Apesar do avanço da vacinação e da queda do número de óbitos por covid-19 no mundo, a comunidade científica global segue atenta. Isso é importante uma vez que, em meio à flexibilização de medidas de proteção, foi confirmado na Europa o surgimento de mais uma variante do novo coronavírus: a deltacron.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) reconheceu a origem da chamada “cepa recombinante” no dia 9 de março.
deltacon: atualize-se
A variante delta-ômicron, ou deltacron, tem uma estrutura recombinante derivada das sublinhagens AY.4 (delta) e BA.1 (ômicron), combinando o material genético dessas duas cepas.
A linhagem foi descoberta por cientistas do Instituto Pasteur, da França. Segundo eles, a deltacron tem o gene da proteína Spike – espícula do vírus responsável por infectar as células, semelhante à ômicron e o corpo do vírus, semelhante à delta.
O Gisaid, plataforma que reúne informações sobre sequenciamento genômico de cepas do SARS-CoV-2 e do vírus influenza ao redor do mundo, relatou, até 22 de março, a identificação de: 33 amostras da nova variante na França, oito na Dinamarca, uma na Alemanha e uma na Holanda.
Há relatos também de casos de deltacron nos Estados Unidos, de acordo com empresa de sequenciamento genômico Helix. A Agência de Segurança da Saúde do Reino Unido (UKHSA), por sua vez, relatou cerca de 30 casos no Reino Unido.
Em entrevista ao The Guardian, o pesquisador Etienne Simon-Loriere, do Instituto Pasteur, detalhou mais sobre o fato: “O que vimos na França e na Dinamarca/Holanda parecem super semelhantes e podem ser o mesmo recombinante (com os mesmos vírus parentais) que viajaram. Mas os possíveis recombinantes delta-ômicron relatados em países como o Reino Unido e Estados Unidos parecem combinar diferentes partes de seus vírus parentais e, portanto, diferem da deltacron vista na França.”
Monitoramento
A OMS vem recomendando que países realizem a testagem e o sequenciamento genômico do coronavírus para identificar possíveis mutações virais de forma ágil.
Em entrevista à imprensa, a diretora técnica da OMS, Maria Van Kerkhove, explicou que os recombinantes eram “esperados, especialmente com a intensa circulação de ômicron e delta.” Disse ainda que sua equipe estava “rastreando e discutindo” a variante.
Até então, a deltacron não foi categorizada pela OMS como “variante de interesse” ou uma “variante de preocupação”. De toda forma, é consenso que experimentos para determinar as propriedades desse vírus precisam continuar sendo realizados.
A comunidade científica também reforça a importância da vacinação e lembra que a circulação do novo coronavírus não chegou ao fim.
deltacron no Brasil
No dia 15 de março, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, confirmou dois casos identificados no Brasil, nos estados do Amapá e Pará. Em seguida, ele descartou o caso do Amapá, enquanto o outro segue em investigação.
deltacron: precisamos nos preocupar?
A deltacron é mais infecciosa ou mortal do que suas variantes anteriores? Ainda não há uma conclusão efetiva e pesquisas estão sendo feitas.
Sabe-se que a variante delta foi mais severa, enquanto a ômicron foi mais infecciosa. Essa combinação poderia ser preocupante. Mas, apesar de ter sido encontrada pela primeira vez em janeiro deste ano, a deltacron, até o momento, não demonstrou capacidade de crescer exponencialmente.
Cientistas do Instituto Pasteur reforçam que a semelhança com a variante ômicron poderia sim indicar uma possível chance de causar menos doenças graves.
Afinal, a ômicron se caracteriza por chegar às células do nariz e das vias aéreas superiores causando sintomas semelhantes ao da gripe. Mas, ela não consegue fazer o mesmo dentro dos pulmões. Ou seja: na maioria dos casos, não provoca falta de ar ou necessidade de intubação.
deltacron: a vacina protege?
Ainda não é possível saber se as vacinas que existem hoje disponíveis para a população são eficientes contra a deltracron.
Em entrevista ao jornal “The New York Times”, Etienne Simon-Loriere, virologista do Instituto Pasteur, em Paris, reforçou que a proteína spike é a parte mais importante do vírus quando se trata de invadir células, além do principal alvo dos anticorpos produzidos por meio de infecções e vacinas.
Sendo assim, as defesas adquiridas contra a ômicron (por meio de infecções, vacinas ou ambos), podem funcionar bem contra o novo recombinante. Mas, ainda é cedo para afirmar.
Seja como for, cientistas reforçam a importância da imunização completa para reduzir a circulação do vírus e proteger o máximo possível de pessoas.
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