Atuação do Cirurgião-dentista em UTI
Atualmente existem muitas discussões em relação da necessidade da participação do cirurgião- dentista em âmbito hospitalar, mais precisamente UTIs. A participação dos profissionais da saúde bucal tem como objetivo de colaborar, auxiliar na melhora do quadro clínico proporcionando mais força a equipe multidisciplinar que caracteriza a nova identidade dos hospitais. O atendimento odontológico deverá ter como base a busca de uma higiene bucal satisfatória e consequentemente a saúde do sistema estomatognático do paciente durante o tempo em que ficar na UTI, tendo como principal objetivo o controle do biofilme e prevenção de cárie ou tratamento da mesma, doença periodontal, as infecções periimplantares, estomatites, entre outros. Para que os pacientes internados em UTI sejam tratados de maneira adequada, é imprescindível a presença de um cirurgião-dentista em hospital. Este profissional será um grande apoio no diagnóstico das condições bucais e um auxiliar na terapêutica médica tanto em procedimentos de emergência quanto em procedimentos preventivos. (Morais et al, 2006; Santana et al) Incorporar o cirurgião dentista à equipe hospitalar contribui diretamente com a dignidade do paciente diminuindo o tempo de internação do mesmo. Porém, sua inclusão ainda não é uma realidade tão comum, negligenciada na maior parte dos hospitais brasileiros (Orlandini et al, 2013). Quando nos referimos à odontologia hospitalar, acreditamos no tratamento curativo realizado somente pelo cirurgião-dentista que realiza tais procedimentos em seu dia a dia, porém, é necessário ações educativas em unidades hospitalares. O CD deve trabalhar integrado a todos os profissionais, como equipe de enfermagem (auxiliar e técnico de enfermagem e enfermeiro), técnicos de higiene dental (THD), auxiliar de consultório odontológico, (ACD) (Orlandini et al, 2013; Manual de Odontologia hospital, 2012).
A barreira encontrada para a integração do cirurgião-dentista em equipes multidisciplinares na UTI, era a baixa prioridade no que diz respeito a cuidados da cavidade oral diante de problemas que eram considerados mais importantes apresentados pelo paciente. O que a família pensa é que o ente que se encontra nessa situação deve resolver o que o levou a UTI e não estão preocupados no que diz respeito a saúde bucal, principalmente por não saberem o tamanho da importância que a higiene oral tem nesses pacientes. Diretrizes devem ser elaboradas e programas de conscientização tanto para leigos como para os próprios profissionais em saúde que subestimam quão grande auxílio na condição sistêmica o cirurgião- dentista poderá trazer a esses pacientes hospitalizados em UTI. Porém, estudos tem mostrado de maneira clara e objetiva a influência da condição bucal na evolução positiva do quadro dos mesmos (Morais et al 2006).
A implantação de protocolos de atenção a saúde bucal para minimizar riscos das mais variadas doenças sistêmicas e infecções é de grande relevância tanto para a saúde pública quanto para a privada. Medidas simples e completamente básicas como a escovação dos pacientes hospitalizados por duas vezes ao dia e a utilização antissépticos bucais mostraram redução da mortalidade e morbidade de pacientes em UTIs. Pacientes conscientes ou entubados/em coma se diferenciam bastante na conduta a ser realizada.(Pinheiro, 2014).
O Protocolo mais utilizado é o de Treinamento da Enfermagem para Higiene Oral. Orientação aos profissionais de enfermagem da higienização mecânica através da escovação (escova a 45° em direção à coroa dental e o sulco gengival com ligeiras vibrações nos dentes posteriores e atenção a mucosa realizando sua higiene com
gaze úmida, é imprescindível a escovação da língua. (Pinheiro, 2014). O controle químico mais utilizado se faz com Digluconato de Clorexidina 0,12%. A clorexidina é o agente que se mostra mais efetivo no controle do biofilme, pois apresenta boa substantividade devido sua adsorção às superfícies orais, proporcionando efeitos bacteriostáticos até 12 horas após sua utilização (Santana et al). Não esquecendo da limpeza das próteses deve ser realizada com água e sabão ou com dentifrício e escova dental média/dura. Em casos de pacientes que fazem uso de próteses verificar a possibilidade de retiradas das mesmas (PPRs e PTs) pois são nichos de colonização de bactérias e causadoras de traumas em pacientes nessas condições. Além da higiene bucal comum e diária, existem outros tipos de protocolos que são mais específicos para intervenção em pacientes oncológicos, com candidíase, processo infeccioso e outros. (Pinheiro 2014)
O paciente necessita de uma higienização oral constante e realizada da maneira correta, mesmo se houver ausência total de dentes. A higienização realizada com escova dental requer maior habilidade e consome mais tempo, por isso é menos frequente. (Simões, 2011)
Atribuições do cirurgião-dentista
Cuidado ao paciente cuja doença sistêmica possa ser fator de risco para instalação de doença bucal ou vice versa. Participação nas decisões da equipe multiprofissional, incluindo internação, diagnóstico, solicitação de exames, prescrição, intervenção odontológica e responsável por tomada de decisão em intervenção na cavidade bucal em acordo com a equipe. Diagnosticar lesões bucais oriundas de doenças sistêmicas, tratamento de condições bucais que possam acarretar complicações infecciosas, hemorrágicas, neurológicas, cardiovasculares, que possam colaborar para a piora de desordens sistêmica e melhora no bem estar do paciente que encontra-se em situação tão vulnerável. (Manual de Odontologia Hospitalar, 2012)
Higienização bucal
A escovação remove a placa bacteriana e consequentemente resíduos alimentares tantos nos dentes quanto nas mucosas. Evitando halitose e gostos desagradáveis a fim também de realizar controle de infecções, promovendo bem-estar. Se o paciente estiver em condições (o que geralmente isso não ocorre) a escovação deverá ser
realizada pelo mesmo três vezes ao dia, quando não há essa possibilidade quem realizar geralmente é o profissional da enfermagem. (Saldanha et al, 2015)
Remoção de focos infecciosos e adequação do meio bucal
Uma condição bucal desfavorável pode interferir no prognóstico de pacientes debilitados. A avaliação completa, diagnóstico e correta elaboração de um plano de tratamento são fundamentais para minimizar e prevenir complicações, o primordial é a adequação do meio que deverá ser realizada pelo cirurgião-dentista.
Compreender as periodontopatias permite relacionar de maneira clara e objetiva às causas de doenças que podem levar o paciente a óbito, devido a disseminação de microorganismos patógenos de maneira sistêmica, principalmente em pacientes que já encontram-se com a saúde extremamente debilitada. (Paseti, et al 2011)
Avaliação odontológica
Identificar a doença primária e verificar o estado geral do paciente, para determinar o protocolo adequado de higiene oral; se possível obtenção índice CPO-D e avaliar o nível de doença periodontal (sabe-se que na maioria dos casos não é possível realizar quaisquer tipos de exames periodontais, pois o paciente encontra-se inconsciente e entubado, dificultando a execução de exames mais detalhados, como a sondagem).
Controlar a quantidade de placa bacteriana, diagnosticar de maneira correta e tratamento de infecções odontogênicas. Geralmente se faz necessária a remoção de aparelhos ortodônticos e próteses, ou outros aparatos que interfiram em exames de imagem ou que possam causar lesões em tecidos moles. Também poderá haver a
necessidade de instalar aparelhos bucais para prevenir/tratar lesões traumáticas em tecidos moles e hidratação labial diária. (Gaetti-Jardim et al 2013)
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