Aprendemos no último artigo que o documento escrito é o principal meio de comunicação formal, resultante de um serviço psicológico para uma pessoa, grupo ou instituição. É necessário que ele seja elaborado sob “solicitação do usuário do serviço de Psicologia, de seus responsáveis legais, de um profissional específico, das equipes multidisciplinares ou das autoridades, ou ser resultado de um processo de avaliação psicológica” (CFP, 2019).
Todas as vezes em que emitir um documento, o Psicólogo deve ter clareza sobre qual a sua finalidade, ou seja, qual o seu objetivo, a quem se destina, conteúdos que não podem faltar, formato e estrutura. Esse é o objetivo aqui: que você aprenda a elaborar documentos psicológicos de maneira prática e objetiva, podendo também utilizar para estudos da faculdade e/ou concursos públicos!
Nesta primeira parte serão listados os documentos que não resultam de Avaliação Psicológica. Mas antes de mais nada, vamos revisar as cinco principais habilidades que não podem faltar na elaboração dos documentos (para mais detalhes, clique aqui):
- Tenha uma boa linguagem escrita;
- Elabore o conteúdo com embasamento científico e referências bibliográficas atuais;
- Saiba a finalidade de cada documento e quais são os resultantes de uma Avaliação Psicológica;
- Conheça as condições de guarda e envio dos documentos;
- Informe o prazo de validade do conteúdo dos documentos.
Agora que estamos atualizados, vamos seguir em frente! É imprescindível para você, psi (ou futuro psi) compreender que os documentos psicológicos são estruturados, e, dependendo da modalidade (Declaração, Parecer Psicológico, Relatório Psicológico/Multiprofissional ou Laudo Psicológico), podem conter itens como o quadro a seguir:
Identificação | Nome da pessoa ou instituição atendida: nome completo ou nome social completo e, quando necessário, outras informações sociodemográficas; Nome do solicitante: quem solicitou o documento, especificando se a solicitação foi realizada pelo Poder Judiciário, por empresas, instituições públicas ou privadas, pelo próprio usuário do processo de trabalho prestado ou por outros interessados;Finalidade: descrição da razão ou motivo do pedido;Nome do autor: nome completo ou nome social completo do psicólogo responsável pela construção do documento, com a respectiva inscrição no Conselho Regional de Psicologia. |
Descrição da demanda | Informações sobre o que motivou a busca pelo processo de trabalho prestado, indicando quem forneceu as informações e as demandas que levaram à solicitação do documento. Apresenta o raciocínio técnico-científico que justificará procedimentos utilizados. |
Procedimento | Aponta os recursos utilizados, cita as pessoas ouvidas no processo de trabalho com informações objetivas, número de encontros e o tempo de duração do processo realizado. Os procedimentos devem ser pertinentes à complexidade do que está sendo demandado;Especifica o referencial teórico metodológico que fundamentou suas análises, interpretações e conclusões. |
Análise | Apresenta as principais características e evolução do trabalho realizado. Texto objetivo, claro, metódico, coerentes ao que foi demandado. Deve possuir fundamentação teórica para justificar a utilização das técnicas descritas;Não deve apresentar descrições literais das sessões ou atendimentos realizados, salvo quando necessário para compreensão da dinâmica; |
Conclusão | Relata conclusões e análise e do que foi coletado, considerando a natureza dinâmica e não cristalizada do seu objeto de estudo; Indicam-se encaminhamentos, orientações e sugestões de continuidade do atendimento ou acolhimento. |
Referências | A informação das fontes científicas ou referências bibliográficas utilizadas são necessárias e/ou obrigatórias em alguns documentos. Devem constar em nota de rodapé, preferencialmente. |
Direto ao ponto: documentos que não resultam de Avaliação Psicológica
I. Declaração
A Declaração tem como finalidade de registrar informações sobre a prestação de um serviço realizado ou em andamento, abrangendo as informações:
- Comparecimento da pessoa atendida e/ou seu acompanhante;
- Declarar que a pessoa realizou ou realiza acompanhamento psicológico;
- Informar o tempo de acompanhamento psicológico, esclarecendo dias e horários.
Em sua estrutura o conteúdo pode ser em forma de itens ou texto corrido:
- Título: “Declaração”;
- Texto: Nome completo da pessoa atendida; Finalidade do documento; Local, dias horários e duração do acompanhamento psicológico;
- Encerramento: Local, data de emissão, carimbo (que contenha nome completo e registro do conselho).
Obs.: Existe um erro comum que acontece na redação de uma Declaração, que é escrever “Declaro para os devidos fins …” sem dizer ao final, qual é de fato o fim do documento. Aqui vai alguns exemplos de redação adequada de declaração:
a) DECLARAÇÃO
Declaro para fins de comprovação ao serviço laboral que a senhora XXX, Rg N° XXX compareceu a esta clínica na condição de acompanhante de seu filho XXX na presente data, no horário de X a X.
Cidade, data de mês de ano
Nome do psicólogo
Número do Conselho
Carimbo/Assinatura
b) DECLARAÇÃO
Declaro para fins informativos que a senhora XXX encontra-se sob meus cuidados psicológicos desde a data XXX, comparecendo a esta clínica semanalmente às quartas-feiras no horário de X a X.
Cidade, data de mês de ano
Nome do psicólogo
Número do Conselho
Carimbo/Assinatura
II. Parecer Psicológico
A finalidade é realizar uma análise técnica. Busca tirar dúvidas sobre uma questão-problema ou documento psicológico que interferem em uma decisão do solicitante, ou seja, responde a uma consulta. O psicólogo age como um especialista no assunto, devendo indicar na identificação sua titulação que comprove seu conhecimento específico e competência;
A Estrutura do texto de um Parecer fica organizada com os seguintes itens:
Título: “Parecer Psicológico”
- Identificação;
- Descrição da demanda;
- Análise;
- Conclusão;
- Referências;
No item conclusão o psicólogo apresenta seu posicionamento sobre a questão problema ou documentos questionados;
Atenção: na elaboração da Declaração e do Parecer Psicológico é vetado o registro de sintomas e estado emocional.
Fica facultado ao psicólogo destacar, ao final do documento emitido que este “não poderá ser utilizado para fins diferentes do apontado no item de identificação, que possui caráter sigiloso, que se trata de documento extrajudicial e que não se responsabiliza pelo uso dado ao laudo por parte da pessoa, grupo ou instituição, após a sua entrega em entrevista devolutiva” (CFP, 2019).
Vimos até aqui o valor de um documento bem elaborado por um profissional da Psicologia e sua importância na elucidação e esclarecimentos acerca dos serviços prestados a determinado indivíduo ou instituição. Você conheceu também as estruturas e finalidades dos documentos que não são produto de uma Avaliação Psicológica. Não deixe de conferir a continuação dessa série que será publicada em breve que falará sobre os documentos que resultam da Avaliação Psicológica!
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REFERÊNCIAS:
CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Código de Ética Profissional do Psicólogo. 2014. Disponível em: https://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2012/07/Co%CC%81digo-de-%C3%89tica.pdf
CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Resolução CFP nº 06/2019. Disponível em: https://atosoficiais.com.br/cfp/resolucao-do-exercicio-profissional-n-6-2019-institui-regras-para-a-elaboracao-de-documentos-escritos-produzidos-pela-o-psicologa-o-no-exercicio-profissional-e-revoga-a-resolucao-cfp-no-15-1996-a-resolucao-cfp-no-07-2003-e-a-resolucao-cfp-no-04-2019?q=006/2019