Desde o início da faculdade, e principalmente no Internato, a pergunta que você mais ouve é: “Qual a especialidade que você vai escolher?”. Colegas de turma, professores, residentes e até seus familiares perguntam qual o rumo que você vai dar à sua vida após a faculdade. E este foi meu primeiro, e talvez um dos mais difíceis, obstáculo que tive de enfrentar na jornada rumo à Residência.
Foi necessário pesar muitos aspectos até optar por Radiologia… Entre eles, o fato de que o radiologista, ao menos no começo da carreira, tem contato com várias áreas da medicina, e ele precisa estudar bastante e entender também de clínica e até do tratamento de várias patologias para conseguir interpretar as imagens da forma mais adequada; e, claro, não pude deixar de levar em conta a qualidade de vida e os meus objetivos de vida a longo prazo…
Bem, uma vez decidida a especialidade… bora começar a preparação pra prova então!
Infelizmente, não tive e não tenho uma fórmula mágica pra estudar pro exame… E, se tivesse, já estaria rica vendendo por aí.
Mas algo que é útil estabelecer com bastante antecedência é o seu calendário de estudos e os temas que você vai estudar: como tive que conciliar internato com os estudos pra prova, eu basicamente fui estudando os temas de acordo com o estágio em que eu estava passando – então, no estágio da Cirurgia, eu determinei que na 1ª semana estudaria tudo de abdome agudo, na 2ª semana, tudo de esôfago e estômago, na 3ª semana, tudo de cólon e doenças orificiais, e assim por diante. Pra isso, usei um cronograma já feito por veteranos e dei uma adaptada nele.
E outra coisa que tive que estabelecer logo no começo do ano também foi como eu iria estudar: se em grupo ou se individualmente. Como, durante a faculdade, eu já tinha percebido que eu rendia mais por estudando por conta própria, não segui o que muitos colegas fizeram, que foi montar grupos de estudo; mas por isso é importante você se conhecer bem e saber como você consegue aprender melhor.
A partir daí, é botar a cara nos livros e se dedicar. Eu gostava de fazer resumos pra estudar, mas talvez você prefira ler textos, montar mapas mentais, ver vídeos… Aí depende da sua dinâmica mesmo. Mas lembre-se que tempo é algo valioso, então não o gaste com formas de estudo que sejam demoradas… Objetividade é importante pra estudar pra Residência
É necessária certa disciplina pra estudar, em especial se você estiver no internato, como foi meu caso…. O que eu estabeleci foi que todo dia eu iria estudar durante pelo menos 1 hora… Mesmo que eu tivesse tido um plantão difícil, ao menos 1 hora eu gastaria pra estudar algo.
Mas lembre-se também de se divertir também… Nesse momento, ter meus amigos do lado, que estavam passando pela mesma coisa que eu, foi essencial… Então, ao menos 1 vez por m?s nós combinávamos de sair pra desestressar, compartilhar nossas mágoas e frustrações e desbafar bastante – faz parte.
Óbvio que não deu pra seguir sempre o cronograma fielmente, óbvio que houve dias em que não consegui estudar nem 1 hora… faz parte também, mas o importante é não desanimar por isso e tentar melhorar e se esforçar a cada dia.
E aí, nas últimas 3 semanas antes da 1ª fase, dei uma raça para revisar o conteúdo… E fiz isso resolvendo MUITAS questões. Muitas. Cheguei a resolver quase 100 questões por dia; e isso foi excelente para ver quais os temas em que eu ainda tinha dificuldade e daí dar uma revisada, usando os resumos que eu havia feito ao longo do ano.
Chegada a primeira fase, então, bateu uma ansiedade danada… Saí da prova com a certeza de que não tinha passado… E daí eu trago outra dica… Não desanime, mesmo que você tenha achado que o resultado foi ruim; eu, mesmo achando que havia sido reprovada, me juntei com colegas pra continuar estudando pra 2ª fase.
A segunda fase da USP exige um preparo diferente, já que trata-se de um OSCE. Saber como agir em uma prova prática não é algo que se aprende nos livros, você deve vivenciar isso! Então, eu e meus amigos formamos um grupo pra treinar OSCE; cada um de nós montava uma estação e aplicava nos colegas… fazíamos algo bem certinho, com cronômetro, roteiro para o ator, papéis indicando o cenário e cada uma das tarefas… Até simular a drenagem de um abscesso a gente fez em um dos nossos OSCEs!
Fizemos isso quase todos os dias, de segunda e sexta, e isso foi essencial para: adquirir desenvoltura ao falar, aprender a fazer uma anamnese sucinta, saber controlar o tempo e entender e “automatizar” certas coisas que devem estar presentes em toda simulação: se apresentar, lavar as mãos antes do exame físico, pedir licença ao examinar…
E, no dia da segunda fase, você vai ver que o seu maior inimigo nem é a falta de conhecimento, mas o seu nervosismo; e por isso é importante treinar bastante antes do dia fatídico…
Por fim, a última etapa é a entrevista: a entrevista conta muito pouco na nota, mas é importante montar direitinho seu currículo pra você ter pelo menos o que mostrar no dia da entrevista. Se você já sabe com antecedência – digamos, desde o começo do internato -, qual especialidade você deseja, então você já pode se programar pra criar um currículo bonito relacionado àquela área; por exemplo, fazer iniciações científicas e ligas na área, tirar boas notas nas disciplinas relacionadas, etc.
Mas mesmo se você, digamos, escolher a residência de última hora, e não tiver atividades extracurriculares na área, NÃO SE PREOCUPE! Eu mesma, escolhi Radiologia de última hora, não fiz nada relacionado a isso durante a faculdade e minhas notas não eram das melhores em Radiologia… mas eu havia feito outras coisas durante a faculdade que eu podia colocar no currículo, como ligas acadêmicas, projetos, participação em congressos… E até coloquei que havia sido do Coral da Faculdade, algo que talvez pareça bobo, mas acabou sendo tema de uma das perguntas que me fizeram na entrevista.
E, no fim das contas, fui aprovada! Foi um caminho longo mas que valeu bastante a pena… Foi bastante cansativo, especialmente nas últimas semanas antes do exame, mas aprende-se muito graças a isso, não só pra prova mas pra vida de médico também!