A ansiedade e o medo são parecidos, onde os dois são modos aversivos provocados quando somos ameaçados, e que indicam para o nosso corpo se devemos lutar ou fugir, ou seja, o seu objetivo é nos proteger dos perigos.
Devido ao surgimento da Covid-19 a ansiedade aumentou significativamente nas organizações ocasionando diversos afastamentos do trabalho e/ou distúrbios como a síndrome de Burnout devido ao acúmulo excessivo de estresse e tensão emocional no trabalho.
Barros (2021 apresenta uma pesquisa realizada na China que incluiu 1.210 respondentes de 194 cidades, nos dias 31 de janeiro a 2 de fevereiro de 2020, revelando que 53,8% das pessoas entrevistadas apresentaram implicações psicológicas de nível moderado ou grave, das quais 16,5% foram identificados com sintomas depressivos, 28,8% apresentaram ansiedade e 8,1% com alto nível de estresse.
A ansiedade é um sentimento presente nos seres humanos, nossos ancestrais, com o propósito de proteger a sua espécie, aprenderam a lidar com as situações aversivas do dia a dia como decidir se deve lutar ou fugir ao ver um leão ou um urso, ir à caça de animais para se alimentar, procurar um local seguro para dormir e se proteger.
A ansiedade e o medo foram mecanismos fundamentais para a preservação da nossa espécie e certamente se nossos ancestrais não tivessem medo ou ansiedade, não estaríamos aqui para contar história.
A introdução de técnicas de relaxamento no trabalho pode diminuir a ansiedade que provoca o estresse nas organizações, técnicas como o mindfulness (Atenção Plena) e a musicoterapia que podem contribuir com o cuidado dos colaboradores nas empresas.
A Ansiedade, medo e estresse
A ansiedade é um sentimento que está ligado a angústia, porém a ansiedade é uma resposta natural do indivíduo, quando a mesma começa a prejudicar o nível o modo de vida pessoal e interpessoal do ser humano, ela se torna patológica.
A ansiedade benéfica nos deixa preparados para as mais variadas eventualidades da vida, nos permitindo a reagir corretamente em situações de alegria, desconforto e perigo como: o nascimento de um filho, conquistar um emprego novo, a realização de um casamento, entre outros.
A ansiedade pode ser classificada como uma emoção de aviso encontrando-se relacionada a sentimento de insegurança, que podem ser constantes, exagerados ou incontroláveis produzindo sinais de desconforto no indivíduo.
Segundo Baptista (1988) muitos sinais manifestam uma condição emocional desagradável seguidos de sinais fisiológicos como problemas ao respirar, sensação de frio e calor, tremores, palpitações, estimulados por uma ameaça concreta ou prevista.
O medo produz uma resposta emocional gerada por uma situação de ameaça presente ou interpretada pela pessoa. O medo pode trazer benefícios ou malefícios, como por exemplo, quando vamos atravessar uma avenida, primeiramente olhamos para os dois lados, porque temos medo de sermos atropelados. Assim como a ansiedade, o medo se torna um maleficio quando passa dos limites afetando a nossa qualidade de vida.
“A reação do medo, também chamada de “luta ou fuga”, está no centro de vários transtornos do comportamento (ou mentais), conhecidos como transtornos de ansiedade.” (SILVA, 2011, p. 25) Ocasionando nas pessoas momentos de angústia e estresse elevado que podem gerar abandonos ou absenteísmos nas organizações, provocados por sintomas físicos e/ou emocionais, aspectos que contribuem efetivamente para o desenvolvimento da síndrome de Burnout.
O Burnout de modo geral é utilizado para relatar exaustão emocional, cinismo e o acréscimo de responsabilidade no trabalho. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) a síndrome de Burnout entrará para a Classificação Internacional de Doenças a partir de janeiro de 2022. A síndrome de burnout geralmente é ocasionada por estresse excessivo no trabalho.
O estresse ocasionado pelo trabalho pode ser indicado perante os eventos em que a pessoa compreende o seu local de trabalho como temível as suas exigências de realização profissional e pessoal arruinando a sua relação com o trabalho e com o seu ambiente de serviço, à capacidade em que esse ambiente abrange solicitações exageradas a ela, ou quando a pessoa não possui recursos adequados para confrontar certos eventos.
Elias (2013 apud Seyle, 1956), Hans estabeleceu em 1936 a resposta do estresse como um indicador comum de adaptação, em 1974 Hans redefiniu o estresse como uma solução não específica do nosso corpo a qualquer demanda.
Métodos e instrumentos
Com o aumento da ansiedade e o medo nas organizações que geram muito estresse entre os colaboradores, podemos então usar a técnica de Mindfulness que está relacionado a atenção e tomada de consciência. O propósito do mindfulness é sair do estado de falta de consciência, vivendo de um modo consciente o presente, percebendo os seus sentimentos e emoções.
“O mindfulness é uma habilidade que nos permite ser menos reativos ao que está acontecendo no momento.” (GERMER, 2016, p. 20)
Portanto, o mindfulness pode ser uma ferramenta de importante auxílio no desenvolvimento das organizações, devido ao grande crescimento de estresse nas empresas, por intermédio de exercícios de meditação e relaxamento.
Outra técnica que poderá ser acrescentada juntamente com o mindfulness é a musicoterapia, ela é uma prática que auxilia a prevenção e promove satisfação nos colaboradores.
“Pesquisar os efeitos da música sobre o corpo (cérebro) é possível e traz resultados visíveis e mensuráveis. Música em Musicoterapia, contudo, traz consigo o ambiente complexo da Arte e das relações humanas.” (MÁRCIA, 2010, p. 40)
A música faz gerar em nós sentimentos e emoções positivas ou negativas ativando várias áreas do nosso cérebro como: o hipocampo, cerebelo, amígdala, córtex entre outras. Estas áreas ao serem trabalhadas com o envolvimento da musicoterapia, se tornam mais desenvolvidas e promovem benefícios a todos os colaboradores e a própria organização.
Intervenção nas Organizações
Em primeiro lugar, é necessário mantermos todos os cuidados como lavar as mãos com sabão ou álcool em gel sempre que pegar algo que não esteja higienizado, manter a distância mínima de um metro e meio entre pessoas em lugares públicos e de convívio social, não levar as mãos ao nariz, boca e olhos sem antes usar álcool em gel, não compartilhar objetos pessoais e se possível não pegar de outras pessoas, e usar sempre máscaras.
A comunicação neste momento se torna essencial para o cuidado entre colaboradores e a organização. Com isto, seria conveniente a introdução de cartilhas sobre como se proteger da Covid-19, cartilhas sobre mindfulness, musicoterapia e os benefícios de cada um.
A introdução de rodas de conversa e debates sobre algum tema relevante, podem tirar muitas dúvidas dos colaboradores, reduzindo assim o seu estresse contudo, essas reuniões devem respeitar sempre o distanciamento social entre os colaboradores, nesse momento as rodas de conversas podem ser feitas de formas online durante a pandemia.
Fica para o gestor da empresa decidir como implantar estas técnicas na organização, a musicoterapia e o mindfulness podem gerar impactos importantes no modo de trabalho dos colaboradores, como a diminuição da ansiedade e o estresse nas organizações através da sua utilização na empresa. As duas técnicas podem ser utilizadas em locais reservados na hora do almoço e nos intervalos do café, e em outras ocasiões na empresa que conciliem com o trabalho.
Mas devemos ter consciência de que nem todos os colaboradores podem querer aderir as técnicas e por isso, seria conveniente fazermos uma pesquisa de campo para saber quais colaboradores queiram participar e assim, escolher um local para realizar o projeto.
O cuidado em não ferir os direitos dos colaboradores é fundamental para não prejudicar o clima organizacional da empresa, por isso, será importante o feedback dos colaboradores relatando os benefícios da meditação e da musicoterapia em suas vidas para que mais pessoas venham a aderir esta ideia.
Será necessário manter essas técnicas não somente neste tempo de pandemia, mas que ela tenha continuidade para o crescimento organizacional e assim possa produzir novas melhorias na organização a médio e longo prazo.
Matérias relacionadas:
- Psicologia baseada em evidências
- Compromisso ético e político na transmutação do fazer PSI
- Psicofarmacologia e psicoterapia: um diálogo necessário
Referências:
BAPTISTA, Américo; CARVALHO, Marina; LORY, Fátima. O MEDO, A ANSIEDADE E AS SUAS PERTURBAÇÕES. In: BAPTISTA, Américo. O MEDO, A ANSIEDADE E AS SUAS PERTURBAÇÕES. Lisboa: Colibri, 2005. p. 267-277. Acesso em: 4 jul. 2021.
BARROS, Marilisa Berti de Azevedo; LIMA, Margareth Guimarães; MALTA, Deborah Carvalho; SZWARCWALD, Célia Landmann; AZEVEDO, Renata Cruz Soares de; ROMERO, Dalia; SOUZA JÚNIOR, Paulo Roberto Borges de; AZEVEDO, Luis Otávio; MACHADO, Ísis Eloah; DAMACENA, Giseli Nogueira. Relato de tristeza/depressão, nervosismo/ansiedade e problemas de sono na população adulta brasileira durante a pandemia de COVID-19. Epidemiologia e Serviços de Saúde, [S.L.], v. 29, n. 4, p. 1-1, 24 ago. 2020. Trimestral. FapUNIFESP (SciELO). http://dx.doi.org/10.1590/s1679-49742020000400018. Acesso em 25 ago. 2021
BOYADJIAN, Beatriz. OMS Forbes Brasil. Disponível em: <https://forbes.com.br/colunas/2019/05/oms-inclui a síndrome de burnout na lista de doenças. inclui-a-sindrome-de-burnout-na-lista-de-doencas/>. Acesso em: 3 jul. 2021.
ELIAS, Adrieli da Silveira. UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE – UNESC CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAUDE MENTAL. 2013. 42 f. Monografia (Especialização) – Curso de Curso de Especialização em Saude Mental, Universidade do Extremo Sul Catarinense – Unesc, Criciúma, 2013. Acesso em 25 ago. 2021
GERMER, Christopher K.; SIEGEL, Ronald D.; FULTON, Paul R.. Mindfulness e psicoterapia. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016. 342 p. Maria Cristina Gularte Monteiro. Acesso em: 3 jul. 2021.
MÁRCIA, Clara; PIAZZETTA, Freitas. Revista do Núcleo de Estudos e Pesquisas Interdisciplinares em Musicoterapia, Curitiba v.1. [s.l.]: 2010. Disponível em: <http://periodicos.unespar.edu.br/index.php/incantare/article/viewFile/170/171>. Acesso em: 4 Jul. 2021.
SANTOS, L. C. dos; ABELLA, N. T. T. Gestão de conflito organizacional. Multidebates, v. 1, n. 2, p. 219-225, 2017.
SILVA, Ana Beatriz Barbosa. Mentes Ansiosas: medo e ansiedades além dos limites. Rio de Janeiro: Objetiva Ltda., 2011. 206 p. Revisão Rita Godoy, Bruno Fiuza, Tamara Sende. Acesso em: 3 jul. 2021.