Aleitamento materno exclusivo: benefícios metabólicos e imunológicos | Colunista

Aleitamento Materno e Metabolismo

O aleitamento oferece inúmeros benefícios para o lactente, desde a diminuição de doenças infecciosas graves até a diminuição de doenças crônicas não transmissíveis como sobrepeso e obesidade, diabetes tipo 2, hipercolesteremia, alergias alimentares e doenças autoimunes, como a doença de Crohn, além da diminuição da mortalidade em crianças desnutridas (COX; CARNEY, 2014).

Os estudos mais recentes vêm mostrando o desempenho do leite materno na proteção do metabolismo dos recém-nascidos, principalmente para os nascidos pequenos para a idade gestacional (PIG). 

Para Zegher et al (2012) os bebês PIGs tem maior propensão a doenças crônicas não transmissíveis como a diabetes e hipertensão, principalmente se há o ganho de peso excessivo na primeira parte do desenvolvimento infantil.

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Singhal et al (2010) publicou o resultado de dois estudos randomizados, que tinham o objetivo de avaliar o crescimento de recém-nascidos PIGs alimentados com fórmulas padrão e com fórmulas enriquecida.

Em seu primeiro estudo, os bebês receberam fórmulas por 9 meses, enquanto que no segundo receberam por 6 meses, sendo que este segundo estudo teve que ser interrompido.

Entretanto, os resultados mostraram que as crianças que foram alimentadas com as fórmulas enriquecidas tiveram um acúmulo de massa gorda maior na fase adulta. A quantidade de massa gorda na infância foi cerca de 22-38% maior nas crianças que receberam as fórmulas enriquecidas, quando comparadas as que receberam a fórmula padrão.

Também é possível fazer a associação entre o crescimento infantil e nutricional com o risco, a longo prazo, do desenvolvimento da obesidade, independentes dos fatores genéticos ou ambientais que influenciaram o crescimento inicial e a adiposidade posterior (SINGHAL et al., 2010).

Zegher et al (2012) ao comparar os bebês PIGs em relação aos tipos de alimentos ofertados (leite materno, fórmula infantil padronizada (FOF 1), fórmula enriquecida com proteínas (FOF 2), os resultados mostraram que o ganho de peso, comprimento, massa magra, massa gorda e BMC foram semelhantes.

No mesmo estudo, quando comparado os recém-nascidos PIGs com os adequados para a idade gestacional (AIG) em relação às adiponectinas HMW e IGF-I, os índices mostraram inicialmente, uma menor concentração nos PIGs do que nos AIG. 

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Aos 4 meses as adiponectinas foram medidas novamente e descobriu-se que a nutrição poderia influenciar nos níveis circulantes (HMW e IGF-I). Sendo assim, os PIGs FOFs tinham maiores concentrações séricas dos que os PIGs alimentados com leite materno, além do mais os níveis de HMW foram maiores nos PIGs FOF1 em relação a FOF 2, e os níveis de IGF-I foram maiores nos PIGs FOF 2 em relação a FOF 1.

Logo, os resultados encontrados foram que o grupo de bebês PIGs cuja alimentação foi a FOF 2, ficaram mais predispostos a doenças cardiovasculares e doenças metabólicas, e apresentaram concentrações séricas elevadas de IGF-I na primeira infância (Singhal et al (2007); Vaag et al (2009) apud ZEGHER et al., 2012)

 Horta et al (2015) analisou as possíveis consequências para o metabolismo dos recém-nascidos na vida adulta, sendo utilizado os parâmetros de colesterol, obesidade, pressão arterial sistólica e diabetes tipo 2. 

Em sua meta-análise os resultados obtidos mostraram que os indivíduos que receberam a amamentação tiveram uma menor probabilidade de serem classificados como obesos/sobrepeso, cerca de 13%. A amamentação diminuiu as chances do desenvolvimento do diabetes tipo 2. E em relação ao colesterol total e a pressão arterial não foi possível fazer uma correlação favorável à amamentação (HORTA et al., 2015).

Santiago et al (2019), encontrou em alguns artigos que o aleitamento nas crianças PIGs pode melhorar o desfecho laboratorial relacionado à resistência à insulina e a medidas de adiposidade, bem como, auxiliar na recuperação do crescimento sem prejuízo nutricional.

Gupta et al (2010) realizou um estudo com um grupo de recém-nascidos abaixo do peso, no qual foram divididos em dois, e cada um recebeu um tipo de alimentação (leite materno exclusivo e leite materno fortificado) por três meses.

Os índices mostraram que as crianças que receberam leite materno exclusivo tiveram um ganho de peso menor, no entanto os níveis de insulina de jejum das crianças alimentadas com leite materno fortificado foram bem maiores aos das crianças com leite materno exclusivo (GUPTA et al., 2010) .

O leite materno possui adipocinas que ajudam no controle da regulação do apetite (leptina e adiponectina) ajudando no controle do ganho de peso futuramente, assim como na sensibilidade a insulina e a aumentar o metabolismo de ácidos graxos (Ramirez-Silva et al (2015) apud SANTIAGO et al., 2019).

Apesar de ainda serem necessários mais estudos controlados sobre a amamentação e o metabolismo dos recém-nascidos pequenos para a idade gestacional, é importante ressaltar, que o aleitamento materno tem um papel positivo para essas crianças (SANTIAGO et al, 2019).

Aleitamento Materno e Sistema Imunológico

Pressupõem-se que os lactentes amamentados até dois anos de idade com leite materno tenha um melhor desenvolvimento do seu sistema imunológico e digestório, em virtude do desenvolvimento de bactérias benéficas no intestino do bebê, preparando uma comunidade de micro-organismo intestinal saudável (COX; CARNEY, 2014).

“O recém-nascido humano é inicialmente limitado na sua capacidade de responder de forma eficiente aos antígenos infecciosos” (SAMPAIO e PALMEIRA, 2017, p. 101).

Com essa imaturidade presente a natureza encarregou-se de desenvolver uma proteção alternativa, provenientes da mãe, os anticorpos transplancetários, assim como o leite e o colostro (SAMPAIO e PALMEIRA, 2017).

O leite materno contém as imunoglobulinas IgA (SIgA) secretadoras, cuja função é conferir proteção as mucosas, impedindo a entrada de micro-organismos nos tecidos, além de serem anti-inflamatórias (SAMPAIO e PALMEIRA, 2017).

As SIgA’s representam uma forma de memória imunológica, visto que entram em contato com os patógenos pelas quais as mães obtiveram contanto, fornecendo dessa forma proteção aos recém-nascidos. Também é considerada a imunoglobulina mais importante tanto por sua concentração quanto por sua propriedade biológica (SAMPAIO e PALMEIRA, 2017).

Os linfócitos T (cerca de 5 a 10%) presentes no leite materno, são responsáveis pela ação citotóxica sobre parasitas. Já os linfócitos B são responsáveis pela produção de anticorpos específicos para cada patógeno (Santiago (2013) apud SOUSA; ALMEIDA, 2018).

Antunes et al (2008) apud (SOUSA; ALMEIDA, 2018) propôs em seu estudo que as crianças que receberam um aleitamento correto na infância, poderiam ter uma redução de doenças infecciosas por parasitas, assim como uma melhora no desenvolvimento na visão (dos 4 aos 36 meses) além de um menor risco de desenvolver câncer antes dos 15 anos de vida.

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No estudo de Yoshioka et al (1983) apud (HORTA et al., 2015) mostrou que crianças que receberam o aleitamento materno obtiveram uma maior contagem de bifidobactérias, enquanto que nos indivíduos obesos houve uma menor contagem dessas cepas (Kalliomaki et al (2008); Grassi et al (2015) apud HORTA et al., 2015).

O lactente pode ter seu sistema imunológico comprometido, quando a alimentação inicial provém de outras origens, senão o leite materno. No estudo de Pina; Volpato (2009) apud (SOUSA; ALMEIDA, 2018) as crianças alimentadas com leite artificial desde o início da vida, aumentam as chances de desenvolver doenças gastrointestinais (45 a 60%), infecções respiratórias (73%) e colite ulcerativa (23%).

Schneider et al (2007); National Institute for Health and Care Excellence (2014) apud (GOMES et al., 2019) advertem que a carência do aleitamento materno está associada ao desenvolvimento de doenças na infância, como doença Celíaca, gastroenterite e outras. 

As associações do leite materno com alergias alimentares ainda não são conclusivas, no estudo realizado por Lodge et al (2015), não foram encontradas evidências confiáveis de que o aleitamento materno possa conferir proteção e nem de que ele possa trazer malefícios aos indevidos alérgicos. Os estudos foram inconclusivos, sendo necessários novos estudos controlados e de alta confiabilidade.

No entanto, Jarvinen (2018) tem um posicionamento diferente dos estudos de Lodge et al (2015), em seu estudo sobre alergias alimentares e leite materno, é possível fazer a correlação de que o mesmo possa prevenir as alergias, principalmente as que são mediadas pela IGE, uma das imunoglobulinas presente em sua composição. 

As bactérias colonizadoras do trato gastrointestinal de um recém-nascido exercem função primordial na formação subsequente das próximas colônias, visto que as colônias iniciais poderão modular as informações gênicas para o resto da vida (Taddei (2017) apud CAMPOS et al., 2018).

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Referências

COX, J.T.; CARNEY, V.H. Nutrição para a Saúde Reprodutiva e Aleitamento: Aleitamento. In MAHAN, L.K.; RAYMOND, J.L. KRAUSE: ALIMENTOS, NUTRIÇÃO e DIETOTERAPIA. 14º ed. Rio de Janeiro/ RJ: Elsevier, 2014, p. 1127 a 1128. Disponível em: file:///C:/Users/8027174/Downloads/Krause%20Alimentos,%20Nutri%C3%A7%C3%A3o%20e%20Dietoterapia%2014ed.%202018.pdf. Acesso em: 23/09/2019.

GUPTA,M. ZAHEER. et al. Breast Feeding and Insulin Levels in Low Birth Weight Neonates: A Randomized Study. Indian Journal of Pediatrics, Volume 77—May, 2010. Disponível em: https://link.springer.com/article/10.1007/s12098-010-0065-6. Acesso em: 20/10/ 2019.

HORTA, B.L; DE MOLA, C. et al. Long‐term consequences of breastfeeding on cholesterol, obesity, systolic blood pressure and type 2 diabetes: a systematic review and meta‐analysis. Acta Pædiatrica published by John Wiley & Sons Ltd on behalf of Foundation Acta Pædiatrica 2015-104, p.30–37. Disponível em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1111/apa.13133. Acesso em: 08/09/201

JARVINEN, K.M.  Variations in Human Milk Composition: Impact on Immune Development and Allergic Disease Susceptibility. BREASTFEEDING MEDICINE. Volume 13, Number S1, 2018. Disponível em:  https://www.liebertpub.com/doi/pdf/10.1089/bfm.2018.29075.kjs. Acesso em: 03/11/2019

SAMPAIO, M.M.S.C; PALMEIRA, P. Composição do Leite Humano- Aspectos Imunológicos. In REGO, J.D. Aleitamento Materno. 3° ed. São Paulo/ SP: Atheneu, 2015, p. 55-74. Disponível em: https://bv4.digitalpages.com.br/?term=aleitamento%2520materno&searchpage=1&filtro=todos&from=busca&page=73&section=0#/legacy/168174. Acesso em 23/10/2019

SANTIAGO, A. C. T; CUNHA, L.P. M. et al. Aleitamento materno em crianças nascidas pequenas para a idade gestacional e os desfechos nutricionais e metabólicos futuros: revisão sistemática. J Pediatr (Rio j).2019;95(3): 264-274. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.phppid=S002175572019000400264&script=sci_arttext&tlng=pt  Acesso em: 15/08/2019

SINGHAL, A; KENNEDY, K. et al. Nutrition in infancy and long-term risk of obesity: evidence from 2 randomized controlled trials. The American Journal of Clinical Nutrition, Volume 92, Issue 5, November 2010, Pages 11331144.Disponívelem:https://academic.oup.com/ajcn/article/92/5/1133/4597523. Acesso em: 08/09/2019

SOUSA, E.L.A; ALMEIDA, S.G. EFEITO DO ALEITAMENTO MATERNO NO SISTEMA IMUNOLÓGICO DO LACTENTE. Centro Universitário de Brasília- UniCEUB. Brasília, 2018, p. 16. Disponível em: https://repositorio.uniceub.br/jspui/bitstream/235/12681/1/21503487.pdf. Acesso em: 30/09/2019

ZEGHER, F; SEBASTIANI,G. et al. Body Composition and Circulating High-MolecularWeight Adiponectin and IGF-I in Infants Born Small for Gestational Age Breast- Versus Formula-Feeding. DIABETES, VOL. 61, AUGUST 2012. Disponível em: https://diabetes.diabetesjournals.org/content/61/8/1969.full-text.pdf.  Acesso em: 08/09/2019

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