A tecnologia digital tem impulsionado a atualização de diversos setores, e a área da saúde não poderia ficar de fora. Em nosso país, vemos muitos avanços, mas também enfrentamos desafios. Um levantamento realizado pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br/NIC.br) concluiu que 84% da população do Brasil já é usuária de internet, porém de maneira desigual. Esse dado mostra que, apesar de abrangente, o avanço de tecnologias pode ainda transformar e muito a maneira que os profissionais da saúde cuidam dos pacientes.
O que é a Saúde Digital?
A Organização Mundial da Saúde (OMS) define a Saúde Digital, ou E-Saúde, como a aplicação das Tecnologias de Informação e Comunicação à Saúde. O objetivo da Saúde Digital é aumentar a qualidade e ampliar o acesso à atenção à saúde através do uso das Tecnologias de Informação. Toda vez, por exemplo, que um paciente marca um exame ou participa de uma consulta pela internet, é a Saúde Digital em ação. São serviços, sistemas, infraestrutura e recursos humanos que facilitam o trabalho do profissional da saúde e o acesso à saúde pela população.
Para entender como as inovações tecnológicas estão redefinindo o setor da saúde, entrevistamos Amanda Arruda, farmacêutica especialista em Farmácia Clínica e Hospitalar em Oncologia e mestre em Tecnologias em Saúde.
Confira agora!
1. Como você percebe que o digital tem mudado a rotina dos profissionais da Saúde?
A digitalização está transformando significativamente a rotina dos profissionais de saúde. Processos que antes eram burocráticos agora estão mais ágeis e eficientes.
Um exemplo claro é a introdução da bula digital de medicamentos. O paciente pode acessar a bula digital, que é uma versão eletrônica da bula de medicamento, lendo o código de barras bidimensional (QR Code) nas embalagens. A bula digital também permite o acesso a informações adicionais, como vídeos, áudios e outras instruções que ajudem no uso adequado do medicamento.
Outro exemplo é como a Inteligência Artificial (IA) está redefinindo o diagnóstico médico. Atualmente, a IA tem sido empregada na análise de radiografias, com a capacidade de detectar pneumonia com precisão semelhante à dos especialistas humanos, e na identificação de câncer de pele através de fotografias. Isso não apenas proporciona diagnósticos rápidos e precisos, mas também auxilia na rotina dos profissionais de saúde.
2. Quais as novas ferramentas e metodologias usadas no tratamento e monitoramento de pacientes?
Entre os principais avanços, destacam-se os aplicativos de saúde, que permitem o autocuidado e o monitoramento remoto de condições crônicas. Por exemplo, desenvolvedores projetam aplicativos para pessoas com Diabetes Mellitus para ajudar os usuários a monitorar seus níveis de glicose, registrar a ingestão de alimentos, administrar medicamentos e fornecer insights sobre a gestão da condição, permitindo que os profissionais de saúde acessem dados em tempo real para intervenções rápidas.
Além dos aplicativos, dispositivos vestíveis como relógios inteligentes (ex.: Apple Watch) e monitores de saúde (ex.: Dexcom G6), que permitem, por exemplo, que os pacientes diabéticos monitorem continuamente seus níveis de glicose em tempo real, enviando dados diretamente para o smartphone, o que é particularmente benéfico para o manejo do diabetes.
Outra inovação importante são as abordagens de telemedicina e telefarmácia que facilitam consultas, diagnósticos e acompanhamento à distância com aplicativos que viabilizam as consultas remotas, garantindo cuidados, especialmente em regiões de difícil acesso ou durante situações que exigem distanciamento físico.
3. Como a Inteligência Artificial dá suporte para os profissionais da Saúde?
A Inteligência Artificial (IA) oferece suporte aos profissionais de saúde em diversos quesitos. A IA permite análise rápida de grandes volumes de dados e a detecção de padrões complexos, o que resulta na aceleração de diagnósticos e tratamentos. Uma das aplicações notáveis da IA é nas cirurgias robóticas assistidas, onde a precisão e a consistência são fundamentais para o sucesso dos procedimentos. Esses sistemas robóticos utilizam algoritmos avançados para garantir que os cirurgiões realizem intervenções com eficácia e segurança.
Ademais, a IA é empregada em ferramentas que mapeiam e analisam o material genômico de tumores, oferecendo insights que podem levar a tratamentos mais personalizados e eficientes. Esses recursos não apenas melhoram a precisão na identificação de patologias, mas também contribuem para um planejamento de tratamento mais célere, promovendo saúde.
A IA também tem mostrado um grande potencial na adesão dos pacientes aos tratamentos. Por meio de assistentes virtuais de saúde, os pacientes recebem lembretes e orientações sobre seus tratamentos farmacoterapêuticos, o que torna o processo de acompanhamento mais interativo e estimulante. Isso não apenas melhora a adesão, mas também engaja os pacientes em sua própria saúde. Ainda, pode otimizar a seleção de tratamentos e auxiliar na administração de medicamentos, além de influenciar a educação do paciente e a comunicação entre profissionais e pacientes. Isso potencializa o gerenciamento da saúde populacional, permitindo uma abordagem mais integrada e centrada no paciente.
Aplicação das tecnologias
Tecnologias de IA também estão sendo aplicadas em diagnósticos médicos, como o desenvolvimento do Robô Laura, que gerencia riscos de sepse e ajuda na identificação precoce de complicações clínicas. Programas de IA estão se tornando indispensáveis no suporte a diagnósticos por imagem, oferecendo uma análise detalhada que complementa o trabalho dos radiologistas e fornece informações essenciais para a tomada de decisões clínicas.
Em suma, a Inteligência Artificial não apenas viabiliza a eficiência dos processos de atendimento, mas também transforma a maneira como os profissionais de saúde operam, tornando o cuidado mais acessível e de qualidade.
4. Qual a sua percepção do futuro da Saúde mediante o avanço das tecnologias?
À medida que os profissionais de saúde integram a IA à prática clínica, eles oferecem um potencial considerável para melhorar o cuidado aos pacientes e a qualidade de vida, equipando-se com ferramentas essenciais para enfrentar os novos desafios do setor.
O futuro da saúde, com o avanço tecnológico e a integração da IA, parece altamente promissor. Projetos como o smartAmor estão utilizando IA para acelerar a detecção precoce de câncer, integrando dados médicos e de imagem em uma única plataforma. Outro exemplo é o uso de IA em mamografias nos Estados Unidos, que conseguiu reduzir falsos positivos e melhorar significativamente a precisão dos diagnósticos. A integração da IA em práticas clínicas revolucionará o cuidado continuado dos pacientes, mas devemos abordar obrigatoriamente questões éticas, de privacidade de dados e a necessidade de manter o conhecimento humano em evidência para garantir uma adoção bem-sucedida.
Referências:
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Mukherjee J, Sharma R, Dutta P, Bhunia B. Artificial intelligence in healthcare: a mastery. Biotechnol Genet Eng Rev. 2023 Apr 4:1-50. doi: 10.1080/02648725.2023.2196476. Epub ahead of print. PMID: 37013913.
Alowais SA, Alghamdi SS, Alsuhebany N, Alqahtani T, Alshaya AI, Almohareb SN, Aldairem A, Alrashed M, Bin Saleh K, Badreldin HA, Al Yami MS, Al Harbi S, Albekairy AM. Revolutionizing healthcare: the role of artificial intelligence in clinical practice. BMC Med Educ. 2023 Sep 22;23(1):689. doi: 10.1186/s12909-023-04698-z. PMID: 37740191; PMCID: PMC10517477.
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