O primeiro registro sanitário da terapia gênica com células CAR-T, que utiliza células T para o combate ao câncer, é realidade no Brasil. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o medicamento Kymriah (tisagenlecleucel), da empresa Novartis Biociências.
O Kymriah é indicado para tratar pacientes pediátricos e adultos jovens (até 25 anos de idade) com Leucemia Linfoblástica Aguda (LLA) de células B e pacientes adultos com Linfoma Difuso de Grandes Células B.
Portanto, o produto será usado para terapia avançada de câncer hematológico, originado nas células sanguíneas.
No tratamento, as células T do paciente oncológico, que funcionam como “soldados defensores” do sistema imunológico, são extraídas do sangue. Elas são modificadas geneticamente com a finalidade de reconhecer o câncer e, depois, destruí-lo.
Essas células são redesenhadas em laboratório e depois devolvidas à corrente sanguínea do paciente em tratamento. Em poucas linhas, o que acontece é o seguinte: as próprias células do indivíduo são “treinadas” para combater o câncer.
Antes de ser aprovado no Brasil, o Kymriah já havia sido aprovado por outras agências reguladoras: Food and Drug Administration (FDA), nos Estados Unidos; a European Medicines Agency (EMA), na Europa; e a Pharmaceuticals and Medical Devices Agency (PMDA), no Japão.
Terapia gênica CART-T Cell
Para começar, é importante entender que a estratégia da CART-Cell consiste em habilitar linfócitos T, células de defesa do corpo, com receptores capazes de reconhecer o tumor.
A terapia genética CAR-T Cell contra o câncer foi aprovada pela FDA em 2017. Mas, estudos experimentais estão sendo desenvolvidos há mais de uma década.
Eles apresentaram, inclusive, resultados positivos em análise de caso de dois pacientes, publicada na conceituada revista Nature, em fevereiro de 2022.
“As células CAR-T permaneceram detectáveis por mais de dez anos após a infusão, com remissão sustentada em ambos os pacientes”, explica Carl H. June, há anos à frente das pesquisas sobre o tratamento junto com outros pesquisadores.
Essa afirmação destaca que o tratamento funcionou nos casos relatados. Ou seja, o câncer não retornou nos pacientes avaliados.
Como funciona
A terapia genética CAR-T Cell funciona assim:
- Cientistas modificam o DNA de um vírus;
- Células de defesa são retiradas da corrente sanguínea do paciente e infectadas com o vírus ;
- A partir da atividade descrita acima, os materiais genéticos das células retiradas e do vírus se misturam;
- Com esse novo DNA, a célula de defesa produz uma estrutura que ajuda a identificar o tumor que está se desenvolvendo no paciente;
- Em laboratório, cientistas aumentam o número dessas células modificadas;
- A partir daí, os médicos “ derrubam” o sistema imunológico do paciente, para que essas novas células possam atuar;
- Então, as células modificadas são injetadas na corrente sanguínea do paciente;
- Elas chegam ao organismo e o sistema imunológico passa a identificar o tumor, podendo destruí-lo.
Tratamento para câncer: veja história que deu certo
Um dos pacientes do estudo publicado pela Nature é Doug Olson, hoje com 75 anos, morador de Pleasanton, na Califórnia (EUA) . Ele teve sua vida transformada quando, em 2010, tratou sua leucemia com a ajuda da terapia genética experimental. Mais de dez anos se passaram e não há nenhum sinal do câncer em seu corpo.
Em relato compartilhado no G1, ele diz: “Estou muito bem agora. Ainda sou muito ativo. Eu estava correndo meias maratonas até 2018”. E mais: “Isso é uma cura. E eles não usam a palavra levianamente.”
Os médicos de Olson, autores do estudo citado, afirmam que este caso e o de outro paciente mostraram que a terapia em questão ataca o câncer imediatamente, mas também pode permanecer dentro do corpo por anos e manter a doença sob controle.
“Nós podemos concluir que as células CAR-T podem realmente curar pacientes com leucemia“, destaca Carl H. June, um dos pesquisadores. A afirmação é feita com base em estudos realizados em mais de uma década.
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