Ser médico veterinário não se resume a cuidar de cães e gatos. O campo de atuação destes profissionais é bem amplo, incluindo serviços de inspeção de produtos de origem animal, empresas agropecuárias, jóqueis, institutos de pesquisa, órgãos governamentais e até zoológicos. Por isso, os cursos de Medicina Veterinária disponíveis no Brasil tentam fornecer o conteúdo necessário para atender as mudanças do mercado. As turmas seguem as Diretrizes curriculares Nacionais estabelecidas em 2003 pelo Ministério da Educação e o objetivo é formar um médico veterinário generalista.
As universidades devem abordar as Ciências Biológicas, Humanas e Sociais, além de conteúdos teóricos e práticos relacionados à saúde, produção animal, criação e clínica veterinária, entre outros. “Todas as matérias são importantes, elas se complementam ao longo do processo de formação”, explica a recém-formada Tassiana Silva
Carvalho, que estudou na Universidade Federal da Bahia (UFBA). “Pude perceber que a Medicina Veterinária é muito mais do que apenas cuidar da saúde animal. Hoje, existe um novo conceito chamado saúde única, levando em consideração a interação homem, animal e ambiente.”
Prioridade aos pets
Com o aumento cada vez maior de cuidados com os animais de estimação, algumas universidades priorizam os pets. Porém, os alunos devem estudar bichos de pequeno e grande porte, além de silvestres. “As faculdades de grandes centros costumam dar mais ênfase aos animais domésticos, mas a formação é generalista e deve contemplar todas as diretrizes curriculares”, explica Cláudia Valéria Brandão, coordenadora do curso de Medicina Veterinária da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Botucatu. Na Unesp, o curso é desenvolvido em cinco anos letivos, sendo os dois primeiros integrados por matérias de formação básica e geral, seguidos de dois anos de temas de formação profissional e o último com estágios curriculares em áreas de maior interesse dos alunos. “Temos laboratórios e equipamentos de última geração, bem como Hospital Veterinário Escola e três fazendas voltadas ao ensino, à
pesquisa e à extensão”, diz a coordenadora.
A realização de estágios é obrigatória em todos os cursos e nessa hora o aluno pode ter contato com o mercado de trabalho e descobrir qual área seguir, caso ainda não saiba. Mateus Machado está no quinto semestre da Alis – Faculdade de Educação de Bom Despacho, em Minas Gerais, e seus estágios começam no próximo ano. Ele pretende trabalhar com cavalos e decidiu já dar um passo à frente. “Fiz vários estágios extracurriculares na área de equinos sem ligação com a faculdade.” A graduação em Medicina Veterinária da Universidade Federal de Viçosa (UFV) foi criada em 1976. De lá para cá, seu projeto pedagógico foi atualizado para suprir as novas demandas do mercado. “Tivemos mudanças na matriz curricular, principalmente nas áreas relacionadas à atenção especial ao bem-estar animal, meio ambiente, sustentabilidade, biotecnologia, manejo e medicina de animais silvestres, tendo-se enfatizado o papel social do profissional médico veterinário e sua inserção na área de saúde básica”, afirma Marlene Viloria, coordenadora do curso da Federal de Viçosa.
O bem-estar animal é uma das preocupações que foram inseridas nos cursos ao longo do tempo. Além disso, práticas consolidadas na profissão foram repensadas. “As cirurgias estéticas mutilantes, retirada de cordas vocais, cortes de orelha e cauda em cães e a extração de unhas em gatos foram abandonados após resolução do Conselho Federal de Medicina Veterinária de 2008”, explica o coordenador da graduação da Universidade Cruzeiro do Sul, Eduardo Fernandes Bondan.
Mudança de perfil
Mas o curso não foi a única coisa que mudou ao longo dos anos. O perfil dos alunos também. Antigamente, a maior parte era de homens provenientes de pequenas cidades que cursavam Veterinária para ajudar na fazenda da família. Hoje, a maioria é de mulheres de grandes cidades. “Os alunos têm atualmente uma postura mais engajada e comprometida sobre como o médico veterinário é peça fundamental na garantia dos direitos da vida animal e na conservação do planeta”, diz o coordenador do curso da Cruzeiro do Sul.
Karina Santana, médica veterinária especialista em Clínica e Odontologia Equina, formou-se há dez anos na Universidade de Uberaba (Uniube) e também notou uma mudança na postura dos futuros veterinários. “Hoje, os alunos têm uma preocupação maior do que na minha época em relação às questões ambientais e bem-estar animal. Muitos dos meus colegas de curso enxergavam os animais só como bens de consumo, mas eu sempre tive o hábito de me botar no lugar dos bichos. Deve ser muito ruim estar sentindo dores e não ter como dizer isso.”
Fonte: Estadão