Dois anos já se passaram desde o início da pandemia da covid-19. De lá para cá, o que mudou para médicos e equipe multiprofissional? Quais são os impactos vividos ainda hoje? Hoje vamos falar sobre a sobrecarga dos profissionais de saúde no Brasil.
Sobrecarga dos profissionais de Saúde
Muitas vidas ficaram para trás e a dor tomou conta de milhares de famílias. Profissionais de saúde não ficaram imunes a todo esse contexto. Pelo contrário, mais expostos ao vírus, tiveram suas rotinas viradas de cabeça para baixo. Longe de familiares, isolados, ao passo que viviam dias exaustivos de um trabalho sem fim.
Foram incontáveis o número de profissionais de saúde que perderam suas vidas. Os que resistiram, convivem ainda hoje com impactos desse período. No decorrer de dois anos, foram diferentes variantes e muitas incertezas.
Nem mesmo a adesão às medidas de combate e controle ao vírus e os diversos lockdowns evitaram a pressão nos hospitais e unidades de saúde. Sem eles, o cenário seria ainda mais trágico.
A falta de insumos, como respiradores, entre outros, tornou a rotina de profissionais de saúde um verdadeiro caos. A cada flexibilização, então…
Exaustão ao extremo
Em entrevista dada ao BBC News Brasil, o psiquiatra Helian Nunes, um dos idealizadores do projeto Telepan Saúde, que desde o início da pandemia oferece sessões de aconselhamento psicológico gratuito (e online) a profissionais de saúde do Brasil, revelou uma triste realidade:
“O que temos escutado é que existe uma grande sensação de exaustão – de profissionais de saúde dizendo ‘não é possível. Vou ter que tirar férias, não vou aguentar’, ao verem as emergências cheias novamente.”, conforme apontado em matéria veiculada pelo Portal.
A matéria também citou uma pesquisa realizada pela Escola de Administração de Empresas da FGV-SP, que se comprometeu a ouvir profissionais de saúde pública do País desde abril de 2020, auge da Covid-19 no País. O resultado mais recente foi divulgado em outubro de 2021.
Gabriela Lotta, professora de Administração Pública e Governo da FGV, é uma das profissionais à frente do estudo. Sobre o que a pesquisa revela, apontou: “eles estão lá em condições muito ruins de saúde física e mental, e com a sensação de falta de apoio de políticas públicas e uma esperança de normalidade que se perdeu.”
De acordo com ela, a sensação de solidão é muito forte. Com as vacinas, a realidade veio mudando. Mas, eis que chegam a ômicron e o H3N2. Sem descanso, muitos profissionais seguem suas rotinas com exaustão acumulada e hospitais cheios.
Tirando o fato de que muitas pessoas não querem se vacinar, o que contribui para a disseminação da Covid-19 e para o agravamento da doença, responsável por sobrecarregar as unidades de saúde.
Em meio a tanto estresse, vem o burnout.
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Burnout em profissionais de Saúde
Traduzindo, burnout significa esgotamento. A Síndrome de Burnout, no entanto, é caracterizada pelo esgotamento físico e mental associado ao trabalho. É quando a gente fica sem bateria e, realmente, pifa.
O problema é cada vez mais comum. Prova disso é que a Organização Mundial da Saúde (OMS) passou, oficialmente, a considerar o burnout uma doença ocupacional. A mudança entrou em vigor no dia 1º de janeiro de 2022.
E, vale frisar: segundo a entidade, o termo burnout não deve ser usado em outras áreas da vida – só vale para questões ligadas ao trabalho.
O trabalho do profissional de saúde é cheio de responsabilidade, o que causa tensão. É também comum ele ter que trabalhar sob pressão, tomando decisões sérias e se privando de aspectos importantes da vida pessoal para estar ali, cumprindo sua missão.
Mas, com a pandemia, isso foi levado a um nível, muitas vezes, desumano. A responsabilidade aumentou, o tempo de trabalho subiu e, tudo isso, paralelamente ao fato de ter que conviver de perto com um vírus letal, sem brechas para vida social e pessoal, num ambiente de dor e medo.
Por isso, a saúde física e mental do profissional de saúde merece atenção. Vamos aos sintomas do burnout.
Sintomas do burnout
Exaustão, menor identificação com o trabalho e sentimento de queda na capacidade profissional. Esses são os aspectos mais comuns dessa síndrome que, muitas vezes, atrela-se à depressão.
Entre os sintomas mais recorrentes, estão:
- Dor de cabeça frequente;
- Alterações no apetite;
- Insônia;
- Dificuldades de concentração;
- Negatividade;
- Apatia
As principais causas do burnout são a tensão emocional e o estresse rotineiro, crônico, vividos numa rotina desgastante no ambiente profissional.
Fatores ambientais, por si só, já podem contribuir para aumentar o estresse e causar exaustão. No contexto da pandemia, isso fica ainda mais complicado.
Em hospitais, por exemplo, esses são alguns pontos que podem acelerar o burnout: estrutura física do hospital, presença ou não de recursos humanos e materiais, carga horária, funções a serem desempenhadas, estrutura organizacional, metodologias utilizadas.