A perda prematura de dentes decíduos pode promover a má oclusão, problemas funcionais e estéticos do sistema estomatognático em desenvolvimento1. A dentição decídua é essencial para manutenção do comprimento do arco dentário, mastigação, fala e estética em crianças2.
A preservação dos dentes decíduos em condição intacta, livre de doenças até que ocorra a erupção dos sucessores permanentes, ocorre por meio da manutenção da vitalidade dos dentes decíduos até o tempo natural de esfoliação1,2.
A polpa na dentição decídua é histologicamente semelhante aos dentes permanentes e pode ser afetada pela doença cárie, procedimentos restauradores e trauma1. A técnica endodôntica convencional adotada em Odontopediatria traz inúmeros desafios quando se trata de pacientes em faixa etária pediátrica2,3.
Serviços odontológicos públicos não podem muitas vezes propiciar a técnica endodôntica convencional para dentes decíduos, com realização de radiografias e preparo químico-mecânico devido ao tempo de atendimento clínico consumido e os custos decorrentes de tratamentos complexos3.
O procedimento endodôntico na dentição decídua tem sido descrito como complexo, devido às peculiaridades da anatomia e à topografia dos canais radiculares, relação com as estruturas anexas, ciclo biológico do dente e fatores etiológicos da doença pulpar3,4.
As características dos canais radiculares dos dentes decíduos dificultam sua manipulação durante o tratamento endodôntico, em razão disso a utilização de pastas obturadoras com capacidades antimicrobianas representa um dos aspectos mais importantes para obtenção de sucesso nesses tratamentos5.
Como alternativa à complexidade do tratamento endodôntico em dentes decíduos, a Pasta CTZ surge como uma alternativa para serviços de saúde e emprego em pacientes com dificuldade de gestão comportamental.
Em 1964, Cappiello recomendou o uso de uma pasta endodôntica composta por cloranfenicol, tetraciclina e óxido de zinco eugenol para tratamento de dentes decíduos com necrose pulpar6.
A técnica que utiliza a pasta CTZ (cloranfenicol, tetraciclina e óxido de zinco eugenol) é fácil e de simples manipulação, pode ser realizada em sessão única, de poder antibacteriano, promover estabilização da reabsorção óssea local e não causa sensibilidade aos tecidos apicais, periapicais e em região de furca5.
O emprego da Pasta CTZ no tratamento endodôntico em dentes decíduos não exige a instrumentação dos canais radiculares prévia ou após a desinfecção, o que confere grande vantagem no tratamento do paciente infantil por vezes não- colaborador4.
Apesar de os tratamentos utilizando cloranfenicol, tetraciclina, oxido de zinco e eugenol terem mostrado resultados tanto clínicos como radiográficos comparáveis e aceitáveis, ainda são necessários estudos com um tamanho de amostra maior, com um período de acompanhamento mais longo e de metodologias semelhantes7,8.
Investigações também são necessárias para compreender a reação dos tecidos periapicais às drogas, bem como a quantidade de absorção de drogas na circulação sistêmica. Estudos ultra-estruturais, histológicos e de microinfiltração podem ser úteis para determinar a adequação da pasta CTZ à clínica endodôntica infantil9,10.
Oferecer condições clínicas para a manutenção dos dentes decíduos na cavidade bucal para cumprir o ciclo fisiológico é a meta do emprego da pasta CTZ na clínica infantil. Contudo, limitações para o uso da Pasta CTZ ainda existem, devido à escassa literatura conclusiva, grande parte dos artigos provenientes de relatos de caso, escassez de artigos de ensaios clínicos longitudinais para aumentar o nível de evidências clínicas do uso da pasta CTZ na clínica infantil.
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REFERÊNCIAS
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