O Líquen plano oral (LPO) é uma doença crônica que atinge mucosa e pele (mucocutânea). Sua etiologia ainda não é bem esclarecida, porém, sabe-se que a doença é mediada por fatores imunológicos.
Basicamente, os linfócitos T são recrutados e dirigem-se aos antígenos presentes na mucosa. A injúria causada (epitélio e linfócitos) resulta em apoptose das células do epitélio escamoso estratificado. Esse evento microscópico traz manifestações clínicas importantes!
O LPO, na maioria das vezes, se manifesta apenas na mucosa oral, não necessariamente atingindo a pele. No entanto, quando ela é envolvida, zonas como: mucosa genital, couro cabeludo e unhas podem ser afetadas.
A lesão fundamental do Líquen Plano se apresenta em forma de placas ou pápulas brancas, eritema, erosões e bolhas. Pode haver ainda, estrias brancas (as chamadas estrias de Wickham) quase sempre encontradas em mucosa jugal e dorso de língua.
Na literatura, são considerados dois tipos de maior importância: Líquen Plano Reticular, sendo ele o mais comum e assintomático, e o Erosivo, que por sua vez, é menos frequente, mas apresenta sintomatologia dolorosa.
A prevalência é vista em grupos do sexo feminino com idade entre 30 e 65 anos. Evidências científicas relatam que a doença atinge, em sua maioria, indivíduos leucodermas.
É observado, que o alto índice de recidiva ocorre principalmente, em situações onde o paciente se encontra em estado de estresse emocional. O próprio desconforto crônico das lesões pode ser um fator deste estresse.
E a reação Liquenóide o que é?
Basicamente, é uma resposta imunológica do organismo frente a um agente alérgeno. Aí que está! Tanto no aspecto clínico como no histopatológico eles são semelhantes.
E o que pode provocar essa reação alérgica? Temos como exemplo: medicamentos, vacinas, e materiais restauradores (sobretudo o amálgama).
Em 2015, no 5º congresso odontológico de Araçatuba – UNESP, o professor Celso Martinelli publicou o artigo clínico: “Líquen plano ou reação liquenóide? Um desafio no processo de anamnese”. Neste estudo, uma paciente de 15 anos foi diagnosticada com LPO, e no transcorrer das consultas foi descoberto que na escola onde ela estudava, a mesma havia adquirido o hábito de fazer uso de um pirulito. A recomendação de suspendê-lo imediatamente foi feita, e cumprida. Dias depois, a lesão desapareceu completamente e o uso do corticóide tópico foi suspenso.
Sabendo de todas essas informações, podemos inferir que uma anamnese minuciosa é de extrema importância. O paciente deve informar, por exemplo, quando foi que apareceu a lesão. Se ela surgiu após o uso de um determinado medicamento ou depois de um procedimento restaurador, e fazê-lo trazer à memória todo seu histórico de alergias.
Todas essas informações – pequenas e grandes – fazem parte de um manejo fundamental para chegar ao diagnóstico correto.
Se o exame clínico guiar o cirurgião-dentista para uma possível reação liquenóide, a conduta será a remoção do suposto fator etiológico (que pode ser, algum alimento ou a remoção de material odontológico).
É importante ressaltar que o exame histopatológico é sempre necessário, e nos casos onde o paciente relata dor, o tratamento segue como de LPO, ou seja, corticóides tópicos.
Se a lesão desapareceu ao retirar o fator etiológico, estávamos diante de uma reação liquenóide. Se persistir, o tratamento segue como Líquen Plano.
E se você acha que conseguir diferenciar o diagnóstico correto entre eles, traz apenas um sentimento de satisfação…
Proporcionar conforto para pacientes sintomáticos, diminuir o nível de estresse melhorando sua qualidade de vida e suspender medicamentos desnecessários, já são motivos suficientes para o profissional se aprofundar melhor no processo de anamnese e manejo clínico.
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BIBLIOGRAFIA:
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