Cada Estado tem autonomia para definir o que será vendido na farmácia, segundo Valmir de Santi, vice-presidente do Conselho Federal de Farmácia. O problema, diz ele, é que, ao liberar uma extensa variedade de produtos, a assistência farmacêutica deixa de ser o principal foco do atendimento.
Como deve ser uma farmácia?
A farmácia, como definição, é um estabelecimento que presta serviços de saúde. Isso significa que, além de manipular e vender medicamentos e alguns acessórios na área da saúde, ela tem de trabalhar muito próximo do paciente, acompanhá-lo, fornecendo informações sobre o uso dos medicamentos. O que vemos, no entanto, é uma tendência a megastores, que têm encarado o medicamento apenas como mais um item que vendem.
O interesse dessas empresas é ter um número cada vez maior de produtos para, como em um supermercado, vender cada vez mais barato e atrair mais a clientela. Me parece que elas não acompanham uma busca por melhorias na saúde. Nestes estabelecimentos, a parte farmacêutica, de atendimento, deixou de ser o principal ponto de atenção.
A assistência farmacêutica, que o senhor diz não ser prioridade no atual modelo brasileiro, é justamente o destaque da Lei 13.021, de 2014, tão comemorada pelo Conselho.
A lei veio para nos dizer: a farmácia é um estabelecimento de saúde. E definiu melhor como devem operar os estabelecimentos, que devem ter um farmacêutico em tempo integral. Ao discutir as possibilidades de serviço de uma farmácia, abriu caminhos para fazermos mais do que fazíamos até então: ela destaca o acompanhamento, permite que o farmacêutico faça vacinas e que ajude em diagnósticos prévios, em casos de pacientes que não sabem que são diabéticos ou hipertensos, por exemplo. Por outro lado, cada Estado tem autonomia para definir o que será vendido na farmácia. E alguns deles liberam uma extensa variedade de produtos, o que acaba tirando o foco da farmácia sobre a saúde, colocando-o sobre a venda.
Qual a saída para este impasse?
Desafiamos as farmácias e drogarias para que pelo menos implementem os serviços de atenção e acompanhamento ao seu cliente. Se a lei permite que ela venda de tudo, que venda. Mas que ao menos a área do estabelecimento que se dedica à farmácia possa ter um farmacêutico e seus auxiliares informando, acompanhando o tratamento e cuidando do paciente.
O que temos dito: se a tendência for o modelo semelhante ao americano, que pelo menos o serviço farmacêutico esteja lá. Assim você minimiza o prejuízo. Mas o que temos visto nas grandes redes é um modelo que fica muito distante do atendimento necessário à população. Embora algumas redes falem em implantação de consultórios farmacêuticos, a maior parte ainda se faz de farmácias que querem atender o paciente apenas para vender o medicamento.
Fonte: ZH Vida e Estilo