Gerontologia, violência e plano de cuidado | Colunista

Segundo a Política Nacional de Redução da Morbimortalidade por Acidentes e Violências, a violência contra idosos ocorre através  de  A) abusos  físico, psicológico,  sexual  e  financeiro;  B) abandono;  C) negligência;  e D)  autonegligência (BRASIL, 2005)

O distanciamento social na atual pandemia gerou o aumento da violência domiciliar no Brasil, sendo os idosos especialmente vulneráveis devido à diminuição da renda familiar, à insuficiência de políticas públicas de garantia de direitos e ao ageísmo (MORAES et al., 2020).

Junte-se a mais de 5.000 estudantes e profissionais que já assinam o Sanar Saúde +, plataforma de estudos em Saúde mais completa do mercado!

O distanciamento social e políticas de proteção social

O distanciamento social precisa ser incentivado em uma pandemia e, além disso, políticas de proteção social são imperativas em período de crise, o que requer ações governamentais imediatas que priorizem o direito à vida ao invés dos interesses econômicos (MORAES et al., 2020).  

A violência contra a pessoa idosa representa um problema de saúde pública de complexa administração, sendo fundamental conhecer os fatores associados a cada tipo de violência, para possibilitar a criação de políticas públicas baseadas em evidências, fundamentadas (SANTOS et al., 2020).  

A violência contra idosos é, portanto, um fenômeno multifatorial com variados fatores associados:  idade, sexo, estado civil, nível de educação, renda, arranjo familiar, relação familiar, suporte social, solidão, transtorno mental, depressão, dependência para atividades de vida diária (AVD) (SANTOS et al., 2020).  

Ao se observar o fator “idade”, a notificação da  suspeita de violênciaem idoso  longevo  torna-se mais complexa,  tendo  em  vista  as  limitações  de comunicação naturais  da  idade, além das demências e das incapacidades  físicas  e  psicológicas;  podendo haver casos de negligência pelos cuidadores  ou  pessoas  próximas (SANTOS et al., 2020).

A negligência consiste em privar a pessoa da assistência de que pre­cisa. Refere-se à recusa ou à omissão de cuidados adequados e ne­cessários aos idosos pelos responsáveis familiares ou institu­cionais (e.g. deixar o idoso passar fome ou sede, privar o idoso de medicamentos) (DELFINO, 2019).

Gostou desta matéria? Dê o próximo passo de sua carreira com os livros e cursos preparatórios da Sanar Saúde!

Como o profissional da saúde pode auxiliar no enfrentamento da violência ao idoso?

Somente uma atuação em rede pode reduzir o problema, portanto os profissionais da saúde devem incluir a prevenção e o combate à violência em seu plano de cuidado (DELFINO, 2019). Dessa forma, a equipe de saúde bucal deve incluir tal conduta em sua avaliação do idoso com o objetivo de identificar possíveis sinais de violência, pois a avaliação da cavidade bucal é uma importante ferramenta para identificação de sinais da violência.

Incluindo “prevenção e combate à violência” no plano de cuidado de saúde bucal

Os cuidados de saúde bucal são, frequentemente, negligenciados por cuidadores formais e informais.  Mesmo idosos com capacidade funcional preservada precisam ser orientados e avaliados, periodicamente, para manutenção da saúde bucal, com consequência direta na saúde sistêmica e mental.  Sinais de violência podem estar presentes na cavidade oral, colocando a equipe de saúde bucal em posição fundamental na identificação da violência ao idoso.

Junte-se a mais de 5.000 estudantes e profissionais que já assinam o Sanar Saúde +, plataforma de estudos em Saúde mais completa do mercado!

Sinais de violência observados na cavidade bucal:

A) Sinais de agressão física (e. g.  hematoma, queimadura, úlcera traumática);  

B) Desidratação: observada através do aspecto da mucosa e da língua;

C)  Desnutrição:  observada através do aspecto da mucosa e da língua;

D) Higienização bucal precária, presença de cárie, restos radiculares, doença periodontal, estomatite protética, câncer bucal podem ser sinal de negligência e autonegligência, com repercussão direta na saúde sistêmica, na saúde mental e no bem-estar;

E) Sinais de violência autoinfligida. 

O que fazer quando há suspeita de violência?

A obrigatoriedade de notificar a suspeita é clara, mas a legislação brasileira não dispõe de uma boa orientação aos profissionais da saúde.  Por isso, treinamento e articulação entre os profissionais envolvidos (e.g. profissional da saúde, assistente social, advogado, psicólogo) são necessáriospara um trabalho efetivo na prevenção e no combate à violência (DELFINO, 2019).

É importante destacar que, após a notificação da suspeita de violência, é necessária uma investigação para a confirmação da suspeita pelos profissionais competentes. Os casos de violência envolvem, geralmente, a família, o agressor e a pessoa agredida e, por isso, deve-se considerar a complexidade do caso para decidir o caminho de intervenção a ser seguido, a fim de prevenir situações de lesão grave e morte (DELFINO, 2019).

Os Centros de Referência Especializados em Assistência Social (Creas) oferecem serviços para a defesa dos ido­sos e a atenção às denúncias de violência. Os Creas são vinculados à secretaria de assistência social da cidade e possuem profissionais habi­litados para o esclarecimento das dúvidas.

A identificação e a notificação de violência auxiliam o desenvolvimento de estratégias de prevenção, visto que há uma grande lacuna no conhecimento sobre prevenção de violência contra idosos (DELFINO, 2019).  

Somente com uma atuação intersetorial e em rede é possível reduzir a ocorrência da violência ao idoso, mais evidente em tempos de crise sanitária, política, econômica e ética como a que estamos vivenciando (MORAES et al., 2020)

Matérias relacionadas:

Referências

BRASIL.  Ministério da Saúde.  Secretaria de Vigilância em Saúde.  Departamento de Análise de Situação de Saúde.  Política nacional de redução da morbimortalidade por acidentes e violências:  Portaria MS/GM n.º 737 de 16/5/01, publicada no DOU n.º 96 seção 1E de 18/5/01.  2. ed.  Brasília:  Editora do Ministério da Saúde, 2005.

DELFINO, L.L.  Violência na velhice.  In:  Revolução da longevidade e a pluralidade do envelhecer.  São  Paulo:  Editora  Senac  São  Paulo,  2019. p.45-63.

MORAES, C.L.; MARQUES, E.S.; RIBEIRO, A.P; SOUZA, E.R. Violência contra idosos durante a pandemia de COVID-19 no Brasil: contribuições para o seu enfrentamento.  Ciência & Saúde Coletiva; v. 25, suppl. 2, p.4177-4184, 2020.

SANTOS, M.A.B.; MOREIRA, R.S.; FACCIO, P.F.; GOMES, G.C.; SILVA, V.L.  Fatores associados à violência contra o idoso:  uma revisão sistemática. Ciência & Saúde Coletiva. v.25, n.6, p.2153-2175, 2020.

Por Sanar

Existimos para empoderar e dar superpoderes aos profissionais da Saúde. Atuamos de forma mais direcionada com 7 áreas da Saúde: odontologia, psicologia, enfermagem, farmácia, fisioterapia, nutrição e medicina veterinária. Queremos ser a Casa da Carreira do profissional da Saúde e acompanhá-lo ao longo de toda a sua jornada: desde a faculdade até o auge da sua maturidade profissional, oferecendo todo o suporte necessário para que possa ir mais longe e mais rápido em sua carreira. Nós acreditamos, e você?