Líquen plano oral x reação liquenóide: entenda as diferenças que auxiliam no diagnóstico correto | Colunista

O Líquen plano oral (LPO) é uma doença crônica que atinge mucosa e pele (mucocutânea). Sua etiologia ainda não é bem esclarecida, porém, sabe-se que a doença é mediada por fatores imunológicos.

Basicamente, os linfócitos T são recrutados e dirigem-se aos antígenos presentes na mucosa. A injúria causada (epitélio e linfócitos) resulta em apoptose das células do epitélio escamoso estratificado. Esse evento microscópico traz manifestações clínicas importantes!

O LPO, na maioria das vezes, se manifesta apenas na mucosa oral, não necessariamente atingindo a pele. No entanto, quando ela é envolvida, zonas como: mucosa genital, couro cabeludo e unhas podem ser afetadas.

A lesão fundamental do Líquen Plano se apresenta em forma de placas ou pápulas brancas, eritema, erosões e bolhas. Pode haver ainda, estrias brancas (as chamadas estrias de Wickham) quase sempre encontradas em mucosa jugal e dorso de língua.

Na literatura, são considerados dois tipos de maior importância: Líquen Plano Reticular, sendo ele o mais comum e assintomático, e o Erosivo, que por sua vez, é menos frequente, mas apresenta sintomatologia dolorosa.

Líquen plano oral reticular (Neiville – Elsevier, 2009)
Líquen plano oral erosivo. (Neiville – Elsevier, 2009)

A prevalência é vista em grupos do sexo feminino com idade entre 30 e 65 anos. Evidências científicas relatam que a doença atinge, em sua maioria, indivíduos leucodermas.

É observado, que o alto índice de recidiva ocorre principalmente, em situações onde o paciente se encontra em estado de estresse emocional. O próprio desconforto crônico das lesões pode ser um fator deste estresse.

E a reação Liquenóide o que é?

Basicamente, é uma resposta imunológica do organismo frente a um agente alérgeno. Aí que está! Tanto no aspecto clínico como no histopatológico eles são semelhantes.

E o que pode provocar essa reação alérgica? Temos como exemplo: medicamentos, vacinas, e materiais restauradores (sobretudo o amálgama).

Em 2015, no 5º congresso odontológico de Araçatuba – UNESP, o professor Celso Martinelli publicou o artigo clínico: “Líquen plano ou reação liquenóide? Um desafio no processo de anamnese”. Neste estudo, uma paciente de 15 anos foi diagnosticada com LPO, e no transcorrer das consultas foi descoberto que na escola onde ela estudava, a mesma havia adquirido o hábito de fazer uso de um pirulito. A recomendação de suspendê-lo imediatamente foi feita, e cumprida. Dias depois, a lesão desapareceu completamente e o uso do corticóide tópico foi suspenso.

Sabendo de todas essas informações, podemos inferir que uma anamnese minuciosa é de extrema importância. O paciente deve informar, por exemplo, quando foi que apareceu a lesão. Se ela surgiu após o uso de um determinado medicamento ou depois de um procedimento restaurador, e fazê-lo trazer à memória todo seu histórico de alergias.

Todas essas informações – pequenas e grandes – fazem parte de um manejo fundamental para chegar ao diagnóstico correto.

Se o exame clínico guiar o cirurgião-dentista para uma possível reação liquenóide, a conduta será a remoção do suposto fator etiológico (que pode ser, algum alimento ou a remoção de material odontológico).

É importante ressaltar que o exame histopatológico é sempre necessário, e nos casos onde o paciente relata dor, o tratamento segue como de LPO, ou seja, corticóides tópicos.

Se a lesão desapareceu ao retirar o fator etiológico, estávamos diante de uma reação liquenóide. Se persistir, o tratamento segue como Líquen Plano.

E se você acha que conseguir diferenciar o diagnóstico correto entre eles, traz apenas um sentimento de satisfação…

Proporcionar conforto para pacientes sintomáticos, diminuir o nível de estresse melhorando sua qualidade de vida e suspender medicamentos desnecessários, já são motivos suficientes para o profissional se aprofundar melhor no processo de anamnese e manejo clínico.

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BIBLIOGRAFIA:

NEVILLE, B.W.; DAMM, D.D.; ALLEN, C.M.; BOUQUOT, J.E. Patologia Oral e Maxilofacial. Trad.3a Ed., Rio de Janeiro: Elsevier, 2009, 972p.

REGEZI, J.A; SCIUBA, J.J; JORDAN R.C.K. Patologia Oral: Correlações Clinicopatológicas. 6ª edição. Elsevier, 2013.

LÍQUEN plano e relação liquenóide: uma discussão diagnóstica. Rev Odontol UNESP. 2013; 42(N Especial):79 © 2013 – ISSN 1807-2577

Arch Health Invest 2015;4 (Spec Iss 2): 25-380 Proceedings of the 5o Congresso Odontológico de Araçatuba – Unesp/Annual Meeting) ISSN 2317-3009 ©- 2015

Por Sanar

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