A terceira possível cura de uma infecção pelo HIV, o vírus causador da AIDS, foi anunciada no dia 15 de fevereiro de 2022, nos Estados Unidos. Trata-se do primeiro caso envolvendo alguém do sexo feminino. A seguir, vamos falar sobre essa possível cura do HIV, o método de tratamento e o impacto no futuro.
Cura do HIV: Nova abordagem
Especialistas da Weill Cornell Medicine, de Nova York, explicaram em conferência realizada na cidade de Denver, nos EUA, que foi utilizada uma nova abordagem no caso mais recente de possível cura de paciente com HIV.
Diferentemente do que aconteceu em outros registros de cura, não se tratou de um transplante de medula óssea com células-tronco obtidas por meio de um doador compatível.
Desta vez, os médicos escolheram usar células-tronco do sangue do cordão umbilical de um recém-nascido.
Benefícios
O resultado dessa abordagem pode aumentar o número de pessoas, de diferentes origens, que podem se beneficiar dessa estratégia de usar o sangue do cordão umbilical de um doador parcialmente compatível.
Isso é um avanço, uma vez que o transplante convencional demanda uma compatibilidade maior entre doador e receptor.
A mulher tida como curada, vale frisar, não apresenta nenhum sinal do HIV há 14 meses, mesmo depois de parar a terapia antirretroviral
Cautela
É claro que essa notícia merece ser celebrada por pacientes e comunidade científica. Mas, vale dizer que tratamentos como esse só são recomendados para uma parcela bem pequena dos quase 40 milhões de pessoas infectadas pelo HIV no planeta.
Confira a seguir o que se sabe sobre o terceiro caso de provável cura, o método de tratamento e o impacto que ele pode ter no futuro.
A história da paciente
O vírus foi detectado no organismo da paciente em questão no mês de junho de 2013. Anos depois, em março de 2017, ela recebeu o diagnóstico de leucemia, câncer que afeta células sanguíneas
Em agosto, uma novidade que mudaria sua vida: a mulher recebeu o sangue do cordão umbilical de um doador que possui uma mutação genética que tem a capacidade de impedir a infecção pelo HIV.
Paralelamente ao feito, os médicos fizeram uso do sangue colhido de um familiar próximo da paciente.
Ela foi acompanhada durante três anos e um mês após passar pela terapia, decidiu abandonar o coquetel antirretroviral. O coquetel é o conjunto de remédios com a capacidade de manter o vírus da AIDS sob controle – apesar disso, não o elimina do organismo.
Ainda não é possível saber mais sobre os mecanismos de funcionamento da nova abordagem. Entre as especulações de especialistas, a de que o sangue do cordão umbilical carrega células-tronco com maior capacidade de adaptação.
Por sua vez, o sangue de um familiar próximo fornece células de defesa que têm a capacidade de aumentar a imunidade durante e após o procedimento.
Para manter a privacidade da paciente, o grupo da Weill Cornell Medicine não divulgou o nome ou a idade da mulher que supostamente está curada do HIV.
Outros casos de cura de HIV no mundo
O caso da paciente acima não é o primeiro de uma possível cura do vírus da AIDS no mundo. Também figuram na lista de indivíduos que foram curados do HIV duas outras pessoas: Timothy Ray Brown ( paciente de Berlim), em 2008, e Adam Castillejo (paciente de Londres), em 2019.
Nos dois casos, os pacientes receberam um transplante de medula óssea – estrutura popularmente conhecida como “tutano”, que fica no interior dos ossos e é responsável por fabricar as células sanguíneas (hemácias, leucócitos e plaquetas).
Nas duas situações, os doadores de medula também carregavam a mutação genética que impede a infecção pelo HIV.
Brown e Castillejo tiveram efeitos colaterais severos, como múltiplas infecções, perda de peso e queda de cabelo. Além disso, experimentaram uma espécie de “rejeição”, com as células imunológicas atacando o próprio organismo, promovendo uma inflamação intensa.
Com a terceira paciente o desfecho foi diferente: ela teve alta hospitalar 17 dias após receber o sangue do cordão umbilical. Além disso, não teve os mesmos eventos adversos graves observados nos dois casos anteriores.
Brown, viveu 12 anos sem o vírus até morrer em 2020, em decorrência de um câncer.
Acesso ao tratamento
Cientistas não enxergam o transplante de medula óssea, seja a partir de um doador adulto ou do cordão umbilical, como uma estratégia que irá beneficiar a grande maioria dos pacientes.
Isso porque esses métodos são arriscados e invasivos e só são testados em portadores de HIV que também foram diagnosticados com câncer e não contam com outras opções de tratamento disponíveis.
Ilustra essa complexidade o fato de que antes de realizar o transplante com as células-tronco em si, por exemplo, os médicos usam quimioterapia e radioterapia para destruir a medula óssea “original” do paciente.
O método de transplante de medula óssea utilizado nos pacientes de Londres e Berlim demanda uma compatibilidade maior entre doador e quem recebe a doação, conforme já pontuado.
Vale dizer, também, que a mutação genética que impede a infecção pelo HIV foi encontrada em cerca de 20 mil doadores, a maioria deles com descendência do Norte da Europa.
O caso da mulher supostamente curada é diferente, uma vez que a exigência de compatibilidade é menor com o uso do cordão umbilical. Isso faz com que seja possível utilizar esse material em um número maior de pessoas de diferentes origens e ancestralidades.
AIDS no mundo
Só em 2020, 680 mil pessoas morreram por causas relacionadas a essa infecção. Outro dado alarmante é que 1,5 milhão de pessoas se infectaram com o vírus.
Segundo a Organização Mundial de Saúde, cerca de 37,7 milhões de pessoas vivem com o HIV no mundo. A maior parte, na África.
No Brasil, estima-se que 694 mil pessoas estejam em tratamento contra o HIV atualmente. Dessas, 45 mil iniciaram a terapia antirretroviral em 2021.
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