O enfermeiro professor: construindo uma carreira docente na enfermagem

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A enfermagem, enquanto prática profissional, apresenta ao graduando e ao egresso do curso superior um leque de possibilidades de atuação no mercado. De acordo com o anexo da Resolução do Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) n. 0581 de 2018, são cerca de 60 especializações divididas em três grandes áreas, a saber:

  • Área I:  

           a) Saúde Coletiva;
           b) Saúde da Criança e do Adolescente;
           c) Saúde do Adulto (Saúde do homem e Saúde da mulher);
           d) Saúde do Idoso;
           e) Urgência e Emergência

  • Área II:

          a) Gestão

  • Área III:

          a) Ensino e Pesquisa

Uma infinidade de possibilidades e, apesar de haver uma área específica para tal, a docência é uma especialidade que transversaliza todas as outras e que vem crescendo no Brasil, acompanhando o ritmo de abertura de cursos de Graduação e Pós-Graduação nos últimos anos.

Pesquisas realizadas no Brasil nos trazem alguns dados interessantes, vejamos:

  • Entre os anos de 1991 e 2010 o número de cursos de Graduação em Enfermagem aumentou 645%, chegando a quase 700 cursos no Brasil. Destes, 86% são de instituições privadas, e os 14% restantes de universidades públicas (BRAGA; VILLAS BÔAS, 2014);
     
  • Anos mais tarde, em 2018, já eram 795 instituições de ensino superior com curso de Graduação em Enfermagem em nosso país, sendo 43% na região sudeste, 24,12% na região nordeste, 14,61% no sul, 10,96% no centro-oeste e a região Norte com 7,3% dos cursos (MATSUMURA et a., 2018).

Além de um mercado em expansão, a carreira no magistério superior oferece possibilidades de crescimento profissional e estabilidade. Entretanto, na hora de enveredar pelo caminho do ensino e da pesquisa nos deparamos com uma série de questionamentos: afinal, o que faz o enfermeiro professor? Que saberes devo possuir (ou preciso construir) para ser docente?

O enfermeiro professor desenvolve atividades de ensino, pesquisa e extensão em Instituições públicas e privadas de ensino superior e técnico. Enquanto professor, tem como atribuição principal a condução do processo ensino-aprendizagem, mas também deve estar disponível para oferecer suporte pedagógico e emocional aos seus alunos. Vale salientar que o professor é, antes de tudo, uma referência (positiva ou
negativa), uma fonte de inspiração para muitos estudantes e profissionais.

São atividades desenvolvidas pelo enfermeiro professor:

  • Organização didática de conteúdos;
  • Aproximação teórica entre o aluno e os conteúdos;
  • Introdução do estudante nos ambientes/serviços de saúde e na prática profissional;
  • Desenvolvimento de meios para uma aprendizagem significativa para o aluno, o que inclui atividades como o preparo de um ambiente motivador, entre outras.

Estas são atividades que exigem desse profissional um corpo de conhecimentos específico que o habilite a formar profissionais de saúde que correspondam às expectativas do mercado de trabalho – crítico, criativo, humano, ético, além de tecnicamente competente.

Para ser um enfermeiro professor é preciso possuir (ou construir) saberes que perpassam basicamente por três pontos principais, são eles:

a) Competência didático-pedagógica;
b) Conhecimento teórico sólido na área em que deseja atuar;
c) Experiência profissional.

De maneira geral, é de grande importância para o exercício da boa prática docente na enfermagem o amadurecimento de concepções sobre educação, ensino e sobre o próprio papel do professor no atual contexto da educação. Rememoro algumas reflexões de Paulo Freire (2011) para inspirar você que deseja seguir o magistério: ensinar não é transferir conhecimento!

E assim sendo, exige respeito à autonomia e aos saberes do aluno e a compreensão de que a educação é uma forma de intervenção do mundo. Ensinar exige consciência do inacabado e, deste modo, a disposição constante para aprender. Ensinar exige rigorosidade metódica, pesquisa, criticidade, segurança, competência profissional, generosidade e comprometimento. Ensinar exige a disponibilidade para o diálogo, bom-senso. Exige, enfim, o querer bem ao educando.

Concordo com Rodrigues e Mendes Sobrinho (2006, p. 457) quando enaltecem uma prática docente que supere o ato de transmitir informações. Quando defendem que o “professor precisa assumir o papel de mediador do processo ensino- aprendizagem de forma que os alunos ampliem suas possibilidades humanas de conhecer, duvidar e interagir com o mundo através de uma nova maneira de educar”.

São muitas as atribuições e expectativas depositadas na figura do professor. O que fazer – ou o que saber – para atingir tais expectativas?

Invista em uma formação pedagógica complementar, pois só a graduação não é suficiente para o exercício da docência. É importante buscar uma Pós-Graduação na área acadêmica, que pode ser uma Especialização – como por exemplo Metodologia do Ensino Superior, Docência na Saúde e afins – ou um Mestrado Acadêmico, sendo este último particularmente interessante para a formação docente. Mais detalhes sobre a experiência do Mestrado Acadêmico e dicas de como passar na seleção podem ser discutidas em próximos artigos.

Outra dica é investir em leituras sobre temáticas como Metodologias ativas de ensino-aprendizagem, ferramentas educativas, Educação 4.0 e tecnologias de ensino na saúde. Compre livros, leia artigos, pesquise, visite perfis em redes sociais que tratem da temática. Se ainda estiver cursando a graduação, seja monitor. A monitoria é uma excelente oportunidade para experienciar a prática docente, para se descobrir professor.

Busque construir conhecimento sólido na área que tenha maior afinidade. Dedique um pouco mais de tempo e energia na produção acadêmica sobre aqueles tópicos que você gosta ou que fazem parte de seu cotidiano profissional. Crie o hábito de ler artigos e participar de eventos científicos.

É interessante desenvolver sua prática assistencial na área de escolha. A vivência prática aliada ao conhecimento teórico é de fundamental importância para atuar como formador de recursos humanos.

É preciso ter clareza de que o enfermeiro é um educador e, assim sendo, as atividades educativas estão na base de seu processo de trabalho. Seja em ambientes formais de ensino como em cursos técnicos e de graduação, seja na formação permanente dos membros da equipe de enfermagem, ou ainda em ambientes informais de educação em saúde voltada para indivíduos, famílias e coletividades.

Considerando, assim como Bastable (2010), que o papel de ensinar é uma parte ímpar do nosso campo de atuação profissional, oriento meus alunos sobre a necessidade de investir no desenvolvimento de suas práticas pedagógicas e de suas concepções sobre educação, independente da área em que desejem atuar.

Matérias Relacionadas:

Referências

BRAGA, M. J. G.; VILLAS BÔAS, L. Enfermagem e docência: uma reflexão sobre como se articulam os saberes do enfermeiro professor. Revista @ambienteeducação, Universidade Cidade de São Paulo, v. 7, n. 2, p. 256-267,2015.

BRASIL. Ministério da Educação. Resolução CNE/CES nº. 3, de 7/11/2001. Institui Diretrizes curriculares nacionais do curso de graduação em enfermagem. Diário Oficial da união 09 nov 2001; Seção 1.

BASTABLE, S. B. O enfermeiro como educador: princípios de ensino- aprendizagem para a prática de enfermagem. 3 ed. Porto Alegre: Artmed, 2010.

CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM – COFEN. Anexo da Resolução 0581 de 2018. Especialidades do enfermeiro por área de abrangência. Disponível em:< http://www.cofen.gov.br/resolucao-cofen-no-581-2018_64383.html>;. Acesso em 27 jun 2020.

FREIRE, P. Pedagogia da autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 2011.

MATSUMA, E. S. S. et. al. Distribuição espacial dos cursos de Graduação em Enfermagem. Revista de Enfermagem da UFPE – on line, v. 12, n. 12, p. 3271-3278, 2018.

RODRIGUES, M. P. T.; MENDES SOBRINHO, J. A. C. Enfermeiro professor: um diálogo com a formação pedagógica. Revista Brasileira de Enfermagem, v. 59, n. 3, p. 456-459, 2006.