O câncer não é uma doença fácil. Em se tratando do diagnóstico do câncer de mama, motivo de alerta no Outubro Rosa, a situação fica ainda mais complexa. Nesse contexto, uma atenção integral em Saúde é muito importante. Pensando nisso, vamos falar sobre saúde mental e câncer de mama: 4 demandas emocionais que profissionais de saúde devem se atentar.
Afinal, num mundo que cobra cada vez mais das mulheres, a vulnerabilidade diante de uma doença tão assustadora dispara gatilhos desafiadores para a saúde mental.
Numa sociedade que cobra performance de feminilidade, como lidar com a perda dos cabelos numa quimioterapia ou com a retirada das mamas?
A sobrecarga emocional é inevitável. Certamente, o impacto não é igual em todos os casos, ou para todas as mulheres. Mas, na grande maioria das vezes, as demandas emocionais existem e é preciso que profissionais de saúde estejam cada vez mais atentos aos sinais.
Só assim será possível dar o suporte que a mulher diagnosticada com câncer de mama precisa para se manter firme no tratamento dessa que é uma das doenças mais temidas por parte da população feminina.
Neste post, separamos as demandas emocionais mais frequentes para te ajudar na atenção às pacientes que passam por momentos desafiadores no tratamento do câncer.
Confira!
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Saúde mental e câncer de mama
É inegável que a confirmação de um câncer abala as estruturas de qualquer um. Portanto, para além do tratamento da doença em si, é preciso olhar com atenção para emocional desssa paciente.
Afinal, ele marca a forma como a doença e o tratamento serão encarados. Nesse sentido, um atendimento profissional faz toda a diferença.
Paralelamente a isso, claro, contribuem muito a acolhida dos familiares que, muitas vezes, também precisam participar de algum processo terapêutico.
A seguir, elencamos 4 demandas emocionais que profissionais de saúde devem se atentar no contexto do câncer de mama.
1. Descrença no diagnóstico
Não tem jeito, tudo começa no diagnóstico. Mas para que os primeiros passos sejam dados, é preciso aceitar que se está com a doença.
Muitas vezes, esse é o principal entrave: ao receber o diagnóstico do câncer de mama, há pacientes que negam a si mesmas o que acabaram de ouvir. A consequência disso é a demora no início do tratamento e possíveis complicações da doença.
Estudo publicado na Revista Latino-Americana de Enfermagem sugere que essa demanda emocional é mais associada às mulheres que se encontram em condição de pobreza, já que estar doente implica perder a capacidade de trabalhar. Negar a doença seria uma forma de manter a rotina de trabalho e atender necessidades básicas, como alimentação e moradia.
No caso de mulheres de baixa renda, existe também uma noção de “não poder se dar ao luxo de adoecer”, já que são elas as responsáveis por manter o bem-estar da casa e da família – isso quando não é ela mesma a única responsável pelo sustento dos filhos.
Percebe o quanto é complexa essa situação?
2. Estoicismo
O estoicismo é marcado pela aceitação resignada de uma situação vivida por acreditar que se trata do destino. Esse pensamento se manifesta pela noção de “destino”, de “vontade divina”, do “está escrito”, para explicar o diagnóstico.
Essa forma de pensar pode impactar no tratamento, já que, por mais que a paciente concorde em aderir às medidas recomendadas pela equipe de saúde, pode sempre ficar um quê de incredulidade. Se tudo está pré-definido, “escrito”, seria possível existir formas de influenciar a cura da doença? Por outro lado, valeria à pena passar por todo o processo de tratamento?
Essa tendência a sufocar as emoções pode representar um importante trauma psicológico, já que envolve a feminilidade e a sexualidade da mulher. É uma via de mão dupla no impacto físico e emocional, que se reflete na imagem corporal.
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3.Depressão ou ansiedade
Diante de uma doença tão temida, a depressão e a ansiedade são quadros possíveis de se manifestar nas pacientes de câncer de mama. Estudo publicado na Revista de Psiquiatria Clínica, por exemplo, cita que a prevalência desses quadros no primeiro ano da doença é duas vezes maior do que o da população feminina em geral.
Em caso de remissão, os níveis se igualam aos da população geral. Se houver recorrência do câncer, pode haver aumento nos níveis de depressão e ansiedade.
A manifestação dos transtornos está mais associada à paciente em si do que à doença ou ao tratamento. A quimioterapia pode ser um fator de risco durante o tratamento, mas não após.
IMPORTANTE: É recomendado, portanto, que as pacientes sejam acompanhadas por psicólogos e especialistas psiquiátricos desde o início do tratamento. Isso vale, principalmente, aquelas que manifestaram quadro depressivo desde antes do diagnóstico.
4.Sentimento de vulnerabilidade
Por último, mas não menos importante está a sensação de vulnerabilidade. Ela costuma ser mais presente em pacientes jovens, de até 40 anos.
Existem sintomas físicos, como fogachos, dificuldades de controle vesical ou secura vaginal, mas há também efeitos na esfera psicossocial: medo da morte, impossibilidade de retornar ao trabalho e imagem corporal associada à sexualidade, entre outros.
Neste último caso, a ruptura na identidade feminina é decorrente da perda de cabelos devido à quimioterapia, de alterações de peso, da perda de saúde mental, da baixa autoestima.
A relação com o parceiro também é um agravante. Existe a dificuldade do homem compreender a situação desafiadora pela qual passa a companheira, mas também existe o medo da mulher ser abandonada por pensar que está privando seu parceiro da atividade sexual. O sentimento tende a piorar nos casos em que a mulher está em idade reprodutiva e ainda não tem filhos.
Referências
Câncer de mama, pobreza e saúde mental: resposta emocional à doença em mulheres de camadas populares
A oncopsiquiatria no câncer de mama – considerações a respeito de questões do feminino
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