O cuidado de enfermagem busca colocar o paciente na centralidade da assistência. Para isso se faz necessário conhecer a identidade cultural de cada indivíduo. Com isso, compreendendo o paciente como um todo, respeitando crenças, valores e hábitos (COUTINHO, et al. 2017).
Para que essa perspectiva realmente funcione o enfermeiro necessita ser ético. Uma vez que dentro de uma mesma sociedade existem microculturas, onde essas podem ser disparadores de conflitos interpessoais. Assim, o enfermeiro assume o papel de gerir os conflitos (TEIXEIRA; SILVA; DRAGANOV, 2018).
Os conflitos entre microculturas emergem diante de pequenas variações de experiências culturais dentro da mesma sociedade. Essas variações podem estar presentes em diversos contextos, uma vez que o Brasil, possui diversas experiências no mesmo território. Assim, o cuidado a essas pessoas pode ter efeito reverso do que o desejado, determinado por alguma diferença cultural (RIBEIRO, et al. 2017). Desta forma, a busca pelo cuidado intercultural proporciona a não existência dos conflitos e busca a relação do bem comum.
A busca por um cuidado de enfermagem de qualidade parte da promoção do bem-estar e qualidade de vida. Cada pessoa carrega em si suas experiências culturais, como a perspectiva espiritual, hábitos e crenças, que vão moldando a identificação de cada pessoa dentro da sociedade. Onde em uma sociedade em contato com outros indivíduos, formam uma rede e novas experiências. Essas devem ser compreendidas e atendidas pelos profissionais de saúde (MACHADO; FLORES; PEREIRA, 2019).
A interculturalidade serve como uma ferramenta de auxílio, transcendendo o respeito mútuo e indo ao encontro da atitude cooperativa e da construção de acordos.
Na gestão do cuidado o enfermeiro se depara com diversas situações. Pode-se citar o uso de chás e a espiritualidade/religiosidade. Podem ser situações em que não façam parte da vida do enfermeiro, mas o mesmo deve respeitar o espaço dos pacientes e proporcionar um ambiente de acolhimento em que essas condições sejam compreendidas.
Pandemia
Os hábitos culturais repercutem na forma com que o vírus se propaga. Em um exemplo atual, foi visível o quanto a sociedade europeia respeitou/respeita às medidas de isolamento para conter a disseminação do vírus.
Às medidas de cuidado com a pandemia, embora a mais de um ano, com maior conhecimento acerca da transmissão, às medidas ainda são tomadas de maneira macro. Onde essas são tomadas referente a grande escala. Com isso, as mesmas não atendem ao que tange considerar as diversidades culturais.
Por se tratar de um momento de emergência em que as ações devem ser tomadas de maneira rápida, às medidas em relação ao covid-19, são absorvidas de diferentes maneiras pelas sociedades. Assim, essas trarão diferentes impactos futuramente (CRUZ, et al. 2020).
Ensino
Para que as perspectivas abordadas anteriormente sejam atingidas, se torna necessário que a relação da cultura e intercultura sejam debatidos desde a formação. Onde o profissional deve compreender que a sua dimensão cultural não deve sobrepor a de seus pacientes.
Conforme Clifford Geertz (1989), cultura se trata da condição de vida de cada ser humano dentro da sociedade. Assim, o mesmo coloca sentido em suas ações, podendo variar ao longo do tempo, mas que não perde sua essência (MORGADO, 2014).
A interculturalidade se trata da interação entre pessoas provenientes de diferentes experiências culturais, onde estabelecem uma relação interpessoal. Nesse momento, constroem a partilha de experiências, tendo a capacidade de modelar uma nova dimensão cultural (GITTINS, 2015).
A construção de práticas pedagógicas educativas acerca da interculturalidade, se torna importante no âmbito de compreender a lógica social dominante. Com isso, o reconhecimento das diferenças sociais, faz com que seja exigido o reconhecimento da diferença sem descriminação (SACAVINO, 2020). Assim, proporciona que futuros enfermeiros busquem com capacidade técnica e científica a diminuição das desigualdades e discriminações sociais, visto que essas são problemáticas de saúde pública.
O ensino de enfermagem que favorece o cuidado humanizado passa pela identificação e respeito à identidade cultural de cada indivíduo. Para atender aos princípios do Sistema Único de Saúde, cabe ao profissional reconhecer as diferenças durante a assistência para atender a integralidade e subjetividade do sujeito. Desta forma, se torna importante que o cuidado em respeito à cultura seja realizado desde o acolhimento (FONTANA, 2019). Nessa perspectiva, se faz necessário que desde a academia sejam discutidas essas problemáticas, se tornando um hábito no cuidado de enfermagem.
Por último, cabe citar que o tema ainda causa pouco envolvimento científico dentro do campo da saúde. Com isso, se torna necessário compreender melhor o cuidado intercultural. A partir da compreensão do mesmo se torna possível prestar a assistência mais integral, atendendo a dimensão cultural das pesssoas. A pesquisa acerca do tema traz subsídios para a prática profissional e melhor assistência à saúde.
Matérias relacionadas:
- Enfermagem pediátrica e o brinquedo terapêutico
- Diferenças entre residência uniprofissional e muitiprofissional – como escolher?
- Saúde mental dos profissionais de enfermagem
Referências:
COUTINHO, E. et al. O cuidado cultural na trajetória da enfermagem transcultural e competência cultural. Atas do 6º Congresso Ibero-Americano em Investigação Qualitativa, vol. 2, Salamanca, 2017.
CRUZ, R. M. et al. COVID-19: emergência e impactos na saúde e no trabalho. Rev. Psicol., Organ. Trab. vol.20 no.2 Brasília abr./jun. 2020.
FONTANA, R. T. A Interculturalidade Na Formação Dos Profissionais De Enfermagem. Revista Contexto &Amp; Educação, vol. 34, n. 109, p. 36–51, 2019.
GITTINS, A. J. Living Mission Interculturally. Faith, Culture, and the Renewal of Praxis. Spiritan Horizons, vol. 10, n. 10, 2015.
LIMA, M. R. A. et al. Atuação de enfermeiros sobre práticas de cuidados afrodescendentes e indígenas. Revista Brasileira de Enfermagem. vol. 69, n. 5, p. 840-846. Brasília, 2016.
MACHADO, E. M.; FLORES, A. N. D.; PEREIRA, L. A. A INTERCULTURALIDADE EM ENFERMAGEM: UM OLHAR BIOÉTICO. In: Jornada Internacional de Enfermagem, 2019, Santa Maria. 6ª JORNADA INTERNACIONAL DE ENFERMAGEM E 4º SEMINÁRIO EM SAÚDE MATERNO INFANTIL: Sistematização do processo de cuidado em saúde. Santa Maria: UFN, 2019.
MORGADO, A. C. As múltiplas concepções da cultura. Múltiplos Olhares em Ciência da Informação, v. 4, n.1, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2014.
RIBEIRO, A. A et al. Aspectos culturais e históricos na produção do cuidado em um serviço de atenção à saúde indígena. Ciênc. saúde colet., vol. 22, n. 6, Rio de Janeiro, 2017.
SACAVINO, S. B. Interculturalidade e Práticas Pedagógicas: construindo caminhos. Educação, v. 45, Santa Maria, 2021.
TEIXEIRA, N. L.; SILVA, M. M.; DRAGANOV, P. B. Desafios do enfermeiro no gerenciamento de conflitos dentro da equipe de enfermagem. Rev. Adm. Saúde., vol. 18, n. 73, São Paulo, 2018.