1. O que são antidepressivos?
É um grupo formado por fármacos capazes de reverter e tratar os sintomas da depressão.
2. Qual a diferença do tratamento para depressão unipolar e bipolar?
A depressão unipolar visa reverter o estado de humor deprimido para o estado saudável. Já na condição bipolar, o objetivo do tratamento não só é atingir o estado de cura ou remissão, mas também estabilizar o humor o maior tempo possível, por isso, utiliza-se um grupo denominado estabilizadores de humor, como o lítio, associado aos antidepressivos tradicionais.
3. Como agem os antidepressivos?
Existem inúmeros mecanismos que visam aumentar o tempo de ação dos neurotransmissores monoaminérgicos, no caso, serotonina e noradrenalina (em menor escala a dopamina). Seus mecanismos incluem atuar como antagonistas de receptores 5-HT ou alfa-2, inibir a proteína de recaptura, aumentando o tempo de ação dos neurotransmissores na fenda sináptica ou até inibindo a enzima responsável por degradar as monoaminas, no caso, inibição da monoamino-oxidase (MAO).
4. Por que a resposta clínica demora a aparecer?
Inicialmente, acreditava-se que somente aumentando os níveis de neurotransmissores monoaminérgicos era capaz de tratar a depressão. Porém, diferentemente da maioria das terapias, existia uma latência entre o início da administração e o início da resposta clínica, que variava de 3 a 4 semanas. Então, elaborou-se a hipótese com base nos receptores, onde a causa da depressão seria devido a algum erro nos receptores e, quando aumentar os níveis dos neurotransmissores, estimularia o organismo a produzir novos receptores e desencadear a resposta clínica. Desta forma, justificaria o tempo para se ter a resposta clínica.
5. Antidepressivos engordam?
Alguns antidepressivos, por mais seletivos que possam ser, podem ter algum efeito colateral bloqueando o receptor H1-histaminérgico. O bloqueio deste receptor eleva o apetite e, como consequência, pode fazer o usuário em terapia engordar. É um efeito útil para se utilizar quando há casos de distúrbios alimentares com depressão.
6. Antidepressivos causam sonolência?
Assim como pode elevar o apetite, a ação antagonista em H1 também pode promover sonolência e letargia, assim como os anti-histamínicos utilizados nas alergias. Este efeito pode ser potencializado quando houve ação anticolinérgica. Este efeito colateral pode ser útil no tratamento da depressão com sintomas de insônia ou ansiedade.
7. Antidepressivos servem para emagrecer?
Não há evidências suficientes que comprovem a ação de inibir o apetite diretamente ou através do aumento da saciedade. A fluoxetina, por exemplo, possui efeito colateral inibitório do apetite, mas que não ocorre em todos aqueles que fazem seu uso. Além disso, alguns estudos demonstraram que a fluoxetina possui efeito inferior aos anorexígenos já prescritos, como as anfetaminas.
8. Antidepressivos causam dependência?
Não há evidências que comprovem uma relação entre dependência e o uso de antidepressivos. Pode haver uma dependência psicológica devido ao uso dos antidepressivos, mas isso precisa ser acompanhado em psicoterapia. O que também ocorre é que a depressão pode ser tratada cronicamente e, desta forma, fazer uso dos antidepressivos por um longo período de tempo.
Por fim, é importante ressaltar que a interrupção abrupta, apesar de não haver dependência, pode desencadear efeitos de abstinência e de rebote, como hipotensão, cefaleia, insônia, crises de ansiedade, letargia, confusão mental e náuseas, entre 24 a 72 horas após interrupção.
9. Por que antidepressivos causam náuseas e enjoos?
As náuseas são sintomas que aparecem logo ao iniciar o uso de antidepressivos e tende a cessar com o tempo, aproximadamente, na 4ª semana de uso ou até menos. Estes efeitos são decorrentes da elevação de serotonina, tanto que um dos melhores antieméticos disponíveis é a ondansetrona, um antagonista serotoninérgico.
10. Existe risco na troca de um antidepressivo por outro?
Basicamente, isso era um problema com os antidepressivos antigos, principalmente os IMAOs. Entretanto, com os antidepressivos modernos, não há a necessidade de realizar uma transição específica, exceto pelo fato de respeitar o intervalo de administração de um antidepressivo para o outro.
11. Pode ser ingerido com álcool?
O álcool é contraindicado para todos os medicamentos que possuem ação central, por aumentar o risco de depressão do sistema nervoso central, o que levaria a perda da consciência, convulsão e depressão do centro cardiorrespiratório.
12. Pode ser administrado mais de um antidepressivo ao mesmo tempo?
Esta é uma estratégia recomendada quando há resistência para monoterapia. Entretanto, deve-se ter atenção nas interações contraindicada que podem evoluir para crises hipertensivas e a síndrome serotoninérgica.
13. Antidepressivos causam impotência sexual?
Alguns antidepressivos podem causar impotência sexual devido a elevação de serotonina em receptores 5-HT2c e 5-HT2a e, especificamente, a paroxetina inibe a oxido nítrico-sintetase e pode causar disfunção erétil. Além disso, alguns antidepressivos promovem antagonismo nos receptores D2 na via tuberoinfundibular e elevação da prolactina, o que também causa disfunção sexual. Importante ressaltar, que a própria depressão pode causar redução da libido e uma das alterações está na desregulação da via do núcleo accumbens.
14. Existe interação entre IMAO e a tiramina?
A MAO é uma enzima responsável por degradar as monoaminas (tiramina, serotonina, dopamina, feniletilamina e noradrenalina). Ainda é subdividida em tipo A e B. A inibição do subtipo da MAO de interesse clínico para tratamento da depressão é o subtipo A, presente no cérebro, intestino, fígado e placenta, ou seja, inibidores da MAO-B, como a selegilina, pouco tem interesse para tratar a depressão. A grande preocupação da prescrição de IMAOs é quando o usuário ingere queijos e vinhos que contenham tiramina.
A tiramina promove intensa liberação de noradrenalina, causando uma crise hipertensiva. Naturalmente, a noradrenalina produzida é degradada no intestino pela MAO-A e não causa riscos a saúde. No entanto, é importante debater o interesse clínico dos IMAOs no tratamento da depressão resistente, onde a ausência de resposta aos inibidores seletivos de recaptação de serotonina (ISRS) se daria pela hiperatividade da IMAO-A.
O primeiro ponto a ser discutido é o impacto da ingestão de queijos e vinhos na alimentação tradicional do indivíduo, além de que, queijos processados, cervejas em latas e alguns vinhos possuem baixa concentração de tiramina. Portanto, é preciso desmistificar o papel dos IMAOs e individualizar as restrições alimentares, pois é óbvio que alguns alimentos possuem o potencial risco, porém representam uma minoria. A educação em saúde e monitoramento possui forte papel na terapia antidepressiva de sucesso.
15. Qual a relação entre anticoagulantes e antidepressivos?
A serotonina é um antiagregante plaquetário natural que atua no controle da hemostasia do organismo. Isso significa que a utilização de anticoagulantes, no caso, a varfarina e antidepressivos que aumentam expressivamente a serotonina, como os ISRS, inibidores da recaptação de serotonina e noradrenalina (IRSN) e os antagonistas 5-HT, potencializam o risco de sangramento.
Além disso, alguns antidepressivos como a fluoxetina, fluvoxamina e nefazodona podem aumentar os níveis de varfarina no sangue, potencializando ainda mais os riscos de sangramento. Também existem estudos que mostraram haver diminuição da eficácia dos anticoagulantes quando interagido com a trazodona. A monitorização desta interação se dá através do tempo de trombina relacionado ao INR, atrelado ao aparecimento de hematomas e sangramentos espontâneos.
16. O que é o efeito “anticolinérgico”?
Este é um efeito muito presente quando se utiliza antidepressivos tricíclicos e se dá pela inibição dos receptores muscarínicos, bloqueando assim a ação simpatolítica.
Estes efeitos incluem: sonolência, pois a acetilcolina atua na vigília do sistema nervoso central; xerostomia, pois a prevalência simpática diminui a secreção salivar; constipação, pois a ação anticolinérgica diminui a motilidade gastrointestinal; retenção urinária, assim como na constipação, os efeitos anticolinérgicos englobem a diminuição da micção; visão turva, os anticolinérgicos alteram a contração pupilar e pressão intraocular; confusão mental, podendo precipitar mania e atuar em sinergismo com a demência nos idosos; taquiarritmias, devido a prevalência simpática no coração.
Desta forma, algumas considerações devem ser ressaltadas: são contraindicados para idoso, pois provoca confusão mental, taquiarritmias, sonolência, que predispõe à queda. Devem ser interrompido ou substituído quando há tratamento de infecção urinária, haja vista que diminui a micção e a poliúria na infecção urinária é uma forma mecânica de diminuir a carga bacteriana. A xerostomia, que é um dos efeitos colaterais mais incômodos, pode ser corrigida com colírio de pilocarpina (agonista muscarínico) diretamente na boca, para aumentar a salivação.
17. O que é a Síndrome Serotoninérgica?
A síndrome serotoninérgica é um conjunto de sintomas clínicos causados pela elevação excessiva de serotonina, que variam desde sintomas mais brandos como, enxaqueca, mioclonia, agitação e confusão, até os mais severos, como hipertermia, convulsão, coma, colapso cardiovascular, lesão cerebral hipertérmica e até mesmo a morte.
Essa síndrome está relacionada principalmente quando há interação medicamentosa de IMAOs com ISRS, IRSN, Hypericum perforatum (Erva de São João) e a clomipramia. Outra interação que pode resultar na síndrome serotoninérgica é quando há troca em curto intervalo de tempo de um antidepressivo que eleva expressivamente a serotonina (ISRS e IRSN) para um IMAO. O diagnóstico é feito através dos critérios de Hunter Serotonin Toxicity Criteria, que inclui sintomas como: clônus, agitação, diaforese, tremor e hiper-reflexia, sendo que a hipertonicidade e hiperpirexia estão presentes nos casos mais graves.
A reversão se dá através do controle de sintomas, principalmente, utilizando benzodiazepínicos para sedação e a cipro-heptadina, que tem efeitos anti-serotoninérgicos. Em casos mais severos, a
intubação e sedação podem ser imprescindíveis. Em geral, apresenta-se como um quadro clínico com sintomas mais brandos.
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