A gasometria é um exame de sangue normalmente realizado em unidades de terapia intensiva UTI com o objetivo de verificar se as trocas gasosas estão ocorrendo da maneira correta, e, assim avaliar se o paciente necessita de oxigênio extra. Foi muito utilizada na pandemia da COVID 19, sendo objeto de estudo de muitos profissionais da saúde, principalmente os fisioterapeutas que são os responsáveis pelas análises dos dados gasométricos.
A coleta deve ser feita de maneira rápida, pois após 2 minutos, já se observa redução da Pa02 e do pH e elevação da PaCO2, devido ao metabolismo de leucócitos. Fenômeno acentuado em pacientes com leucocitose importante. Para evitar isso, deve-se colocar gelo até a hora da análise, que deve ser feita de maneira rápida.
EQUILÍBRIO ACIDOBÁSICO
“Mecanismos fisiológicos que mantém a concentração de íons de HIDROGÊNIO (H+) dos líquidos corpóreos em uma faixa compatível com a vida” (QUEIROZ, 2010)
H+ = 35 – 45 mol/L
pH = POTENCIAL HIDROGENIÔNICO
É o logaritmo negativo da atividade dos íons H+ com concentração aproximadamente igual.
(pH = -log [H+]) Inversamente a H+
↑ pH = ↓ H+
LINHAS DE DEFESA DO ORGANISMO NA PRESENÇA DE DESEQUILÍBRIO
Solução tampão = Mistura de componentes ácidos e básicos que resiste às alterações do pH quando um ácido ou uma base é adicionada a ela: BICARBONATO, FOSFATO, PROTEÍNAS (sangue, interstício e interior das células).
Pulmões = 2ª Linha de defesa. Inicia-se em minutos, excretam ou retém CO2 através da expiração, hiper ou hipoventilação pulmonar (PaCO2) , centro respiratório íntegro.
Rins = 3ª Linha de defesa, inicia-se horas ou dias, é mais potente, secreta H+ pelos túbulos renais, retém ou excretam HCO3-.
VALORES NORMAIS
pH | 7,35 – 7,45 |
PaO2 | 80 – 100 mmHg |
PaCO2 | 35 – 45 mmHg |
HCO3- | 22 – 26 mEq/L |
BE | -2 a +2 |
SPO2 | > 92% |
PaO2 IDEAL
PaO2 = 108,75 – (0,39 x idade em anos)
PaO2 = 104,2 – (0,27 x idade em anos)
PaO2 cai com o avançar da idade.
RELAÇÃO PaO2/ FiO2
Quando o paciente está recebendo alguma suplementação de oxigênio, a análise isolada da PaO2 não é suficiente, sendo necessário o cálculo da relação PaO2/FIO2:
• >400 mmHg – normal
• >300-400 mmHg – déficit de oxigenação
• <300 mmHg – insuficiência respiratória
• <200 mmHg – insuficiência respiratória grave
DISTÚBIOS ÁCIDO BÁSICOS
ACIDOSE | ALCALOSE |
↓ pH < 7,35 | ↑pH > 7,45 |
↑ PaO2 > 45 mmHg | ↓PaO2 < 35 mmHg |
↓ HCO3- < 23 mEq/L | ↑HCO3- > 26 mEq/L |
ACIDOSE RESPIRATÓRIA
– Ventilação alveolar não consegue eliminar CO2 na mesma velocidade que o organismo produz
– Hipoventilação
– Aumento da PaCO2 > 45mmHg
– Consequente redução do pH < 7,35
– ↓pH ↑ PaCO2 (inversamente proporcionais).
CAUSAS DA ACIDOSE RESPIRATÓRIA
Pulmões Normais – depressão do sistema nervoso central (SNC): anestesias, sedativos, analgésicos, narcóticos; doenças neuromusculares: poliomielite, miastenia grave, síndrome de Guillain-Barré; traumatismos da medula espinhal, cerebrais ou da parede torácica; distúrbios restritivos graves: obesidade (síndrome de pickwick), cifoescoliose. Pulmões Anormais – DPOC; obstrução aguda das vias aéreas (fases tardias).
ALCALOSE RESPIRATÓRIA
– Eliminação ventilatória de CO2 excede sua produção
– Hiperventilação
– Diminuição da PaCO2 < 35mmHg
– Consequente aumento do pH > 7,45
– ↑pH PaCO2↓ (inversamente proporcionais).
CAUSAS DA ALCALOSE RESPIRATÓRIA
Pulmões normais: ansiedade, febre, drogas estimulantes, lesões do SNC, dor, sepse, hipobarismo (alta altitude). Pulmões anormais: condições causadoras de hipoxemia ( pelo aumento da ventilação), asma aguda, pneumonia (estimulação de receptores irritantes do parênquima pulmonar), edema pulmonar ( estimulação de receptores irritantes do parênquima pulmonar), doença vascular pulmonar. Outras: hiperventilação iatrogênica (VM).
ACIDOSE METABÓLICA
– Diminuição da HCO3- < 23mEq/L
– Consequente redução do pH < 7,35
– ↓pH HCO3-↓ (diretamente proporcionais).
CAUSAS DA ACIDOSE METABÓLICA
Hiato Aniônico elevado – ganho de ácido produzido metabolicamente: acidose lática (hipoxemia, anemia, choque, exercício vigoroso, síndrome da angústia respiratória), cetoacidose, insuficiência renal (ex: retenção de ácido sulfúrico); ingestão de ácidos: intoxicação salicílica (aspirina), metanol (ácido fórmico), etileno glicol (ácido oxálico). Hiato Aniônico normal – perda gastrintestinal de HCO3 (diarreia, fístula pancreática); perda tubular renal (falha na reabsorção de HCO3); ingestão: cloreto de amônio, hiperalimentação intravenosa.
ALCALOSE METABÓLICA
– Aumento da HCO3- > 26mEq/L
– Consequente aumento do pH > 7,45
– ↑pH HCO3-↑ (diretamente proporcionais)
CAUSAS DA ALCALOSE METABÓLICA
Perda de íons H+ – Gastrintestinal: vômitos, aspiração nasogástrica; renal: diuréticos (perda de cloreto, potássio, volume líquido); hipocalemia: secreção aumentada de H+ e reabsorção de HCO3) e hipovolemia (secreção aumentada de H+). Retenção de íons HCO3 – Infusão ou ingestão de bicarbonato ou outras bases (antiácidos).
RESPOSTAS COMPENSATÓRIAS
DESCONPENSADO
– pH alterado ↑ ou ↓
– Componente primário ALTERADO ↑ ou ↓
– Componente secundário NORMAL ●
PARCIALMENTE COMPENSADO
– pH alterado ↑ ou ↓
– Componente primário ALTERADO ↑ ou ↓
– Componente secundário ALTERADO ↑ ou ↓
COMPENSADO
– pH = NORMAL
– Componente primário ALTERADO ↑ ou ↓
– Componente secundário ALTERADO↑ ou↓
PASSO A PASSO PARA CLASSIFICAÇÃO DOS DISTÚRBIOS ACIDOBÁSICOS
1º) CATEGORIZAÇÃO DO PH: Acidose, normal ou alcalose ?
2º) DETERMINAÇÃO DO ENVOLVIMENTO RESPIRATÓRIO: Verificar se a PaCO2 está alterada e se está seguindo o padrão do pH.
3º) DETERMINAÇÃO DO ENVOLVIMENTO METABÓLICO: Verificar se o HCO3 está alterado e se está seguindo o padrão do pH.
4º) AVALIAÇÃO DA COMPENSAÇÃO: Houve compensação do pH pelo componente não causal? Parcial ou totalmente compensada?
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REFERÊNCIAS
Bases da Fisioterapia Respiratória – Terapia Intensiva e Reabilitação. Maria da Glória Rodrigues Machado. Ed. Guanabara, 2008. Capítulo 22 – Monitorização Respiratória durante a Ventilação Mecânica.
Fisioterapia: Teoria e Prática Clínica. Fisiologia Respiratória Aplicada. Patrícia Riecken Rocco e Walter Araújo Zin. Editora Guanabara, 2009. Capítulo 3 – Mecânica da Respiração. Maria da Glória Rodrigues Machado e Walter Araújo Zin.
Assistência Ventilatória Mecânica. Costa Auller Junior e Gomide do Amaral. Ed. Atheneu, 2005. Cap.1 Fisiologia Respiratória