COMO SE TORNAR UM FARMACÊUTICO RESIDENTE EM CARDIOLOGIA?

“Ser um farmacêutico residente em Cardiologia é poder atuar desde a promoção à saúde até a otimização da farmacoterapia do paciente, através do processo de conscientização quanto ao uso dos medicamentos, monitoração do paciente e intervenção quanto possíveis problemas relacionados à farmacoterapia, dentre outros parâmetros, sempre em consonância com a equipe multiprofissional visando o cuidado integral ao paciente.” – Luciano Vasconcellos CRF-BA 11273 (Farmacêutico entrevistado para a produção deste artigo).
 
Neste Artigo você vai encontrar tudo o que você precisa saber para você se tornar um(a) farmacêutico(a) residente em cardiologia, separamos aqui os tópicos abordados, que você pode clicar e ser direcionado para eles:

 

A CARDIOPATIA NOS TEMPOS ATUAIS

Atualmente de acordo com a OPAS, 2017, no Brasil (e no mundo), as doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) são as principais causas de óbito, dentre elas, as doenças cardiovasculares, principalmente a insuficiência cardíaca e as síndromes isquêmicas, superando as doenças infectocontagiosas que tinham grande impacto até a década de 80 do século passado e as doenças oncológicas que estão em grande ascensão (e também fazem parte do grupo das DCNT). Alguns fatores tais como o aumento da expectativa de vida da população e os hábitos alimentares atuais tem contribuído para esse panorama.
Outro aspecto importante é o alto custo financeiro para os pacientes portadores de doenças cardiovasculares. Nos últimos 20 anos, no Brasil, houve aumento do gasto com medicamentos, tanto pela iniciativa pública quanto pelo setor privado e até mesmo pela própria população. Em relação ao setor público, o país gastou aproximadamente 0,7% do PIB no ano de 2015 com medicamentos, de forma que, as doenças crônicas têm papel fundamental nesse acréscimo.
O terceiro ponto que necessita ser aventado é o impacto psicossocial que sofre um paciente cardiopata, que requer um cuidado integral e universal.
Dessa maneira, a residência em cardiologia permite oferecer a atuação multiprofissional ao paciente cardiopata, de maneira que é possível atuar desde a promoção à saúde até a otimização da farmacoterapia desse paciente, efetuar um processo de conscientização quanto ao uso dos medicamentos, monitoração do paciente e intervenção na resolução de problemas relacionados à farmacoterapia, sempre em consonância com a equipe multidisciplinar.
 

O RESIDENTE EM CARDIOLOGIA E SUA ROTINA

O residente em cardiologia deve ter uma visão ampla sobre o panorama das doenças cardiovasculares, atuando nos diferentes níveis de complexidade da saúde.
As atividades de promoção e prevenção são realizadas dispondo da atenção primária e buscam atuar em fatores de risco modificáveis, levando a maior autonomia do paciente para tentar reduzir a curva de crescimento das doenças cardiovasculares.
A maior parte das atividades de rotina, são focadas na atenção terciária, ofertada a nível hospitalar. No nível terciário, o papel do farmacêutico frente à sociedade e aos demais profissionais de saúde vem mudando nas últimas décadas, de modo que hoje há o reconhecimento do profissional como membro da equipe multidisciplinar.
Durante a residência a maior parte das atividades é voltada para a Farmácia Clínica mas há também tarefas relacionadas à farmacovigilância, armazenamento, transporte e dispensação de medicamentos.
Fazem parte da rotina, a avaliação das prescrições e a realização de intervenções junto a equipe médica, quando necessário. Além das visitas aos pacientes, discutindo e contribuindo ativamente para ofertar o melhor e mais seguro cuidado ao paciente dispondo dos conhecimentos de cada especialidade. E por fim, o acompanhamento clínico no pós uso do medicamento, monitorando reações adversas e documentando-as junto à ANVISA, e fazendo a evolução do paciente em prontuário.
Os conhecimentos sobre o fluxo da Assistência Farmacêutica são primordiais, pois o farmacêutico atua identificando algumas demandas decorrentes da terapia farmacológica como a necessidade de padronizar um novo medicamento junto à comissão de Farmácia e Terapêutica (CFT) e a realização de ajustes terapêuticos respaldados em material científico sempre em consonância com a equipe médica para otimizar a aquisição e dispensação de medicamentos.
 

PREPARAÇÃO PARA A PROVA DA RESIDÊNCIA

O preparo para a prova da residência geralmente leva alguns meses. Na preparação é importante consultar alguns livros que são referências. Sobre a bibliografia são excelentes referências: Katzung para Farmacologia; Berne e Levy e Guyton, para Fisiologia do Sistema cardiovascular e; Spence para Anatomia. Todas essas obras citadas oferecem um rápido material de base para revisão do que foi estudado na graduação. Além de artigos sobre antibioticoterapia e medicamentos que agem no sistema nervoso central. O uso de videoaulas, contribui bastante para a revisão dos conteúdos e aprofundamento em conteúdos vistos na graduação bem como para a parte de legislação do SUS.
Por fim, é importante dar um enfoque especial no estudo dos medicamentos que atuam no sistema cardiovascular, antibioticoterapia, anticoagulação e generalidades do conhecimento farmacêutico, tais como físico-química dos fármacos, biofarmácia, farmacocinética e farmacodinâmica.
 
Conheça nosso Preparatório Online para Residências em Farmácia 2020.
 

COMO INGRESSAR NA ÁREA

O maior enfoque na residência é dado às atividades clínicas, como avaliação da prescrição médica, quanto à dose, compatibilidade de diluentes, estabilidade, interações com outros medicamentos, avaliação da via de administração, orientações ao paciente e à equipe de enfermagem sobre a administração, além de participação em reuniões multidisciplinares, o que garante o preparo para atuação na equipe multidisciplinar em saúde.
Apesar do enfoque clínico, o farmacêutico especialista na área de cardiologia também está apto a desenvolver atividades administrativas como a participação nos processos de seleção, padronização, aquisição e armazenamento de medicamentos.
As atividades ligadas à farmacovigilância também são de extrema importância para as instituições, visto que promove maior segurança ao paciente tanto por propiciar uma abordagem mais rápida em possíveis reações adversas a farmacoterapia quanto por catalogar os principais medicamentos e problemas associados relatando-os à ANVISA, o que auxilia na atualização da bula do medicamento e melhor descrição do perfil de segurança.
 

ÁREAS DE ATUAÇÃO E MERCADO DE TRABALHO

A atuação do farmacêutico especialista em doenças cardiovasculares está mais focada no âmbito hospitalar, principalmente por meio da Farmácia Clínica. Os conhecimentos específicos adquiridos são de extrema importância para a atuação nas unidades fechadas e até mesmo na pediatria.
Grande parte dos hospitais está em processo de acreditação e requer farmacêuticos com preparo para atuar na clínica, em ações relacionadas ao ciclo da assistência farmacêutica e na farmacovigilância.
Além disso, a especialização abre portas para um futuro mercado de atendimento farmacêutico voltado à atenção primária até mesmo em drogarias, afinal os consultórios farmacêuticos já são realidade em alguns estados do país.
 

IMPORTÂNCIA DO PROFISSIONAL E DESAFIOS

O maior desafio está relacionado à formação, pois a formação generalista muitas vezes não oferece o arcabouço teórico necessário para a prática clínica. Desse modo, a chave para ingressar na residência e na área como especialista é a motivação.
A insegurança que pode ser gerada por esse sentimento de “estar despreparado” pode ser, através da motivação, o motor que impulsiona o residente rumo aos seus objetivos profissionais, que passa a buscar com afinco a construção de um raciocínio clínico, lógico e crítico, o que pode ser facilitado pela experiência mesmo que teórica com diferentes aspectos debatidos durante a formação.
Na cardiologia é desafiador começar estudos mais aprofundados sobre diferentes fisiopatologias, anatomia, doenças congênitas, agravos, manejos clínicos e farmacologia, de modo que, com a prática rotineira o profissional passa a se tornar confiante na sua área de atuação.
Pode haver outros desafios relacionados à oferta de aulas teóricas e acompanhamento por preceptoria e infraestrutura que são característicos das instituições. Por isso, é essencial que todos os envolvidos conheçam o fundamento dos Programas de Residência em Farmácia entendendo que é uma forma de ensino de Pós-Graduação nova, com aprovação em Lei no ano de 2005 (Lei 11.129/2005) e para que se conheça os direitos e deveres de residentes e demais envolvidos.
O programa de residência oferece e exige cerca de 6 mil horas (dentre prática e teoria) aos residentes, de maneira que, essa carga horária total é pelo menos 50% maior do que os 5 anos de graduação realizados. Portanto, ao mesmo tempo em que é ofertada uma infinidade de conhecimentos, há também a dedicação à vivência, por isso, a residência requer comprometimento real com os estudos e prática profissional.
 

EXPECTATIVAS

O crescimento profissional, intelectual e clínico que é construído durante a residência é, sem dúvida, o maior ganho do farmacêutico. A residência oferece grande conhecimento a quem está disposto a buscá-lo. Além disso, há o impacto social gerado, tanto do ponto de vista do paciente quanto da profissão farmacêutica que ganha destaque trazendo gratificação e orgulho à classe.
O movimento de reaproximação do farmacêutico da equipe de saúde gera uma estruturação da atuação em diferentes unidades, abertas e fechadas, com diferentes perfis (clínica médica, clínica cirúrgica, nefrologia, UTI, semi-intensiva, pediatria, UTI pediátrica, UTI cardiológica, dentre outras), que é um aspecto bastante positivo.
Os programas de residência em cardiologia, podem evoluir em alguns aspectos, mas, sem dúvida, existe a demanda por esse profissional e a residência é o melhor caminho para preparação para atuar na área. Em relação ao mercado de trabalho a expectativas são as melhores, creio que haverá mercado amplo, tanto a nível hospitalar quanto no futuro próximo com os consultórios farmacêuticos.