Testículos podem servir como reservatório para vírus da covid-19, aponta estudo

Testículos podem servir como reservatório para vírus da covid-19, aponta estudo
Testículos podem servir como reservatório para vírus da covid-19, aponta estudo

Estudo desenvolvido por pesquisadores do Laboratório de Biologia Celular do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) aponta que  testículos humanos podem servir como “santuário viral” do novo coronavírus (Sars-CoV-2).

Sob coordenação dos professores Guilherme Mattos Jardim Costa e Samyra Lacerda, do Departamento de Morfologia do ICB-UFMG, e do urologista Marcelo Horta Furtado, os pesquisadores revelaram que o vírus da covid-19 usa as células imunes como possível rota de entrada para infectar os testículos de pacientes com o quadro grave da doença. 

Para o estudo, foram analisados 11 pacientes não vacinados que morreram em decorrência da covid-19  em sua forma mais severa. O vírus  foi encontrado nos testículos de todos eles.

Esse levantamento teve início quando começou a segunda onda da covid-19 em Belo Horizonte, Minas Gerais, entre os meses de janeiro e março de 2021, quando ainda não havia imunizantes disponíveis no Brasil. 

Vale destacar que o experimento combinou várias técnicas de identificação de vírus, incluindo o uso de um sensor à base de bastões de ouro minúsculos (40 nanômetros), desenvolvido por Flávio Guimarães da Fonseca, professor do Departamento de Microbiologia do ICB. 

Segundo ele,“a superfície dos bastõezinhos de ouro é recoberta com anticorpos contra covid-19. Cada vez que algo se liga a eles, o sensor emite um sinal, indicando a presença do vírus no tecido estudado”. 

Santuário viral 

A pesquisa, ainda não revisada por pares, revelou que o Sars-Cov-2 é capaz de sobreviver por mais de 25 dias nos órgãos sexuais masculinos. 

Segundo o professor Guilherme Mattos Jardim Costa, do Departamento de Morfologia do Instituto de Ciências Biológicas  da UFMG, acontece o seguinte: os órgãos acabam preservando o vírus ativo já que não são atacados por células de defesa, como acontece com a zika e a caxumba.

Em entrevista, ele disse: “o que nós conseguimos ver é que o vírus encontrado nos testículos dos pacientes analisados estava ativo mesmo depois de mais de 25 dias de internação, o que difere da constatação de que o vírus deixa de ser detectado em cerca de 10 dias. A gente chama de ‘santuário viral’, já que o testículo propicia um ambiente imunossuprimido”. 

Guilherme explicou também que o testículo é um ambiente em que o vírus é pouco reconhecido pelo sistema imune.  Isso explica, portanto, a preocupação com a possibilidade do sêmen contaminado em pacientes com covid-19 e com a demora na eliminação viral do corpo. 

E mais: ele frisa que apesar do número reduzido de amostras, o material é muito rico: “Nós fizemos análises muito acuradas o que dá uma base sólida ao estudo”.

As conclusões iniciais da pesquisa  Sars-CoV-2 infects, replicates, elevates angiotensin II and activates immune cells in human testes foram publicadas em fevereiro de 2022 na plataforma medRxivum. Trata-se de um servidor de distribuição e arquivo on-line gratuito para relatórios preliminares de trabalhos  ainda não certificados por revisão por pares e que, portanto, ainda não devem orientar a prática clínica. 

Atualmente, o  artigo passa por revisão na Revista Human Reproduction.


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Alterações nos testículos 

A mesma pesquisa também revela que o vírus provoca alterações nos testículos. Fibrose, morte de células que dão origem aos espermatozóides e redução de até 30 vezes no nível de testosterona são algumas das ocorrências.

“Nós conseguimos mostrar que o vírus promove alteração vascular que mexe com uma cascata de sinalização, desenvolvendo uma resposta inflamatória muito grande e danos do tecido, em consequência da infecção viral”, destacou o pesquisador Guilherme Mattos Jardim Costa.

O estudo ainda pretende analisar os efeitos da covid-19 moderada e leve nos órgãos sexuais masculinos.

Os pesquisadores envolvidos com o estudo reforçam a importância da vacinação contra a covid-19 e destacam que não há estudos que demonstrem o efeito da vacina sobre os órgãos sexuais. 

Além do grupo do laboratório de Biologia Geral do ICB-UFMG, também participaram desta pesquisa cerca de 30 pesquisadores do Departamento de Patologia Geral, também do ICB, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da Universidade Estadual Paulista, de universidades dos Estados Unidos, do Centro de Desenvolvimento de Tecnologia Nuclear (CDTN),  da Clínica de Fertilidade Masculina e da Rede Mater Dei de Saúde.


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Por Sanar

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