As práticas de regeneração aplicadas na endodontia tiveram seu início com os estudos de NyggardOstby e Hjortdal na década de 70, onde sua pesquisa tinha como objetivo observar o processo de reparo do canal radicular após a remoção da polpa em casos de de polpa vitalizada e morta. A pesquisa mostrou que o coágulo é imprescindível para a formação de um novo tecido conjuntivo fibroso no canal vazio. (Nygaard-Osbtby, 1971)
A remoção da polpa é um tratamento necessário nos casos de cárie profunda ou trauma quando o equilíbrio homeostático é perdida ou existe uma interrupção dos acessos nutritivos da polpa. Ao se remover a polpa ela é substituída por materiais biocompatíveis, o tratamento tem por objetivo reestabelecer a função e eliminar os focos de infecção. porém esse tratamento acaba por retirar a sensibilidade do dente, pois também são removidos os tecidos nervosos. (Athirasala et al. 2019).
Existe também a possibilidade de fechamento que o dente ocupava com tratamento ortodôntico, preparados para próteses ou implantes, ou para transplantes (Hariri & Alzoubi, 2019).
Os transplantes de órgãos dentais que revolucionaram o âmbito da saúde seja eles os autotransplantes ou transplantes dentários (Mockers et al., 2004). Hoje com a evolução na manipulação laboratorial de células, foi possível a utilização de células-tronco de dentes decíduos esfoliados humanos sobre o Puramatrix, que se trata de um colágeno tipo I como meio (Rosa et. al, 2013). Alguns dos avanços dos estudos sobre células-tronco que auxiliam na terapia de regeneração do complexo polpar:
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A Utilização de células-tronco mesenquimais;
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Diferenciação celular ou citocinas, juntamente com fatores de crescimento e de migração (homing);
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A utilização de matriz extracelular
Revisão de literatura
O procedimento de transplante seria por definição definido como a transferência de um órgão ou tecido, onde esse passaria por um processo de revascularização com a ligação aos vasos do receptor como o objetivo de substituir ou compensar uma determinada função. O termo “auto” significa autógeno, onde o tecido ou órgão transplantado tem sua origem do próprio paciente receptor, por exemplo um enxerto ósseo (Larousse médical, 2012).
Então o transplante dentário autógeno, ou autotransplante, seria uma manobra cirúrgica onde um dente é relocado para o lugar de outro dente ou onde uma polpa é reimplantada em dente onde a polpa foi comprometida (Yau et al., 2001).
Esse procedimento seria uma opção de tratamento rápida, viável e rentável, principalmente em relação à pacientes mais jovens. (Nim?enko et al., 2013).
As indicações mais comuns para autotransplante é a substituição de um dente comprometido por diversas causas (cárie profunda, trauma, dentre outros) com o objetivo de reconstruir o dente e suas funções e estética por uma técnica conservadora. O principal dente em que se pode realizar esse procedimento seria o primeiro molar, pois quando há perca do primeiro molar em casos de pacientes jovens. O espaço remanescente pode originalizar problemas oclusais e nem sempre é possível substituir esse dente por um implante devido ao fato que pode resultar em uma infraoclusão e o autotransplante seria uma possibilidade terapêutica de contornar isso (Nim?enko et al., 2013).
Existe algumas contraindicações para a terapia de autoimplante, essas seriam doenças pré-existência :
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Doença cardíaca (Valvulopatia, Enfarte recente)
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Hemopatias (Hemofilia, distúrbios de hemostasia grave) – Certas osteopatias (Osteomalacia, doença de Paget)
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Determinadas doenças imunológicas e tratamentos imunossupressores
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Maxilares altamente irradiados
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Tratamento com Bifosfonato
Também podemos considerar como contraindicações locais a falta de higiene, tabagismo, alcoólicos, diabéticos, mulheres grávidas e doenças periodontais ativas (Nim?enko et al., 2013).
Como principal vantagens do autotransplante, em relação aos demais tratamentos seria a menor rejeição, manutenção funcional do dente. Existe a possibilidade da preservação da polpa dentária do dente autotransplantado em caso de imaturidade e de normalidade do ligamento periodontal, onde pode-se observar uma capacidade de formação e regeneração óssea (Nim?enko et al., 2013).
Algumas vantagens do autotransplante dentário (Park et al., 2010):
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Idade do paciente: Não existe idade limite para a terapia, porém é importante expor que os resultados sejam melhores em indivíduos com menos de 20 anos de idade;
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Funcionalidade e estética: Existe a preservação do ligamento para absorção de choque. Permite a erupção normal dos dentes permanentes;
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Papila: É possível uma papila dentária;
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Ortodontia: Permite a movimentação ortodôntica;
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Duração do tratamento: Não existe a necessidade de espera por osseointegração;
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Custo: Mais barato;
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Resultados a longo prazo: Os resultados a longo prazo são também excelentes.
O autotransplante pulpar consiste em remover uma polpa vitalizada de um outro dente do paciente, geralmente do terceiro molar, e coloca-la em no dente receptor, onde o dente receptor é previamente trabalhando para favorecer a viabilidade do transplante (instrumentação e irrigantes como minociclina, metronidazol e ciprofloxacino) e porfim, proteção com capeamento direto. (Vishwanath, 2018)
Como todo tipo de tratamento o autotransplante tem seus fatores condicionantes:
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Idade do paciente: Os resultados são melhores quando o paciente se encontra em um período de crescimento parece ser mais favorável (Garcia, 2005).
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Tabagismo e bruxismo: A nicotina provoca uma reação de defesa do organismo o que pode interferir na revascularização do tecido transplantado e causando perda óssea (Underner et al., 2009). No caso do bruxismo, existe uma intervenção negativa no período inicial de cicatrização do transplanteo que conduz inevitavelmente à necrose dos restos desmodontais radiculares e compromete definitivamente o futuro do transplante (Garcia, 2005)
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Higiene do paciente: Um paciente com má higiene oral, uma condição periodontal instável ou um risco elevado de cárie reduz tem uma menor a probabilidade de sucesso de um autotransplante, é por esse motivo que se deve realizar uma limpeza, remoção de tártaros e orientação de higiene para o paciente antes de realizar o procedimento (Petersen & Ogawa, 2012).
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O transplante: É necessário efetuar um estudo para verificar o tamanho do dente a ser implantado e do espaço disponível, tamanho da coroa e das raizes (Park et al., 2010).
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Antecedentes dos transplantes: Dentes com história de cárie ou tratamento endodôntico envolvem penetração bacteriana nos túbulos, aumentando a taxa de insucesso dos autotransplantes (Aoyama et al., 2012).
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Estudo radiográfico: O primeiro passo para se analisar o dente a ser transplantado seria pelas radiografias, onde a radiografia retroalveolar determinará o diâmetro mesiodistal e o comprimento total do transplante, e a radiografia oclusal dar-nos-á informações sobre o seu diâmetro vestíbulo-lingual (Atlas de réimplantation et transplantation dentaire, 1993).
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Aspeto endodôntico: Os dentes com apice abertos ou fechados podem ser usados como transplantes, porém os dentes com ápice aberto possuem maior sucesso no tratamento (Tsukiboshi et al., 2019).
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Tratamento endodôntico: Hoje é desaconselhado o tratamento endodôntico do dente a ser implantado fora da boca (Atlas of traumatic injuries to the teeth, 2018).
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O ligamento periodontal: Existe a necessidade de se respeitar o saco folicular do transplante para que a camada celular desmodontal que cobre a sua superfície radicular, pois o ligamento periodontal contém células estaminais com capacidades altamente reparadoras e regenerativas (Marques-Ferreira et al., 2011).
Conclusão
O autotransplante seria uma excelente alternativa para casos de trauma, cárie extensa e comprometimento pulpar, pois mantém o tecido ósseo, promovendo a osseointegração e permitindo a erupção dos dentes permanentes em pacientes na fase de crescimento.
Matérias relacionadas:
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- Cirurgia robótica transoral no tratamento do câncer de cabeça e pescoço
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