Cannabis sativa: diferentes utilizações na medicina | Colunista

Os estudos relacionados às propriedades e ao potencial terapêutico da Cannabis sativa, planta também conhecida como maconha, ganharam grande impulso a partir do isolamento do composto psicoativo, delta-9-tetrahidrocanabinol (Δ9THC) em 1964. A partir daí, descobriu-se o sistema endocanabinoide (SEC) ou canabinoide endógeno que, conforme estudos clínicos estão envolvidos na modulação da dor, propiciando assim um ponto de partida para o desenvolvimento de novos fármacos.

O uso medicinal da Cannabis é permitido em alguns países, como por exemplo, Holanda e Bélgica. No Brasil, o registro e venda de medicamentos a base de cannabis em farmácias e drogarias é regulamentada e recentemente, o projeto de lei 399/15 aprovou parecer favorável à legalização do cultivo, exclusivamente para fins medicinais, veterinários, científicos e industriais, da cannabis sativa, além disso, pode ser feito apenas por pessoa jurídica, ou associação de pacientes. O projeto segue para análise em plenário, sendo que o uso recreativo é proibido.

Existem hoje, diferentes vias de administração e formas farmacêuticas da Cannabis, podem ser óleos, comprimidos, spray oral, cada uma com suas peculiaridades, vantagens e desvantagens, devendo ser escolhidas conforme patologia e condição do paciente.

É importante ressaltar que em todos os estudos e utilizações da Cannabis, ela não é utilizada para fins de cura, mas sim para cuidados paliativos. Hoje ela é utilizada para tratamento de diversas condições médicas. A seguir, algumas patologias em que a cannabis pode ser utilizada:

DOENÇA DE PARKINSON

Pesquisas recentes sugerem que o canabidiol (CBD), substância obtida da planta Cannabis sativa, poderia ser eficaz no tratamento de alguns sintomas da doença. A maioria dos estudos básicos mostrou um efeito positivo do CBD em comportamentos e alterações bioquímicas relacionadas à doença de Parkinson.

Estudos sugerem que estes canabinóides podem reduzir sintomas motores (tremores) e não motores (transtornos psicóticos, do humor e do sono, por exemplo). Além disso, são substâncias bem toleradas e com poucos efeitos adversos significativos.

ALZHEIMER

Recentemente foi demonstrado que o Δ9THC e seus análogos, atuam como inibidores competitivos da acetilcolinesterase, aumentando a disponibilidade sináptica de acetilcolina, fazendo com que haja concentrações mais altas, que visa estabilizar a comunicação entre os neurônios, o que pode melhorar ou regular os sintomas da demência.

A ligação dos canabinóides também induz uma mudança de perfil da micróglia, assim ao invés de secretar fatores pró-inflamatórios, elas passam a secretar fatores anti-inflamatórios. Isso apoia a ideia de potencial terapêutico, visando a neuroproteção para possível prevenção da neurodegeneração. Além disso, estudos indicaram que o CBD também exerce um efeito neuroprotetor no SNC, ao inibir a apoptose.

ONCOLOGIA

Muitos oncologistas e pacientes defendem o uso da Cannabis como agente antiemético, mas, quando comparada com outros agentes terapêuticos, tem um efeito menor do que os fármacos já existentes. Contudo, seus efeitos podem ser aumentados quando associados com outros antieméticos. Assim, o uso da Cannabis na quimioterapia pode ser eficiente em pacientes apresentando náuseas e vômitos, sintomas que não são controlados com outros medicamentos.

ARTRITE

O canabidiol age no sistema nervoso central, na região do córtex, fazendo com que haja diminuição da dor e da inflamação causadas pela artrite reumatoide (AR). A eficácia que a Cannabis sativa apresenta nos casos de AR é relevante, sendo a maneira mais eficaz através de uso tópico. O uso em forma de spray aplicado de 5 a 6 vezes por dia resulta na diminuição da inflamação, devido à resposta imune celular e ativação dos mediadores da inflamação.

FIBROMIALGIA

O Delta9tetrahidrocanabidinol e canabidiol interagem com o sistema endocanabinoide para reduzir e controlar a dor, o que resulta em melhora da qualidade de vida de pacientes com dor neuropática crônica.

Sendo assim, se apresentam como uma opção terapêutica promissora aos portadores de fibromialgia, pela eficácia demonstrada contra dor aguda e crônica, com poucos efeitos colaterais graves, porém, existem poucos ensaios clínicos em larga escala demonstrando seus efeitos na fibromialgia, sendo estes de curta duração, exigindo estudos mais aprofundados.

GLAUCOMA

A alta pressão intraocular é um dos fatores de risco para desenvolvimento de glaucoma e a Cannabis pode agir diminuindo esta pressão, mas este efeito é de curta duração e só é conseguido com altas doses da substância. Apesar de o glaucoma ser uma das indicações mais citadas para o uso da Cannabis, a droga só é utilizada em casos mais graves.

ANSIEDADE

Há evidências de que a Cannabis sativa, em especial o seu fitocanabinóide canabidiol (CBD), pode servir como uma alternativa terapêutica para o controle da ansiedade devido ao seu potencial ansiolítico e à menor ocorrência de efeitos colaterais em comparação aos benzodiazepínicos geralmente utilizados.

Entretanto, mais estudos clínicos são necessários para medir sua eficácia, definindo uma terapêutica adequada e averiguando os riscos relacionados ao seu uso a longo prazo que ainda não são conhecidos.

Outro estudo realizado com modelos animais de ansiedade e envolvendo voluntários saudáveis, sugere claramente que o CBD possui efeitos ansiolíticos. Além disso, o CBD mostrou-se capaz de reduzir a ansiedade em pacientes com transtorno de ansiedade social.

Matérias relacionadas:

Referências:

ALVES, Paula Francine Sarti; MORAES, Francine Campolim. USO DA CANNABIS NO TRATAMENTO DA FIBROMIALGIA.

ANDRADE, Beatriz Oliveira de. O uso da cannabis no tratamento da doença de Alzheimer.

ANAYA, Henry Jair Mayorga et al. Efficacy of cannabinoids in fibromyalgia: a literature review. Colombian Journal of Anesthesiology, 2021.v

Coelho, I. A. S., do Carmo, P. B., dos Santos, N. S., Mariúba, G. C. B., de Araújo Rebelo, M., & Pereira, M. D. O EMPREGO DE PLANTAS MEDICINAIS NOS CASOS DE ARTRITE REUMATOIDE THE USE OF MEDICINAL PLANTSIN CASES OF RHEUMATOID ARTHRITIS.

DINIZ, João Pedro Silvério; DE SOUZA, Vitor André. O USO DO CANABIDIOL NO TRATAMENTO DE PARKINSON.

PEIXOTO, Luana dos Santos Fonseca et al. Ansiedade: o uso da Cannabis sativa como terapêutica alternativa frente aos benzodiazepínicos. Brazilian Journal of Development, v. 6, n. 7, p. 50502-50509, 2020.

SANTOS, Gabriel Vinícius dos. A utilização da cannabis sativa para analgesia na medicina veterinária: uma revisão sistemática. Orientador: Manuella Rodrigues de Souza Mello. 2020. 20f. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharel em Medicina Veterinária) – Centro Universitário do Planalto Central Apparecido dos Santos, 2020.

VALE, José Sousa. Cannabis Use in Medical Oncology: A Brief Review. Revista Portuguesa de Farmacoterapia, v. 11, n. 2-3, p. 31-38, 2019.

Por Sanar

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