Depois de impressionar o mundo com sua alta letalidade, a covid-19 chama atenção para os efeitos em quem sobrevive após a doença. É a chamada “síndrome pós-aguda da covid-19” ou “Long COVID” que trata das sequelas que perduram por semanas ou meses em uma fatia grande dos infectados sobreviventes.
Essas complicações pós-doença podem impactar sistemas neurológicos, respiratórios, cardiovasculares e outros, conforme mostraremos a seguir.
Covid-19 e a síndrome pós-aguda
Sequelas duradouras em quem teve a infecção acendem o sinal vermelho de pesquisadores que têm se debruçado cada vez mais na chamada síndrome pós-aguda da covid-19. Confira abaixo as principais complicações relatadas e saiba mais sobre as sequelas da covid longa.
O sistema respiratório é, naturalmente, um dos mais impactados. Veja pontos mais recorrentes:
Covid-19 e sequelas respiratórias
- A falta de ar ou a dificuldade de respirar (dispneia) por mais de quatro semanas do início dos sintomas tem sido comum. Esses sintomas pode estar presente ao longo de 12 meses em até 81% dos pacientes após hospitalização e em 14% dos não internados.
- A tosse acontece em até 42% dos casos.
- Mesmo com quadro leve, diversos pacientes apresentam um padrão de respiração disfuncional como causa da dispneia.
Sequelas psiquiátricas pós-covid
Os sintomas psiquiátricos são os mais frequentes, ficando atrás apenas dos respiratórios. Não é difícil entender o porquê: todo o contexto da doença, o alto número de mortes e as transformações advindas com ela contribuíram para provocar sentimentos como ansiedade e medo.
O medo vem de diversas formas: seja em relação ao êxito ou não do tratamento, à possibilidade de perder alguém pela doença e pela falta de contato próximo com familiares, principalmente, no caso dos hospitalizados.
Além disso, vale destacar a existência de danos cerebrais causados pelo próprio vírus, além do desequilíbrio inflamatório e imunológico, que favorecem o surgimento de sintomas depressivos.
Estresse pós-traumático, insônia, ansiedade e depressão foram comumente relatados por pacientes que tiveram covid-19. Pesquisas apontaram que mulheres sofrem de maiores níveis desses sintomas.
Sequelas radiológicas pós-covid
As principais complicações radiológicas pós-covid-19 são assim distinguidas:
Lesões irreversíveis: presentes em 13 a 27% dos pacientes, a depender da série. A fibrose pulmonar pós-covid é a principal delas. Ela acomete, principalmente, pacientes que apresentaram síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA), além dos internados na UTI. Nesse caso, a chance é potencialmente três vezes maior em pacientes intubados.
Lesões reversíveis ou potencialmente reversíveis: as mais comuns são as anomalias do tipo opacidade em vidro fosco (OVF), que podem ser encontradas no seguimento de doze meses.
Lesões com status indeterminado: condensações residuais e distúrbios ventilatórios predominantemente na porção subpleural do pulmão. A lesão mais comum nessa categoria é a embolia pulmonar, que pode acontecer em até 25% das pessoas internadas em decorrência da covid-19.
Ainda em debate, os mecanismos de embolia pulmonar em pacientes com covid-19 são explicados, em parte, pela disfunção endotelial pulmonar associada à infecção por SARS-CoV-2.
Covid-19 e complicações cognitivas
Sintomas cognitivos pós-covid-19 foram relatados em vários estudos dentro de quatro a cinco meses após a covid aguda.
As principais alterações da consciência reportadas como manifestações da “neuro-covid” foram: sonolência, delírio, encefalomiopatia, meningite e acidentes vasculares cerebrais.
Em pacientes com sequelas cognitivas pós-covid, a ressonância magnética cerebral pode apresentar, por exemplo, lesões como acidente vascular cerebral isquêmico, realce leptomeníngeo e encefalite.
A disfunção do Sistema Nervoso Central pode estar relacionada ao vírus em virtude da inflamação.
Sabe-se que níveis elevados de citocinas pró-inflamatórias produzidas durante a covid-19 aguda podem atravessar a barreira hematoencefálica e ativar astrócitos e células microgliais.
Sintomas cardiovasculares pós- covid
Vale destacar que os sintomas cardíacos pós-covid sempre resultam de sequelas de lesão cardíaca aguda. A ocorrência e as manifestações dessas complicações cardiovasculares pós-covid-19 variam e podem ir, por exemplo, de uma elevação assintomática de troponina à miocardite fulminante, resultando em choque cardiogênico.
As arritmias podem acontecer em pacientes em ventilação mecânica. Elevação assintomática de troponina, palpitações e dor torácica também foram reportados.
Pesquisas a partir dos resultados de ressonância cardíaca revelaram a existência de edema miocárdico, necrose e fibrose como prováveis sequelas de miocardite prévia.
Como podemos ver, a atenção à covid-19 deve ir muito além da infecção em si, demandando um olhar multidisciplinar e sistêmico do paciente. Profissionais de saúde precisam estar atentos e atualizados quanto a isso.
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