As concepções de saúde e doença variaram ao longo do tempo, sendo representativas da conjuntura social, política, histórica e cultural de um povo e uma nação. Assim, a saúde não é sempre representada da mesma forma, depende sim da época, do lugar, da classe social, é vinculado aos valores individuais, às concepções científicas, religiosas e filosóficas de uma sociedade. O mesmo, aliás, pode ser dito das doenças.
A seguir, há um breve panorama histórico da evolução destes conceitos.
- PRÉ-HISTÓRIA = PENSAMENTO MÁGICO-RELIGIOSO
Crença na saúde e doença como resultado da influência de forças sobrenaturais (deuses, demônios, feitiçaria, possessão). Estas determinavam a saúde dos indivíduos, tinham o poder de protegê-los e curá-los. As intervenções para tratamento e cura das doenças baseavam-se em chás, sacrifícios e rituais, sendo um exemplo destas, a trepanação, que consistia na abertura do crânio para saída dos espíritos maus.
- ANTIGUIDADE = INÍCIO DAS EXPLICAÇÕES NATURAIS
Rompimento da concepção mágico-religiosa e surgimento da teoria humoral de Hipócrates. Esta teoria considera que os indivíduos têm quatro humores que irão orientar sua saúde e doença, os quais são: sangue, bile negra, bile amarela e fleuma. Quando ocorre a perda da homeostasia entre esses humores dá-se o adoecimento.
- IDADE MÉDIA= RETORNO DO PENSAMENTO MÁGICO- RELIGIOSO
Ascensão da Igreja Católica que retoma a concepção mágico-religiosa da saúde e doença, considerando o adoecimento como punição divina a pecados cometidos pelos indivíduos. A cura para as enfermidades baseava-se na realização de penitências e exorcismos. Ademais, qualquer indivíduo que contrariasse as ideias da igreja sofria perseguição.
Nesta época, houve uma grande proliferação de doenças, especialmente a Peste Bubônica (Peste Negra).
- RENASCENÇA = RESSURGIMENTO DA INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA
Aparecimento das primeiras universidades e aprofundamento dos estudos acerca da anatomia humana; visão do corpo como máquina e surgimento do dualismo mente- corpo de René Descartes que defende que estes não se relacionam; desenvolvimento da Teoria Miasmática (Maus ares) que acreditava que doenças poderiam circular no ar e assim causar adoecimento aos indivíduos.
- MODERNIDADE = BIOLOGIA
Desenvolvimento da teoria anatômica que coloca o corpo físico do indivíduo como centro dos estudos; da teoria celular e da teoria dos germes. Ademais, ocorre o surgimento do modelo biomédico.
- CONTEMPORANEIDADE = PLURALIDADE
As concepções de saúde e doença passam a envolver também dimensões subjetivas além das biológicas. Há a compreensão que as doenças variam historicamente.
Podemos compreender esse histórico também em termos de Revoluções da Saúde, momentos demarcados por drásticas mudanças nos paradigmas sobre saúde e doença.
PRIMEIRA REVOLUÇÃO DA SAÚDE
• Consequente da Revolução Industrial;
• Foi um dos primeiros campos de aplicação do modelo biomédico; • Implementação de ações sanitárias e políticas de saúde; e
• Intervenções centradas na doença.
SEGUNDA REVOLUÇÃO
• Consequente das investigações epidemiológicas e sanitárias que iniciam em 1970;
• Reconhecimento de que nos países desenvolvidos o comportamento humano era a principal causa de morbidade mortalidade;
• Preconização do retorno a uma perspectiva ecológica que considera a relação da natureza com os indivíduos; e
• Intervenções centradas na saúde.
TERCEIRA REVOLUÇÃO
• Consequente das mudanças na etiologia da morbidade e mortalidade no final do século XX;
• Reflete as alterações demográficas, os impactos da revolução tecnológica e da aproximação dos serviços de saúde a comunidade.
• Decorre dos efeitos da segunda revolução e sua incapacidade de dar respostas a problemas emergentes.
ALGUNS CONCEITOS
• Conceito negativo de saúde e doença: compreende a saúde como ausência de doença ou doença como ausência de saúde.
• Conceito positivo de saúde e doença: a saúde não restringe-se a ausência de doença e busca-se atuar sobre seus determinantes.
• Doença: processo fisiopatológico determinante do estado de disfunção, e consequentemente desabilidade funcional e deficiência do indivíduo.
• Enfermidade: concernente ao estado subjetivo do indivíduo afetado e decorrente da própria conscientização.
• Anormalidade: seria pertinente ao “papel do paciente” que a pessoa assume na sociedade, ou seja, a correspondente disfunção social.