângela Buciano; NETO, Fuad Kyrillos. Plantão Psicológico em uma Clínica-Escola de Psicologia: saúde pública e psicanálise. A PESTE: Revista de Psicanálise e Sociedade e Filosofia., v. 7, n. 1, 2015.

SCORSOLINI-COMIN, Fabio. Plantão psicológico centrado na pessoa: Intervenção etnopsicológica em terreiro de umbanda. Temas em Psicologia, v. 22, n. 4, p. 885-899, 2014.

PALMIERI, Tatiana Hoffmann; CURY, Vera Engler. Plantão psicológico em hospital geral: um estudo fenomenológico. Psicologia: reflexão e crítica, v. 20, n. 3, p. 472-479, 2007.

FARINHA, Marciana Gonçalves; SOUZA, Tatiana Machiavelli Carmo. Plantão psicológico na delegacia da mulher: experiência de atendimento sócio-clínico. Revista da SPAGESP, v. 17, n. 1, p. 65-79, 2016.

COIN-CARVALHO, João Eduardo; OSTRONOFF, Vera Helena. Cuidado e transformação social: avaliação da implantação do plantão comunitário no Complexo da Funerária. Estudos de Psicologia (Natal), v. 19, n. 2, p. 138-144, 2014.

ORTOLAN, Maria Lúcia Mantovanelli; SEI, Maíra Bonafé. Avaliação do plantão psicológico de um serviço-escola de Psicologia. Interação em Psicologia, v. 23, n. 02, 2019