As vantagens – e as dores – da técnica que deixa os atletas com círculos vermelhos na pele

A Olimpíada mal começou, mas observadores atentos já perceberam estranhos círculos vermelhos espalhados nos corpos dos atletas – entre eles o nadador Michael Phelps, que acabou de ganhar sua 23ª medalha na história dos Jogos. 

Mas o que são essas marcas?

Não se trata de tatuagens ou machucados. Tampouco de madrugadas animadas na Vila Olímpica.

Os círculos vermelhos são resultado de uma prática conhecida como ventosaterapia, uma forma milenar de medicina alternativa que emprega ventosas.

E como ela é realizada?

A técnica, que é uma forma de acupuntura, consiste em acender líquido inflamável dentro de copos redondos de vidro.
Uma vez que a chama se apaga, forma-se um vácuo parcial no interior do copo.
A diferença entre a pressão interior e exterior acaba por gerar uma força de sucção, estimulando o fluxo sanguíneo e deixando os círculos vermelhos, que desaparecem entre três e quatro dias.

Por que os atletas recorrem à técnica?

Atletas dizem que recorrem à técnica para reduzir dores e ajudar com a recuperação da fadiga dos treinos e das competições constantes.

Há também uma série de outras técnicas de recuperação que os atletas usam – incluindo massagem, sauna, banhos de gelo e compressas -, mas o ginasta americano Alex Naddour afirmou ao jornal USA Today que a ventosaterapia era “melhor do que qualquer dinheiro que eu gastei em qualquer outra coisa”.

“Esse é o segredo que eu guardei durante todo este ano e me deixa saudável”, afirmou Naddour ao jornal, acrescentando que a técnica lhe poupou de “muita dor”.

Seu técnico, Chris Brooks, afirmou, por sua vez, que a equipe começou a aplicar a técnica em si mesma, sem ajuda de terceiros, com copos de vidro que geram sucção com uma bomba em vez de uma chama.

“Às vezes você diz: ‘Estou dolorido aqui'”, disse Brooks. “Daí você faz uso da técnica ou pede ajuda para o colega”.
As marcas visíveis no corpo de Phelps enquanto ele competia no revezamento 4x100m estilo livre, no domingo, fizeram com que usuários nas redes sociais especulassem sobre o que os círculos vermelhos poderiam ser.

Alguns, inclusive, supuseram que ele teria jogado paintball ou sido atacado por “polvo gigante”.

Quem mais recorre à técnica?

O uso da ventosaterapia não é exclusivo dos atletas. A prática ganhou adeptos também entre estrelas de Hollywood.
Em 2004, a atriz americana Gwyneth Paltrow apareceu em um lançamento de um filme com as marcas nas costas. Justin Bieber, Victoria Beckham e Jennifer Aniston também já foram fotografados ostentando os mesmos círculos avermelhados.

Não machuca?

O Conselho Britânico de Acunputura (BAcC, na sigla em inglês) diz que a ventosaterapia não é dolorida e que as marcas vermelhas deixadas sobre a pele são causadas pelo sangue sendo puxado para a superfície e pela ruptura de pequenos vasos sanguíneos.

Por outro lado, o nadador Michael Phelps foi filmado se contorcendo enquanto se submetia à terapia em uma imagem recente. Outros atletas postaram fotos do que parecem ser sessões doloridas de ventosaterapia nas redes sociais.

A nadadora norte-americana Natalie Coughlin postou uma foto das ventosas em seu peito – com as palavras: “Rindo porque dói tanto” – e outra foto em que se veem os resquícios da terapia no seu corpo.

O nadador bielorrusso Pavel Sankovich também postou uma foto com suas pernas cobertas por uma dúzia das pequenas cúpulas.

O BAcC adverte que em “raras ocasiões” as ventosas quentes podem causar queimaduras leves. A entidade publicou regras de conduta para a ventosaterapia e aconselha as pessoas a só frequentarem profissionais devidamente treinados que sejam membros credenciados.

Qual é a sensação?

Para testar a técnica, a BBC News fez uma visita a Jackie Longo, praticante de medicina tradicional chinesa, no centro de Londres, que autoaplica a terapia uma vez por semana.

A sensação principal é de tensão, pressão e calor nos locais onde a cúpula é colocada – algo um pouco desconfortável, mas não doloroso. A visão da pele sendo sugada em uma ventosa de vidro pode ser alarmante para um novato, mas parece muito pior do que é de fato.

Será que ela realmente funciona?

Praticantes alegam que a terapia ajuda com problemas musculares, alívio da dor, artrite, insônia, problemas de fertilidade e celulite. Long, que tem praticado a ventosaterapia há 20 anos, diz que a ideia é ajudar o fluxo de energia – conhecido na medicina tradicional chinesa como “qi” – em torno do corpo, e reequilibrar o seu equilíbrio – “ying e yang”.

Quanto mais escura a marca deixada pelo domo, diz, mais pobre é a circulação do sangue naquela parte do corpo.
Embora o tratamento “certamente tenha clientes satisfeitos há 3 mil anos”, o professor Edzard Ernst do departamento de medicina complementar da Universidade de Exeter disse à BBC que seus efeitos não são comprovados.

Ele insistiu que é uma prática relativamente segura, mas acrescentou: “não há nenhuma evidência de sua eficácia. Ela não foi submetida a pesquisas clínicas.”

Como isso começou?

A ventosaterapia teve origem na China cerca de 3 mil anos atrás, mas também se tornou popular no Egito, no Oriente Médio e em todo o mundo. Antes das cúpulas de vidro, outras, de bambu, eram usadas para o mesmo fim.

A técnica é conhecida em mandarim como “Huo guan”, que significa “escavação de fogo” e é muito popular na China entre as gerações mais velhas, diz Lon.

Há também uma técnica conhecida como “ventosaterapia molhada”, que é feita na China e em algumas partes do mundo muçulmano – onde é chamada de “Hijama”. Trata-se de fazer um pequeno corte na pele antes de colocar as ventosas. A sucção retira uma pequena quantidade de sangue.

Long diz que muitas pessoas nos países ocidentais acham essa variedade “difícil de aceitar”, mas explica que ela é vista na medicina chinesa como um tipo de desintoxicação e é muito popular.

Fonte: BBC Brasil

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Por Sanar

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