Introdução
Este artigo tem como objetivo a descrição do tratamento que duas abordagens específicas desenvolvem sobre o transtorno depressivo, mostrando, assim, suas características fundamentais e técnicas que estas duas abordagens usam.
Para que isto seja possível os seguintes tópicos serão trabalhados: primeiramente serão descritas as bases fundamentais destas duas abordagens; em seguida serão descritas as formas que estas duas abordagens interpretam e compreendem o transtorno depressivo; para, enfim, descrever os objetivos do tratamento e algumas técnicas que estas duas abordagens desenvolvem ao trabalharem neste transtorno.
1. Bases fundamentais
1.1 O que é a TCC (Terapia Cognitivo-Comportamental)
A TCC, de forma sucinta, trata-se de uma abordagem direcionada ao processo cognitivo do indivíduo, isto é, ela, apesar de usar técnicas comportamentais, mantêm seu foco de compreensão e tratamento nos processos cognitivos do indivíduo, sempre se direcionando aos pensamentos, crenças e interpretações que o indivíduo faz do mundo e de si mesmo. Para Beck:
Em poucas palavras, o modelo cognitivo propõe que o pensamento disfuncional (que influencia o humor e o pensamento do paciente) é comum a todos os transtornos psicológicos. Quando as pessoas aprendem a avaliar seu pensamento de forma mais realista e adaptativa, elas obtêm uma melhora em seu estado emocional e no comportamento. (Beck, 2013, p.23)
Desta forma, entende-se que a TCC é fundamentada no pressuposto teórico de que os sentimentos e comportamentos são claramente determinados pela forma que o indivíduo interpreta o mundo ao seu redor, formando esquemas cognitivos que se desenvolvem através das experiencias que o indivíduo teve ao longo de sua vida. (MORENO, 2014)
1.2. O que é o Behaviorismo
O behaviorismo, por outro lado, é diretamente focado às influências do ambiente e sobre o comportamento do indivíduo dentro deste ambiente, pois carrega como pressupostos a negação de qualquer tipo de mentalismo, aceitando apenas a determinação ambiental dos comportamentos. Isto é:
Para o behaviorismo radical, é nas relações com o ambiente externo que devem ser buscadas as explicações para o comportamento, que seria o produto de três tipos de seleção: a seleção natural (ou filogênese), o condicionamento operante (ou ontogênese) e a evolução das contingências sociais do comportamento (cultura) que explicam os amplos repertórios característicos da espécie humana. (CAVALCANTE, 1997, p.6)
2. A interpretação da TCC e do Behaviorismo sobre o transtorno depressivo
2.1. A depressão segundo TCC
Primeiramente deve-se compreender que, para a TCC, a depressão é causada por interpretações disfuncionais que o indivíduo faz de sua própria vida e sobre eventos cotidiano da mesma, isto é, estes sintomas estão ligados ao que Beck chamará de tríade cognitiva depressiva, do qual consiste em três pilares de interpretações disfuncionais: interpretações em relação a si mesmo, em relação ao mundo e em relação ao futuro.
Em outras palavras, a depressão podia ser compreendida como sendo decorrente das próprias cognições e esquemas cognitivos disfuncionais. Os pacientes com depressão acreditam e agem como se as coisas estivessem piores do que realmente são. (POWELL, et al. 2008, p.74)
2.2. A depressão segundo o behaviorismo
O behaviorismo, como já dito, é uma abordagem totalmente direcionada ao ambiente e a suas influências no comportamento do indivíduo. Para esta abordagem não existe processo mental do qual é determinante no humor e no comportamento deste indivíduo.
Desta forma, a depressão, para o behaviorismo, é compreendida através da interação com o ambiente e através da análise das contingências.
Deve-se compreender, também, que os processos pelos quais o behaviorismo interpreta o transtorno depressivo estão ligados aos conceitos de baixa densidade de reforço, o qual o indivíduo já não tem muitas sensações que o incentive a ter uma maior atividade em sua vida; punição positiva ou negativa, que consiste em fazer com que o indivíduo se sinta mal diante de alguma situação como resultado de algum comportamento específico; e comportamento verbal autodepreciativo que se apresenta como reclamações, autocríticas severas e insultos sobre si mesmo. Estes são comportamentos que reforçam o desenvolvimento dos comportamentos depressivos, isto é, são estímulos que aumentam significativamente respostas como a tristeza e a frustração. (DOUGHER; HACKBERT, 2003)
3. O trabalho diante do transtorno depressivo segundo a TCC e o Behaviorismo.
3.1 O trabalho diante do transtorno depressivo segundo a TCC
Diante do transtorno depressivo a TCC, com já dito, observa a tríade cognitiva, da qual se baseia em três categorias de pensamentos e crenças disfuncionais, assim, de forma sucinta, sua prática no tratamento da depressão consiste em remodelar estas cognições disfuncionais em busca de desenvolver formas de compreensão e interpretação mais funcionais.
Sendo assim, a TCC se foca na modificação de crenças e pensamentos disfuncionais desenvolvidas ao longo das experiencias que o sujeito teve em sua vida. As evidências mostram que, ao fazer esta modificação, acontecerá necessariamente uma mudança no humor do paciente fazendo com que seus pensamentos e crenças, que foram modificados, já não os deprima. (MORENO, 2014)
Outras estratégias que são usadas ao longo do tratamento da TCC sobre a depressão, são técnicas como o desenvolvimento de habilidades sociais, técnicas de confrontação de pensamentos negativos, das quais ajudarão o paciente a avaliar os próprio pensamentos e crenças.
Outras estratégias também são usadas como B.A (behavioral activation) que consiste na ativação comportamental como o diário de maestria e de prazer, o registro das atividades, o ensaio comportamental e técnicas de relaxamento. O MindFunlness que consiste em ensinar os pacientes a ter uma observação mais atenta aos seus sentimentos e pensamentos, direcionando sua atenção para a própria respiração, mudanças corporais, mudança no humor e nos pensamentos que vem à mente. (CARNEIRO, 2016)
3.2 O trabalho diante do transtorno depressivo segundo o Behaviorismo
Para que se possa compreender o tratamento do transtorno depressivo segundo o behaviorismo, serão descritos o uso de três tipos de psicoterapia, das quais podem ser usadas juntas, de forma multidisciplinar, ou separadas de forma mais especifica.
Primeiramente pode-se citar a terapia comportamental ou analítico-comportamental, esta terapia tem como objetivo analisar funcionalmente os estímulos e respostas relacionados ao comportamento do indivíduo, descobrindo e compreendendo os eventos que levaram o individuo a ter o repertório de comportamentos depressivos. Assim, através desta análise, são descobertos os comportamentos públicos e privados relacionados aos comportamentos ruins e, assim, é possível o treino de novos comportamentos para um repertório novo e melhor. (DOUGHER; HACKBERT, 2003)
Outra terapia usada dentro da abordagem analítico-comportamental é Psicoterapia analítica funcional (FAP) que tem por objetivo a modificação de comportamentos que se mostram relevantes dentro da própria clínica, sendo estes comportamentos chamados de CRB.
Estes CRB são organizados em 3 tipos específicos, CRB1, CRB2 e CRB3, sendo o primeiro um comportamento que o paciente próprio apresenta na sessão de psicoterapia e que deve ser modificado na própria sessão; os CRB2 se definem como o desenvolvimento de um novo repertório de comportamentos que levarão a clara melhora do paciente durante a sessão e, por fim, o CRB3, que são as crenças e interpretações do paciente em relação aos problemas tratados ao longo da sessão. (CARDOSO, 2014)
Pode-se entender, desta forma que esta psicoterapia se fundamenta em descobrir os comportamentos-problemas que o paciente trás à sessão, modifica-los desenvolvendo novos comportamentos mais adequados e, por fim, trabalhar as crenças e interpretações do paciente ao longo da sessão.
Outra psicoterapia de extrema importância é a ativação comportamental ou Behavoir activation (B.A) estudos mostram que a importância do B.A é tão significativa quanto as intervenções cognitivas.
”A filosofia central da BA seria promover atividades que levariam à resolução dos problemas e, com isso, à promoção do aumento das possibilidades do contato com contingências de reforçamento positivo. […] Caberia então ao terapeuta tentar mapear quais contingências estariam mantendo os comportamentos depressivos do cliente e, assim, alterá-las.” (ABREU, 2006, p. 326)
Por fim, é possível compreender que o tratamento da depressão, segundo o behaviorismo, se dá através da compreensão dos comportamentos do paciente, para, assim, haja uma modificação dos comportamentos-problemas através das terapias citadas acima.
Considerações finais
Ao longo deste artigo pode-se compreender que apesar das semelhanças que estas abordagens carregam entre si, muitas diferenças podem ser observadas ao longo deste artigo. Enquanto a TCC é uma abordagem direcionada ao tratamento da depressão relacionada ao processo cognitivo, isto é, interpretações e crenças que o sujeito tem de si mesmo e do mundo e modificar estas crenças e interpretações quando forem disfuncionais, o Behaviorismo, por outro lado, nega eventos mentais e foca o desenvolvimento de seu tratamento psicoterapêutico em analisar e modificar os comportamentos-problemas que o indivíduo desenvolveu ao longo de sua vida ajudando o paciente a criar novos comportamentos melhores.
Como já dito, o objetivo deste artigo era descrever de forma sucinta as características fundamentais dos tratamentos do transtorno depressivo destas duas abordagens e, para que isso fosse possível, os tópicos acima foram trabalhados de forma que os fundamentos destas duas abordagens fossem compreendidos e relacionados na prática deste transtorno.
Por fim, existem muitos outros detalhes dos quais podem ser pesquisados e descritos sobre estas duas abordagens e de suas relações com o transtorno depressivo, desta forma, acredita-se que, com este artigo, novas portas podem ser abertas aqueles que buscam se aprofundar mais e mais neste assunto tão rico.
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Referências:
ABREU, Paulo Roberto. Terapia analítico-comportamental da depressão: uma antiga ou uma nova ciência aplicada?. Archives of Clinical Psychiatry (São Paulo), v. 33, n. 6, p. 322-328, 2006.
BECK, Judith S. Terapia cognitivo-comportamental. Artmed Editora, 2013.
CARDOSO, Luciana Roberta Donola. Psicoterapias comportamentais no tratamento da depressão. Psicologia argumento, v. 29, n. 67, 2017.
CARNEIRO, Adriana Munhoz et al. Tratamento cognitivo-comportamental para depressão maior: uma revisão narrativa. Revista Brasileira de Terapias Cognitivas, v. 12, n. 1, p. 42-49, 2016.
CAVALCANTE, Simone Neno. Notas sobre o fenômeno depressão a partir de uma perspectiva analítico-comportamental. Psicologia: Ciência e Profissão, v. 17, n. 2, p. 2-12, 1997.
DOUGHER, Michael J.; HACKBERT, Lucianne. Uma explicação analítico-comportamental da depressão e o relato de um caso utilizando procedimentos baseados na aceitação. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, v. 5, n. 2, p. 167-184, 2003.
MORENO, André Luiz; CARVALHO, Rubem Gomes Neves de. Terapia cognitivo-comportamental breve para sintomas de ansiedade e depressão. Revista Brasileira de Terapias Cognitivas, v. 10, n. 2, p. 70-75, 2014.
POWELL, Vania Bitencourt et al. Terapia cognitivo-comportamental da depressão. Brazilian Journal of Psychiatry, v. 30, p. s73-s80, 2008.