O consumo de opioides no Brasil precisa ser debatido. De um lado, temos o paciente que resiste em aceitar o uso; do outro, o médico com suas dificuldades em prescrevê-los. E, por fim, além do estigma, há o quadro oposto: o da dependência de opioides.
A taxa de consumo de opioide na América Central e América do Sul é de aproximadamente 2%. Para entendermos o contexto global, vale frisar que países desenvolvidos como EUA e Canadá apresentam um quadro preocupante. A prescrição de metadona ilustra bem: ela cresceu 933% entre 1997 e 2005 nos Estados Unidos.
Graças às políticas de monitoramento, o consumo de opioides na região tem reduzido. Mas, entre 2016 e 2018, países da América do Norte ainda eram responsáveis por cerca de 60% do consumo de opioides em todo o mundo.
Enquanto isso,por aqui os medicamentos são os principais agentes causadores de intoxicação. E, como as as informações sobre intoxicação medicamentosas no Brasil estão em vários sistemas de
informação, é difícil ter um quadro claro e detalhado sobre a situação no dia a dia.
Dependência de opioide no Brasil
Estudo disponibilizado pela American Journal of Public Health, em 2018, revelou que houve um aumento significativo na prescrição de opioide no País. A iniciativa avaliou as prescrições entre 2009 e 2015
Vale saber que a codeína é o opioide mais utilizado. Ela corresponde a cerca de 98% das prescrições. Outro dado relevante é que a oxicodona, que representa menos de 1% desse total, teve o maior aumento proporcional (de 0,07 para 0,8 prescrições por 1000 pessoas (RR = 11,39; 95% IC = 11,18 – 11,59).
O estudo contemplou dados obtidos a partir da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) sobre codeína, fentanil e derivados (alfentanil e remifentanil) e oxicodona.
Opióides
Os opioides são uma classe de drogas derivadas da papoula do oriente (e inclui também suas variações sintéticas). Eles têm efeito analgésico e são altamente suscetíveis ao uso indevido, por isso a preocupação quanto ao consumo inadequado.
Explica muito o fato de que, além de aliviarem a dor, os opioides provocam uma sensação exagerada de bem-estar e, quando usados em excesso, podem levar à dependência.
O uso exagerado pode levar a uma parada respiratória e ser fatal. Vamos falar agora sobre dois opioides bem comuns, citados acima:
A codeína é um analgésico oral muito usado para tratamento de dor aguda e crônica, principalmente, em quadros pós-operatórios.
Ela faz parte do grupo de opioides e é usado como antitussígeno. Boa parte da codeína utilizada para fins médicos é preparada por meio da metilação da morfina.
A Oxicodona é utilizada para o tratamento de dores moderadas a severas. Ela é considerada um opioide altamente viciante.
Prescrição segura de opioides
O fato é que o opioide é padrão-ouro no tratamento de dor oncológica. Isso sem dizer de outros tipos de dores, principalmente, de forte intensidade, como as neuropáticas e musculoesqueléticas.
Ou seja, trata-se de algo necessário, desde que seu uso seja feito de forma responsável.
Em primeiro lugar, é preciso acessar a documentação completa do paciente com avaliação da dor, quadro clínico geral, história psicossocial, condições psiquiátricas.
Além disso, é preciso saber sobre eventual abuso de substâncias ilícitas e, claro, ter assinatura do termo de consentimento.
Para rastrear pacientes pertencentes a um grupo de risco de adição, é possível usar o Opioid Risk Tool (ORT). Ele classifica os pacientes de baixo, moderado ou alto risco para abuso de opioides.
A ORT é uma importante ferramenta para avaliar o histórico do paciente e de seus familiares, levando-se em conta questões como: alcoolismo, tabagismo, abuso de drogas (ilícitas ou não), idade, histórico de abusos sexuais, histórico de transtornos mentais e depressão.
Dessa forma, ela permite melhor monitoramento, oferece subsídios para outra forma de tratamento ou até mesmo para associações de tratamentos (farmacológicos e não farmacológicos).
Como o tema é complexo e carece de atenção por parte de todos os profissionais de saúde, vale citar a importância da educação continuada. Assim como de políticas públicas que disseminem recomendações cientificas nacionais.
Tudo, claro, para estimular e orientar sobre o uso correto dos opioides, que têm um papel muito importante no tratamento dos pacientes.
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