Transtorno de ansiedade social: breve descrição e possíveis tratamentos | Colunista

Os diferentes transtornos de ansiedade representam um grave problema de saúde e sua manifestação é variada, tanto em seus sintomas, quanto nas formas como afetam o cotidianos daqueles por eles acometidos. Uma descrição geral dos transtornos de ansiedade já foi realizada em outro texto sobre Transtorno do Pânico, para fins complementares, listarei abaixo os transtornos relacionados ao medo ou a ansiedade com base no CID-11

  • Transtorno de ansiedade social;
  • Transtorno de ansiedade generalizada;
  • Agorafobia;
  • Transtorno do pânico;
  • Fobia especifica;
  • Transtorno de ansiedade de separação e;
  • Mutismo seletivo.

O transtorno de ansiedade social (TAS), também conhecido como Fobia social, faz parte do grupo de transtornos de ansiedade e se caracteriza principalmente pelo medo ou a ansiedade intensos em situações sociais onde há uma possível avaliação por parte de outras pessoas (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014). 

Uma avaliação realizada pelo National Comobidity Survey Replication Study com 9 mil pessoas não institucionalizadas nos EUA chegou a uma prevalência de 12,1% para TAS em algum momento de suas vidas (KESSLER et al., 2005). Dados mais conservadores sugerem números menos expressivos, NARROW et al. (2002) chegaram a uma prevalência de 4% ao longo da vida para TAS, o DSM-5 aponta 7% de prevalência na população americana (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014).

No brasil, os dados apontam uma estimativa de 7,8% de prevalência para TAS a partir de uma amostra composta por 116 alunos com idade média de 12,5 anos na cidade de São Paulo (D’EL REY; PACINI; CHAVIRA, 2006). Um estudo de Andrade et al. (2002) forneceu uma estimativa de prevalência de 3,5% em uma amostra adulta na cidade de São Paulo. 

Apesar dos números expressivos, é possível que pessoas com TAS tenham seus sintomas diminuídos ou confundidos com caracteristicas não necessariamente patológicas, como timidez, dificuldade de comunicação e personalidade introvertida. A literatura descreve bem os impactos negativos que o TAS tem sobre várias dimensões da vida do sujeito, desde os relacionamentos amorosos e de amizade até dificuldades profissionais e educacionais. 

Um estudo de Sanderson et al. (1990) afirma que 50% dos indivíduos com TAS nunca se casaram, além disso, pessoas com o transtorno também informaram ter amigos com menos frequência (RODEBAUGH, 2009). No contexto profissional, pessoas com TAS tiveram maior probabilidade de trabalhar em empregos abaixo do seu grau de formação, quando comparados com indivíduos não ansiosos (BRUCH; FALLON; HEIMBERG, 2003)

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TRATAMENTOS

A literatura descreve resultados positivos sobre a eficácia que uma combinação de intervenção farmacológica e psicoterápica baseada em Terapia cognitivo-comportamental (TCC) tem sobre os sintomas da TAS. Outras intervenções psicoterápicas foram investigadas, mas a TCC demonstrou maiores efeitos em comparação a psicoterapia psicodinâmica e outras intervenções psicológicas (MAYO-WILSON et al., 2014)

O modelo cognitivo para o TAS é descrito conforme os pensamentos automáticos levam a uma distorção da realidade e de si mesmo, pensamentos de inadequação e o medo constante de criticas e julgamentos diante de situações sociais. Essa distorção leva pessoas socialmente ansiosas a perceber situações sociais como inerentemente ameaçadoras, levando a insegurança e a comportamentos de esquiva. 

Essa imagem distorcida que o sujeito socialmente ansioso tem sobre si e os contextos sociais é principalmente atribuída a eventos adversos em sua história de vida, acontecimentos onde houve um julgamento social negativo e expresso na forma de humilhação e agressões, por exemplo (HACKMANN; CLARK; MCMANUS, 2000).

Dentro desse modelo, ITO et al. (2006) afirmam que essas crenças de inadequação social levam a uma interpretação da realidade onde os estímulos neutros são frequentemente vistos como negativos, enquanto estímulos positivos são ignorados.

A psicoterapia baseada em TCC descreve algumas formas de intervir diante das caracteristicas do TAS e da forma como seu modelo cognitivo é proposto, essas intervenções se baseiam essencialmente em técnicas cujo objetivo é ajudar o individuo no enfretamento de situações sociais e na mudança das crenças e dos pensamentos que o levam a interpretar situações sociais conforme descrito no supracitado modelo cognitivo. 

A lista de técnicas e procedimentos descritas na literatura científica é extensa (D’EL REY; PACINI, 20ITO et al., 2006; MAYO-WILSON et al., 2014), exemplos bem documentos são:

  • Psicoeducação;
  • Promoção de exercícios físicos;
  • Terapia de exposição;
  • Treino de competências sociais e de assertividade;
  • Intervenções cognitivo-comportamentais em grupo;
  • Intervenções cognitivo-comportamentais individuais;
  • Manejo de estresse e relaxamento;
  • Reestruturação cognitiva e;
  • Tarefas de casa.

Vale ressaltar que a terapia de exposição vem ganhando forças no tratamento da TAS com o uso de aparatos tecnológicos, como o uso da realidade virtual (ANDERSON et al., 2013)

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

As estimativas de prevalência para TAS, os sintomas brevemente descritos e a forma como o transtorno é popularmente confundido com traços comuns de personalidade e com timidez denunciam o quanto é um grave problema de saúde mental. Por vezes ignorada, a divulgação de informações confiáveis e o aconselhamento com profissionais são poderosas ferramentas de conscientização.

O diagnóstico realizado por um profissional é essencial para o desenvolvimento de um tratamento adequado, afim de minimizar os sintomas, ajudar o paciente a lidar com o transtorno e diminuir o sofrimento. Vale salientar que as informações contidas neste texto são puramente didáticas e não substituem o atendimento e a orientação profissional.

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REFERÊNCIAS

AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION et al. DSM-5: Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. Artmed Editora, 2014.

ANDERSON, Page L. et al. Virtual reality exposure therapy for social anxiety disorder: a randomized controlled trial. Journal of consulting and clinical psychology, v. 81, n. 5, p. 751, 2013.

ANDRADE, Laura et al. Prevalence of ICD-10 mental disorders in a catchment area in the city of São Paulo, Brazil. Social psychiatry and psychiatric epidemiology, v. 37, n. 7, p. 316-325, 2002.

BRUCH, Monroe A.; FALLON, Melissa; HEIMBERG, Richard G. Social phobia and difficulties in occupational adjustment. Journal of counseling psychology, v. 50, n. 1, p. 109, 2003.

D’EL REY, Gustavo J. Fonseca; PACINI, Carla Alessandra. Terapia cognitivo-comportamental da fobia social: modelos e técnicas. Psicologia em estudo, v. 11, n. 2, p. 269-275, 2006.

D’EL REY, Gustavo J. Fonseca; PACINI, Carla Alessandra; CHAVIRA, Dionísio J. Fontes. Fobia social em uma amostra de adolescentes. Estudos de Psicologia (Natal), v. 11, p. 111-114, 2006.

HACKMANN, Ann; CLARK, David M.; MCMANUS, Freda. Recurrent images and early memories in social phobia. Behaviour research and therapy, v. 38, n. 6, p. 601-610, 2000.

ITO, Lígia M. et al. Terapia cognitivo-comportamental da fobia social. Brazilian Journal of Psychiatry, v. 30, p. s96-s101, 2008.

KESSLER, Ronald C. et al. Lifetime prevalence and age-of-onset distributions of DSM-IV disorders in the National Comorbidity Survey Replication. Archives of general psychiatry, v. 62, n. 6, p. 593-602, 2005.

MAYO-WILSON, Evan et al. Psychological and pharmacological interventions for social anxiety disorder in adults: a systematic review and network meta-analysis. The Lancet Psychiatry, v. 1, n. 5, p. 368-376, 2014.

NARROW, William E. et al. Revised prevalence estimates of mental disorders in the United States: using a clinical significance criterion to reconcile 2 surveys’ estimates. Archives of general psychiatry, v. 59, n. 2, p. 115-123, 2002.

RODEBAUGH, Thomas L. Social phobia and perceived friendship quality. Journal of anxiety disorders, v. 23, n. 7, p. 872-878, 2009.SANDERSON, William C. et al. Syndrome comorbidity in patients diagnosed with a DSM-III—R anxiety disorder. Journal of Abnormal Psychology, v. 99, n. 3, p. 308, 1990.

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