* Por João Bourbon II
Com a crescente desvalorização da Medicina, tenho recebido perguntas de leitores de todo o país. Em dúvida sobre optar ou não pela carreira médica, questionam, principalmente, se ainda vale a pena fazer Medicina. Cientes da longa jornada a seguir, cumprem bem o papel de investigar a área de interesse. Entretanto, sinto que, na verdade, desejam saber se seu esforço será recompensado e se colherão bons frutos decorrentes da sua escolha.
Se vale ou não vale a pena fazer Medicina é questão de grande subjetividade. O que vale para uns, obviamente pode não valer para outros. Por este motivo, ao invés de responder diretamente a esta pergunta, preferi elaborar uma lista com as principais vantagens e desvantagens que a área oferece. O texto foi elaborado tomando minha experiência pessoal e relatos de colegas como base.
VANTAGENS
1. Possibilidade de ajudar ao próximo.
Objetivo maior da área, é também responsável pela beleza da profissão. Poder promover saúde, combater doenças e proporcionar cura de moléstias é condição única. Nossa profissão é responsável por reabilitar pessoas e fornecer mais tempo para pacientes ficarem entre os seus entes queridos.
2. Grande retorno emocional
Os pacientes percebem quando o médico se doa sem medir esforços, quando ajudar o próximo é a meta principal da atuação de determinado profissional. E eles retribuem sempre com uma gratidão enorme, que emociona. Existem muitas formas de dizer muito obrigado e o médico tem a felicidade de poder conhecer todas elas e criar belos laços de amizade com pacientes e familiares. Nesta profissão, um olhar emocionado de gratidão de um paciente vai te deixar várias vezes com um nó na garganta.
3. Vasto campo de atuação
Dentro da medicina, é possível atuar como gestor, pesquisador, professor, clínico e cirurgião. Um médico pode assumir todos esses papéis se assim o desejar e se tiver a competência, a formação necessária para tal. Pode ainda, determinar, dentro de cada área citada, a população alvo de seu estudo, de sua atuação. Escolhendo entre gestantes, fetos, crianças, adolescentes, homens, mulheres e idosos, inúmeros outros mundos e outras possibilidades se abrem. Ao todo, são mais de cinquenta, as especialidades médicas existentes.
4. Possibilidade de ajuste de carga horária
O médico tem a possibilidade de ajustar a sua carga de trabalho como bem entender. Trabalhando no consultório, fazendo cirurgias e em plantões, através de vínculos públicos ou em unidades particulares, entre o dia e a noite, o médico pode trabalhar 24h durante toda a semana se tiver disposição para tal.
Essa é uma grande vantagem porque, como veremos no próximo item, possibilita ao médico ajustar os seus ganhos de acordo com a sua necessidade.
5. Possibilidade de bons ganhos
Sim, ainda é possível ter um bom retorno financeiro com a Medicina. É, sem dúvida, um aspecto positivo da área. No entanto, é difícil prever até quando esse cenário se manterá. Além disso, geralmente, bons rendimentos são obtidos às custas de elevadas cargas de trabalho.
6. Capacidade de lidar com estresse/pressão
Da aprovação no vestibular/ENEM até a conclusão do processo de especialização leva-se cerca de 10 anos. A jornada é longa e exigente. A pressão para se obter e demonstrar conhecimentos e capacidade de lidar com situações de dificuldade é diária, constante. Ressaltemos a visão positiva. O ganho de conhecimento nessa fase é espetacular. Ademais, ao final do processo, tem-se, na maioria das vezes, profissionais maduros e extremamente capazes, não só de atuar de maneira eficaz no manejo dos pacientes mas também de lidar com situações estressantes de qualquer natureza e de suportar pressões do dia-a-dia.
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DESVANTAGENS
1. Grande carga de trabalho
É melhor ir se acostumando: a grande carga de responsabilidade e o grande volume de afazeres apenas se inicia quando se opta pela área. O concorrido vestibular de medicina gera uma demanda por uma grande carga de estudo, além do tempo dispendido em atividades da escola e isso se mantém na faculdade e na especialização/ residência médica. Após o processo de formação, tem início a carreira em si, que deve ser dividida com o tempo para se atualizar. Médicos recém formados costumam ser inseridos no mercado de trabalho em unidades de urgência, onde se trabalha em regime de plantões. É uma elevada carga de trabalho (que pode ser reduzida a critério, porém com prejuízo no retorno financeiro) com atividades noturnas e no final de semana.
2. Abdicação de tempo em família
Obviamente não se trata de exclusividade da carreira médica, mas sem dúvida é uma das carreiras que mais envolvem abdicação de tempo de lazer e de convívio com familiares. O vestibular já é um afastador do convívio social em si. A faculdade em período integral tem sua parcela de contribuição. No entanto, talvez o maior desafio seja aliar as responsabilidades do trabalho e a necessidade de gerar renda para honrar compromissos pessoais com os papéis que a família espera de você. Além de médico você será marido/mulher, pai/ mãe, filho (a), irmã (o) e por aí vai. Sua família também precisa de você e será exigente quanto ao seu tempo.
3. Pressão dos pacientes/sociedade
Os pacientes e a sociedade em geral têm grandes expectativas em relação ao médico. Além de honestidade, integridade, capacidade técnica, pontualidade, cordialidade que são fundamentais ao profissional e que devem, com razão, ser exigidos, espera-se ainda muito mais. Códigos sociais de moral e conduta são aplicados com muito mais rigor quando a pessoa em questão é um profissional da medicina. Quem nunca ouviu frases que começam com: “Ih, olha lá! Um médico fazendo…”?Além disso, infelizmente, muitas vezes são atribuídas ao médico falhas e deficiências que são do sistema de saúde.
4. Necessidade de atualização constante
Se existe uma verdade na carreira médica é a de que o estudo nunca cessa. A ciência médica é muito dinâmica, produzindo novos conceitos a todo instante. O médico que não estuda rotineiramente e não se mantém atualizado através da leitura de periódicos e de cursos/congressos está condenado a repetir condutas do passado, desatualizadas, com grande prejuízo ao tratamento dos pacientes.
5. Processos médicos
O médico, de uma forma geral, consegue lidar bem com tudo o que foi mencionado previamente. Ele se vira para dar conta de todos os seus compromissos e desempenhar bem o seu papel na família e na profissão. Além disso, o prazer pela leitura e pelo estudo rotineiro é muito difundido na classe.
No entanto, é difícil lidar com esses que, provavelmente, representam as maiores desvantagens da profissão: os processos médicos.Se uma complicação ou um mau resultado decorreu de imperícia ou imprudência, que se puna! Contudo, resultados adversos podem advir de qualquer tratamento, mesmo quando perfeitamente executado. E existem pessoas que se valem dessas ou até de situações irreais com o objetivo claro de obter ganhos secundários. Lamentável!
O médico já é um profissional que se cobra e exige de si o melhor para os seus pacientes. Situações como essa contribuem para uma medicina burocrática e realizada de maneira amedrontada.
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João Bourbon II
Médico Formado pela Universidade Federal de Sergipe. Foi Residente em Ortopedia e Traumatologia pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP – Ribeirão Perto e atualmente, é mestrando pela Universidade Federal de Sergipe. Além disso, é um estudioso da carreira médica e autor da obra Ser ou não Ser Médico? Os 15 segredos que você precisa conhecer sobre a carreira médica no Brasil.